quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Fahrenheit desafiando o avanço tecnológico


Reflexões sobre a pós modernidade na obra de um termômetro de rua


A modernidade estraga relações. Os celulares exaltam compromissos inadiáveis e revelam segredos escondidos. As cartas não tem perfume, nem lembrança. Saltam da tela as letras de antes, sem cheiro entretanto. E os desencontros, infortúnios e pequenas desavenças, conflito quase armado. O moderno é impetuoso, rápido, célere, superfície.


Ainda as idéias confusas e insistentes. Da noite anterior. Dos inevitáveis incidentes entre dois. Do diálogo imperfeito. Percebeu que dois monólogos não se concatenam. Dos incidentes, os medos. Os velhos traumas. As ansiedades. As expectativas. O dia seria longo, numa fusão de raiva e arrependimento. E de noite dormida aos pedacinhos, num acorda e dorme irritante e cansativo.


Mas fazia um calor absurdo. Um calor de derreter as idéias mais chatas. Aquela quentura que entra pela janela e se instala pela sala toda. Por todos os lados. Como se o dia tivesse uma cor avermelhada. O suor pela face. Os corpos molhados. E as idéias se misturam. E aquele calor, o suor e o pensamento fixo na história deles. E um calafrio pela espinha lembrando da outra noite, também não dormida. Um arrepio. E as idéias confusas viram idéia fixa.



Fixa entre dois corpos, que mais que tudo são dois. E se complementam. E divergem. O suor, a vontade, o calor, o úmido e o constante. Boca ressecada, carne trêmula. Como o filme de Almodovar, que ele não gosta. Mas da cena, sim. Inevitável. E dos incidentes, dos monocórdios, dos receios e dos ressentimentos, a lembrança que tudo poderia ser resolvido. Ou adiado, entre corpos.



E aproveitando a modernidade mandou uma mensagem para o celular dele: "Quero você.". Ele sem titubeios, respondeu. Via mensagem eletrônica, instantânea, num átimo: "Em casa, 21hs. Venha de saia.".