terça-feira, 28 de maio de 2013

Loja de Miudezas




Desde o último domingo, 26 de maio, ocorre na unidade Santo Amaro, do Sesc, a exposição "Tuiteratura": Textos feitos em até cento e quarenta caracteres - a regra de concisão do tuíter.

Desde que entrei no tuíter, para brincar e para divulgar o que escrevia por aqui nesta mercearia numa outra ferramenta, comecei a brincar de "tentar" contar estórias e histórias no formato proposto. No começo, as cousas saem ingênuas e a tentação é tentar rimar. Rimas não são fáceis... porém.

Percebi que o grande e estupendo barato desses escritos, os tais #microcontos é a brincadeira com o texto... o de revelar, desvelar, só um pedaço das histórias, deixando para o leitor, no ar, na intuição, as possibilidades de enredo.

Diria, então, numa filosofada de botequim, que os tais #curtacontos são pequenos retratos... quem acaba, ao começo e ao fim, desenhando a história é o leitor.

E comecei a escrever bastante #microcontos. Alguns eu gosto muito.

Tive a honra de ter oito tuítos selecionados para a Mostra!!! Foi muito bom ver essas especiarias expostas por lá.

E como bom leonino, então, resolvi recuperar os outros tuítos... esparsos e espalhados por aí. Não é tarefa fácil, porque eu nunca tinha me preocupado em salvar esses trens em alguma gôndola especial...

Então fui lá e baixei tudo o que escrevi no passarinho e preencherei as prateleiras daqui com os tais #microcontos...

Os quitutes estarão expostos por aqui, portanto.

Antes, porém, um mega abraço e agradecimento para a Giselle Zamboni, uma sonhadora repleta, que se apaixonou pelos pequenos textos no tuíter, uma paixão tão arrebatadora que a fez criar esquinas literárias por lá, como a #Letras365. O resultado? Esta paixão moveu muitos tuitocontistas, poetas, narradores, brincantes. E uma parte deste movimento está sendo exposta na mostra de #Tuiteratura. Cousa boa, que aquece.

Elegante, sem dúvida.


Cá estão os primeiros! Espero que gostem.
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Teve ideia originalíssima de #microcontos: Tuitou versinho para a amada, esperou beijo de cinema. Sobrou um tuíte bem vagabundo. 
10. agosto, 16.



Era aluno de segundo grau. Tiveram muito medo dos disparos quando descobriram que ele era um tuiter serial.... #microcontos 
10. agosto, 16.


Demorou demais para entender que não se fazia bom omelete sem quebrar ovos e o que restou, enfim, foi só o enxofre do ovo podre.
10. agosto, 16



Não vendo sonhos, mas gostaria de partilhá-los. #versificados (uma outra hashtag, muito utilizada pelo @arautonho em seus deliciosos versos)
10. agosto, 21.




Tinha um gato no meio do caminho.Tinha um gato no telhado.Tinha um gato pendurado no telhado.Tinha um gato, caindo do telhado.E agora, José??
10. agosto, 24.



Boa noite, poeta, @AgneloRoneberg. Um tuitoconto: "O difícil em SP é respirar. Não só o ar, mas os ares. Por aqui, não é o fado: enfado." (@AgneloRoneberg é desses tuitocontistas geniais, parceiro de boemias, de cálices de porto em tuíto madrugadas, ele em Portugal.)
10. agosto, 24.


Tuitava causos, piadas, poemas. Não gostava era de política. Até que um dia proibiram o tuíte. Era tarde, desconfiou. E já estava sozinho.
10. agosto, 30.



Antes, gostava do trabalho. Depois, o trabalho virou ganha pão. Só depois, então, virou cefaleia, pressão alta e enfarte. Era segunda feira. 
10. agosto, 30.



Sabia como poucos o tal ponto fraco. E foi lá esmiuçar, cutucar. Virou prazer, virou brincadeira. Conseguiu o óbvio: nunca mais se falaram.
10. agosto, 30.



Desconfiava da traição pelos tuítes desbravados. Começou a seguir, ""trollar"", ofender. Ela foi embora. E ele foi bloqueado. #microcontos"
10. setembro, 21.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Fígado em Três Cores

Os fantasmas se divertem

Foi linda a vitória, aquela cantilena, toda a sorte de elogios e elegias e uma infinidade de eteceteras e tals.

 

Tomamos uma sonora e solapante tunda no jogo de ontem. Resultados assim deixam qualquer comentário sobre o time do outro com cara de pum na sala, com jeito de curió depenado, com esparadrapo no costume.

 

Sim, ganharam, levaram e não tem muita cousa para falar.

 

Mas o futebol mágico, o resplendor tático, a lousa, tudo isso passa. Até o acre da derrota, passa. A boa fase alheia, passa. A nossa sorte é esta efemeridade. O tabu de hoje passa, assim como o tabu de ontem, contra ou a favor.

 

Só há uma cousa que para o torcedor não tem fim, levaremos para o paletó de madeira ou junto com as cinzas...: o nosso time, aquele que escolhemos nalgum dia da vida e que ficam, marcam, tatuam.

 

Portanto, aos que torcem, estes querem o inferno. Por isso vomito quando os jornalistas esportivos, todos travestidos de neutros, teimam com suas baboseiras acerca de "planejamento", "calendário", "a coragem de manter treinador", "projeto". No inferno, o baile é com o capeta e a labareda redime.

 

O São Paulo tem jogado pedrinhas em todos os jogos decisivos. Todos. Não ganha clássico e quando ganha é jogo de quinta feira, que decide o troféu do nono lugar ou, quem sabe, a melhor campanha duma primeira fase ou dum segundo turno, quando já se morreu no anterior. Ontem, pela primeira vez em algumas dessas derrotas, perdemos de forma retumbante, sem contestações: não houve juíz, polêmica e contusões para além dos já contudidos. Não houve aquela sensação terna tão comum aos sãopaulinos recentemente de que o "time até que jogou bem" ou, a mais pérfida, "jogamos até um pouco melhor do que o outro".

 

Aproveitemos, portanto, o sabor desta derrota para ver se saímos deste rame-rame. "Mas vocês ganharam a Sulamericana", dirá algum desses desavisados de coração. Sim, ganhamos quase que por obrigação numa finalíssima pela metade contra um time meia boquíssima. Talvez reconhecer este dilema existencial nos leve a algum divã capaz de entender as razões destes fracassos decisivos, este medo do gozo, esta incapacidade ao infinito que nos assola desde o fim do tricampeonato - basta lembrar da campanha heróica da era Ricardo Gomes, onde saímos do fundo do poço, fomos chegando, passamos e na reta final perdemos de Goiás e Botafogo e deixamos escapar um impossível tetracampeonato nacional, fato que nenhuma outra agremiação do céu, da terra e do inferno poderia chegar neste plano espiritual.

 

Deixemos as fitas, os embaraços, as pilhérias. Elas vão. O time, este fica. Lá no fundo da alma todos nós escolheremos e nomearemos nossos vilões mais como forma de cachaça, quando sabemos que a enfermidade está na alma. Não acho crível alguém que torça defender, por exemplo, que Nei Franco fique. Mas entendo que isso está longe de ser a solução do problema.



Fiquemos então com nossos fantasmas. Até a estréia do próximo brasileiro.

Publicado originalmente n`OsBolonistas.

13. maio, 09.