sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Poemetos para Amores Pardieiros


Mais uma série de poemas e poemetos... encontrados por aí, em anotações, colhifos aqui e ali, entre uma escutadela e outra numa conversa alheia, de metropolitanos, bares, ônibus, filas...


São os "Amores Pardieiros".


Este é o primeiro que sai do forno.


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Deixou um bilhete...


"Beijo roubado.

Com gosto de saudade.

E se desse, ainda, uma chave de quarto de motel barato.

Porque desejo fica assim batucando.

Como o samba dum lábio rosado,

De língua, molhada.

E língua e molhada e libido, escancarada."


E se perguntou: Será que ainda alguém lê bilhetes?



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

E a lição de casa?


A oitava edição da Blogagem Coletiva #DesarquivandoBR.

E desta vez recuperamos a memória de um dos momentos mais funestos da história brasileira: O Ato Institucional número 5. O AI5, de 13 de dezembro de 1968.

A convocação da blogagem, aqui: http://desarquivandobr.wordpress.com/2013/12/05/convocacao-para-a-viii-blogagem-coletiva-desarquivandobr/

O Brasil precisa recontar sua história. Pedagogicamente. Insistir em recuperar dados memórias, histórias, fatos. E gentes.

A ditadura civil militar brasileira é das piores máculas. Mas ela ainda marca, cada um de nós. Nossa apatia, nosso conformismo, nossa crença de que não vale a pena. Nossa baixa estima. Nossa mania de acreditar que somos assim por alguma força divina, genética,  molecular. A impunidade dos agentes da ditadura, que torturaram e mataram, é a impunidade dos agentes de estado que torturam e matam. As covas de opositores do regime são as covas dos fora-da-lei, dos negros, dos pobres, dos indigentes. E  AI 5, funesto, são as prisões abarrotadas, os presos sem o devido processo legal - os presos pobres, os que são presos por portarem vinagre, por roubarem doce.

Não nos esqueçamos. Fingir que não existiu, menosprezar, relativizar, não é deixar de ter pesadelos. É só, e somente só, fugir: de nós mesmos.

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Levantou o braço, esperou. A classe naquela algazarra de fim de semestre, fim de ano, fim de provas, festa. Uma solene bagunça. A professora tentara, um pouco, ainda, cumprir o programa. Mas nada mais seria possível, desconfiava. Mas ali, no canto, um braço erguido. Também solene.


Como que aquelas cousas sempre ficam e marcam e restam, o braço erguido ali queria dizer algo. O barulho foi aquietando. Um e outro cutuco. Um  “olha lá”, “que será?”, “o que é?”. Alguma curiosidade. Alguma incredulidade.


Pois bem. Silêncio. A bola voltara misteriosamente para a professora. Que tinha a senha. Mas tinha lá seus receios... afinal... o ano já estava ao fim, acabando, findando, cansaço, adeus, até o ano próximo, boas festas.


“- Posso ajudar?”

“- Professora, o que foi o Ato Institucional nº 5?”.


A classe fez um muxoxo. Será que ainda teriam que mais um pouco de aula? Será que todos já não estavam com seus devidos sacos repletos de impaciência e incontinência? Ato institucional... E ainda por cima o cinco? E o um, o dois, o três e o quatro?


Mas antes de voltar o zunzunzum... 


“- Minha vó morreu por causa disso. Meu avô também, de desgosto. E meu pai até hoje dorme com a luz acesa no quarto. Explica, professora, por favor...”


Morte, desgosto, luz acesa  para dormir e a confissão explícita de alguma vergonha, medo. Eram tópicos que qualquer aluno saberia relevante, importante, preocupante.


“- E eu li que este AI-5 faz aniversário hoje, professora, 45 anos.”


A professora respirou fundo. Sabia que não escaparia: o silêncio na classe.


“Não foi só sua avó que morreu. Fomos todos nós, um pouco. Nem seu avô, fomos todos nós, mais um pouco. E a luz acesa, a única capaz de acalentar o pesadelo do seu pai, também é este silêncio aqui... porque tem muita gente que só consegue dormir porque desconhece a verdade. Porque muita gente não dorme mais, há tempos. E porque nós, nós todos, o país inteiro, ainda não tivemos coragem de responder a esta sua pergunta.”


E desatou a explicar. Não só o ato e aquele distante 13 de dezembro de 1968, mas também.

O silêncio da classe, as lágrimas de alguns. Sim, os risos e a indiferença de outros. Mas que agora não eram fruto de alguma ignorância ou desconhecimento.  


“-Obrigado, professora.”