terça-feira, 12 de maio de 2009

Conjugar o Verbo Crispar



Gosto de tecer tua métrica. Não só os versos, mas o bailado todo. Que começa com teus olhares furtivos e termina, invariavelmente, com teus olhos cerrados. Gosto da métrica como se fosse fita, centímetro em centímetro, deslizes, matrizes de devaneios que sempre acabam com a imagem de tua pele arrepiada, ouriçada em sentimento e vontade.


A métrica pode ser o desejo, o lampejo, o pulsar, o querer, o versar, o invadir, penetrar, consumir. Podem ser simples mãos dadas ou complexas engenharias em beiras de estrado. Quem nunca ouviu um sussurro, um gemido, um pedido? E nisso os versos se confundem com cheiros, perfumes de corpo, de botica e de sexo. Cheiros insubstituíveis, como métricas. Como versos.


Escrever assim remete à métrica. Ao verso composto em duas vozes, em formas, curvas, desvios, fluxos e dentes. Unhas. Enfim, nessa métrica livre, a única regra é a regra mais simples e objetiva, a de rimar gostar gotejar solfejar. Escrever assim poderia ser canto, encanto, afago, doce, amargo ou qualquer dessas coisas que transpiram nesses sentimentos sortidos.


E as regras da boa métrica poderiam ser classificadas como ousadias necessárias para um bom poema. E nesse ritmo, toada, melodia, arrebata a sensação de que nunca mais seremos serenos, tranqüilos, exatos. Portanto, de hoje em diante, estabelecemos um único regulamento necessário e talvez indizível: As roupas ficam no cabide ou no chão, porque a respiração aquiesce e aquece, e rimam.



09. maio.