sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sobre a redução da maioridade penal: NÃO!!!


Todo mundo que tem lá seus quarenta anos, um pouco mais ou pouco menos, assistiu ao filme “Footloose”, na versão original com o Kevin Bacon. Deve, aliás, ser o primeiro filme que vem a cabeça naquela brincadeira do “Seis passos para Kevin Bacon”... O filme é fraquinho, mas tem seus momentos, uma cena de dança memorável e um dos personagens mais importantes para se entender o “homem moderno” de Neandertal: o pai da “mocinha rebelde” do filme, interpretado pelo John Lithgow (o hilário ET pai na série “3rd rock from the sun”).


O pai da mocinha é o pastor da cidade, uma espécime de zelador dos bons costumes e da moral. É ele a autoridade moral que impede a realização de um baile, por achar pecaminoso, cabeça vazia morada do diabo. As justificativas morais e religiosas do pastor são todas rasas, mas baseadas na suposta autoridade e nas “boas intenções” em se proteger o rebanho. Um cidadão autoritário, que se impõe por causa de aparências e que teme que um simples baile possa contaminar toda esta equação que mantém a paz e a tranquilidade na pacata cidadezinha americana de classe média do filme. Não importa que a vida seja uma merdinha, levanta cedo, trabalha, pausa para o almoço, trabalho, volta para casa, jantar feito pela esposa, televisão, boa noite, escovar os dentes, pantufa e dormir.


Mas o tal pai sintetiza o pensamento médio, meridiano, merdinha de boa parte da cidadela do filme. A importância da personagem mora neste quesito: E de boa parte da sociedade fora do filme. Sim, a vidinha de merda, desde que mantidas a televisão e o jantarzinho feito pela esposa, pode variar aqui e ali, um cereal no café, um radicalismo no uso de chinelas ao invés de pantufas – os mais radicais até ousam andar pela casa descalços, mas no fundo este é o ideal de vida. E preces, com loas, para as virtudes todas que esta cena transborda, aviva, transcende.


Enquanto o país assiste ao coro do deputado falastrão na comissão de direitos humanos, percebemos que boa parte da rusga é em razão do tal deputado ser um boquirroto, um boca aberta, como se ele não tivesse medo de defender a merdinha, sem pudores, sem escusas, sem falsas máscaras. Ele é o pai de “Footloose”, mas caricato. Essa caricatura machuca, porque nos obriga a olhar para nossos conceitos... E como são conceitos de merda, os nossos. Sim, há pessoas que estão de fato indignadas, emputecidas, com nojo da situação. Mas, sincera e honestamente, quando os jornais afirmam categoricamente que o “tal deputado tem declarações polêmicas que poderiam supor homofobia, racismo e intolerância” estão a proteger o pai do filme fugindo da óbvia constatação de que o que foi dito não é nem polêmico, nem suposto: é fato, é ódio, é racismo, é homofobia. E ponto.


Assim, surge o mais deletério dos políticos nacionais, por sua obtusidade militante, seu conservadorismo de pai da mocinha do filme radical, sua aparência anódina (aparência, evidente que só aparência), sua insipidez crônica que lhe valeu, inclusive, o apelido de “picolé de chuchu”, a aparecer no conselho da cidade, impoluto, a dizer sobre a necessidade de mexer na legislação para punir com mais rigor menores infratores quando a violência assusta, maltrata e vilipendia a cidade. Esquece da qualidade precária das escolas públicas, “desconhece” a qualidade precária dos transportes públicos que fazem de gente, gado, esquece das responsabilidades do Estado para com saúde e cultura, com diversão, lazer, com demonstrações de que também pode ser cidadão aquele que não consome bens de última geração. E trata a consequência - nefasta, violenta, abrupta, chocante - como causa. Mas o conselho da cidade aplaude... afinal, o rebanho quer é se sentir protegido.


Sim, é necessária a discussão sobre as razões que motivam a violência e o porque jovens tendem a ser cruéis, bárbaros, desumanos. Mas, alto lá, deixemos de hipocrisia e do consenso raso. O conselho da cidade pode – e deve - mais. O filme, até agora, tem sido bem ruim.

13. abril, 12.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

TV ligada no futebol





Uma querida, dessas gentes que a gente tropeça e ficam parte da gente,  a Veronika me convidou para algo inusitado e desafio - logo eu, um torresmo dependente: "criar uma corrente diferente. uma corrente de textos com receitas. um conto, uma historinha que tenha inserido uma receita que não use carne de nenhum bicho, com ingredientes, medidas, modos de fazer. para não deixar ninguém muito laconico nem muito prolixo, temos escrito mais ou menos 5 mil caracteres com espaços em branco."

E entre uma e outra noitada de futebol, percebi que tinha a história pronta... 

Sei lá... estou sentindo o cheiro do refogado... 


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"Ao futebol, que assistir também é missa".




Sabe o que é? São talos de erva doce. Sim, mergulha num copo, com água gelada e sal grosso. E serve assim mesmo. Sei que é futebol, tem cerveja gelada. Mas ó, sabe brócolis, depois de ferver na água, refoga um cadinho, deixa ficar um pouquinho preto o alho, sim, só um cadinho. Se quiser, deixa o talo fritar também... Vira porção, da boa. Para esperar o jogo começar. Cê vai ver... salsão, também combina com esse negócio do copo de água. Cenoura. O segredo é um pouco de azeite... num mistura com a água mas dá gosto.




É... caqui. Sim, do mole. Me confundo todo nos nomes, sei que é assim. Corta em pedaços, com a faca na direção da tábua e vai, corta. Aí pega aquele parmesão, não o ralado, aquele outro que a gente compra para comer com cerveja. Se tiver velhinho, melhor, curado. Sim e mistura, faz um “sanduba” do caqui com o parmesão... É, divino, eu sei. Olha lá, o Fulano vai jogar. Tô achando que é hoje!!! Pega uma cerveja pra mim.




Ah, velho... queijo e fruta. Vai na fé. Carambola e provolone. Queijo meia cura e maçã. Não faz essa cara de merda. E para não perder a piada, cê sabe que sou São Paulo! Quanto mais curado, gosto de usar a metáfora do chulé, melhor. Aí é misturar. Sabe pêra... pois bem, fica bão. Liga o rádio, vão dar os times.




Rapaz, essa é veneno do bom. Endívia. Tá vendo que, separando as folhas, parece uma barca a bonita. Barca, de pescar, tonto. Então, recheia. Sim, sei que a gata é vegetariana e tal cousa e lousa. Então não faz o trem com patê de atum. Inventa outra cousa aí. Isso aí é cuscuz marroquino. Cê compra em supermercado. Fácil, fácil. Duas colheronas cheias na xícara, despeja neste prato fundo aí. Antes, vem cá, põe para ferver água e sal. A medida da água? Sabe as duas colheres, o quanto encheu a xícara? Então, um pouquinho mais de água. Deixa ferver e despeja no prato. Depois, espera secar e mistura com o que quiser. Aí tem ricota que moí e temperei com pimenta. Fica uma barca de cuscuz com ricota... O nome até impressiona. É bom, eu sei. Porra, sai da frente da televisão!!!




Maçã, meu caro, que sempre sobra na geladeira. É só botar para ferver, fazer uma papa. Não é invenção. É caixa, batata, espeto, gol. Papa de maçã vira a base do mousse de goiaba! Depende é da tua vontade e do que você misturar... Põe a gororoba de maçã e mistura com goiaba também papada e fervida no liquidificador, põe a mistureba nos potes e leva para gelar. Golaço!!! Porra, eu não peneirei as sementes, dá um trabalho da porra... mas cê você quiser... a goiaba é tua.




Porra de time! Vai caçarola!!! Vai!!!! Sim, é isso mesmo: Refoga a escarola, exagera na cebola. Bonito.... refogar... é tão simples que nem dá para usar a desculpa que tem medo de fogão... sabe essa panela aí... põe um tintim de azeite, um fio.... balanga a panela... o alho cortado, a cebola, o tomate, tudo picadinho, sim... despeja, lentamente, com carinho.... Putaquelospariles, sente o cheiro disso!! É vida!!! Dourou o alho, sem torrar, despeja a escarola! Escuta o barulho... tampa um pouco... Olha que lindo.... O segredo, agora, meu camarada, é o azeite, o melhor amigo do homem. Dá uma perfumada depois de colocar nas torradas... e leva pro forno. Queridão, é pão velho, que sobra... não tem bolor, serve. Rapaz, quanta fome, vai com calma que o segundo tempo a gente vira essa bagaça! A geladeira tá cheia de cerveja.




Tá gostando da comida, né, bocó? Amendoim é bão mas dá saudade no estômago!



13. abril, 05. 


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