terça-feira, 21 de agosto de 2012

Paula Amaral



Este texto é de 2007. E foi publicado lá nos "OsBolonistas"... Foi feito num dia 21 de agosto, para minha irmã, a Paula. 

Na verdade, o texto era para a Pi porque é uma homenagem ao Raul Seixas, que ela gosta e muito.

Raul morreu em 21 de agosto de 1989. E por essas coincidências estapafúrdias, ele morreu em seu apartamento, cujo prédio, no térreo e nos subsolos, instalava o cursinho em que eu estudava...  E eu sempre achava que aquele cara branquelo, magro, que tomava cerveja no boteco da esquina fosse um sósia...

É... #TocaRaul.

Mas também pode ser uma lembrança doutros tempos, de tempos do cursinho, de gente querida. De tempos queridos.

"Eu que não fico num trono de apartamento... Esperando a morte chegar...". É sempre bom rememorar que valhe a pena não ficar muito tempo no trono, por mais que a "taxa seja alta" vez em quando.


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Bolonistas: Tentem Outra Vez


E já passou tanto janeiro... O São Paulo já era dirigido pelo Telê Santana. Raí já era o camisa dez, mas ainda não era Raí. Perderíamos do Vasco a final do Brasileiro, em pleno Morumbi. O Palmeiras estava na fila, ainda. O Mário Tilico tinha feito goles espíritas pelo Paulistão. O Ronaldo estava no gol do Timão. E recomece a andar.

Ouro de tolo. Era fim de tarde, cursinho. Frei Caneca. Da sala de aula começamos a ouvir violões. Uma cantoria. Músicas de um homem só. Morreu. Só podia ser isso. Aquele magrela que tomava cerveja no bar da esquina, camiseta branca, não era um sósia. Era o próprio. Era ele. Só percebemos depois das músicas. Gente sentada na rua. Muita gente. As camisetas das sociedades alternativas denunciavam. Alguns rostos choravam. A imensa maioria cantava. Fez-se uma roda na frente do prédio. Pessoas sentadas. Cantoria.

Eu prefiro ser. A metamorfose. Ambulantes. Era 21 de agosto. Era 1989. Tinha eleição naquele ano. A primeira eleição para presidente. Era outro Lula, que adorava cantar músicas dele em comícios. Eram outros sonhos. O imbecil do Gorbatchov ainda não fazia propaganda de loja de bolsa. Era o auge do fim. Da “perestroika”. Derrubaram o muro nefasto e levantaram outro, que divide o mundo entre os “modernos” e os arcaicos. Ser moderninho é legal. Tem cheiro de refrigerante sem açúcar. A velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é amor. Sobre o que eu nem sei quem sou. Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor. Era época de vestibular. Era o primeiro voto. Era a nossa estrela.

Jesus, deixa o seu pai de lado. Já se falava de Jesus como mercadoria. Mas ainda era possível encontrar outros caminhos. Jesus, vai morrer tranqüilo. Já sabem do seus problemas no Imposto de Renda. Ói... ói o trem. Vem chegando de trás das montanhas azuis do Novo Aeon. Sim, éramos todos um pouco dele. Em todas as homéricas bebedeiras do mundo há sempre alguém a cantarolar que está queimando o fumo com Zezinho no fundo do quintal da escola.

Esperando a morte chegar. Dentro de um apartamento. Collor já era o caçador de marajás. A revista “Veja” já tinha lado, emporcalhado. O João Dória Júnior, do “Cansei”, já era cansado e desfilava com camisetas colloridas e “pseudo-beldades”, de plástico. Pra lua a taxa é alta, pro sol identidade. É preciso o carimbo. Alguém sabe onde está o disco voador? Quereria ir. A mosca da sopa.

Já sabem do seu plano para controlar o Estado. Qual plano? Não pense que a cabeça agüenta se você parar. Já estamos parados, há muito. Ainda comove aquele teu chaveiro escrito “love”.

Às vezes você me pergunta por que sou tão calado. Raul, sei lá onde você está. Fica bem, meu nêgo. Hoje o silêncio é para você.

21.08.2007

sábado, 11 de agosto de 2012

Não deixe o trem correr sozinho...

A quitanda reconhece que os contos, poemas, croniquetas e fusquetas estão no forno... mas estão demorando.

Entretanto, é ano de eleição. E os meus poucos leitores sabem que na quitanda também tem política e pastel de feira.

É como boteco.

E num papo de boteco, resolvo aqui expressar considerações sobre as eleições municipais de São Paulo, cidade onde moro.

E indicar um voto para vereador

O texto é longo. Mas fica o convite.

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Sobre as eleições municipais: A Câmara Municipal não pode ficar como está.


Talvez o mais importante de uma eleição municipal seja o voto que a gente pode dar para eleger alguém para a Câmara Municipal. O tal vereador.

Sempre brinco quand
o vejo aqueles espigões, prédios enormes que rompem a harmonia do bairro sem delicadeza alguma e até com alguma desfaçatez, com uma frase: “Esse empreendimento aí tem uns dois vereadores.” É brincadeira, antes que algum nobre edil se sinta ofendido, ofendidíssimo, caluniado. Mas diz muito: Nos processos de fiscalização das ações e das políticas municipais e nos processos legislativos, é a Câmara Municipal que desempenha papel crucial para a cidade: a leniência, a conivência, a condescendência são sempre muito cruéis para com a cidade. Basta lembrar-se dos escândalos das regionais do Pitta e do Maluf. Basta olhar para a gestão Kassab e sua lista intermináveis de descasos, de proibições e de festas do setor imobiliário – A Câmara foi cúmplice em tudo. E a oposição, no caso de Kassab, por sua atuação tíbia, tímida ou inconfessável parceira, foi também responsável pela farra e pelo desgoverno.

Todo mundo gosta de esquecer a Câmara. A bem da verdade, se dá de ombros para a questão, deixando a decisão do voto e a fiscalização do exercício do mandato para terceiros e chafurdando no lugar comum de que “todos são iguais, tudo ladrão, tudo chupim.”. E a Câmara acaba se tornando uma secretaria da paróquia, apta a resolver conveniências aqui e acolá: “Tem uma árvore para podar... acho que vou pedir para o vereador fulano de tal mandar lá um ofício para a regional”. Enfim, uma lástima.

Nestas eleições, até pela característica de disputa entre tucanos e petistas - naquele papinho mole de que eles são os demônios e nós os iluminados, e vice versa – as vagas na Câmara precisam ser preenchidas com mais cuidado, zelo e precaução. A oposição que se fez ao Kassab, de uma tibieza de dar dó, dó da cidade, mostra que é absolutamente necessário garantir o contraditório, a voz destoante, a crítica, o chato e a chata, no parlamento municipal.

Assim, faço meu primeiro texto sobre as eleições de 2012 sobre as eleições para o Parlamento municipal e opino: É fundamental encontrar no voto esta capacidade de inconformismo. Um chato – ou uma chata – faz toda a diferença. Uma voz crítica eleva o debate, pode ajudar a desnudar as hipocrisias. Um voto contrário pode jogar luz numa ação obscura. Alguém que não tenha sido eleito com financiamento de bancos, imobiliárias, empreiteiras pode acordar a cidade. Basta de administrar para atender à lógica de quem financia a eleição.

Feitas estas reflexões, quero expressar minha opinião: No legislativo não dá para não votar e não recomendar o voto no PSOL. Sim, naquele partido que os jornalões chamam, pejorativamente, de nanico. O nanico que com três deputados federais consegue fazer um barulho enorme no Congresso Nacional. Três entre mais de quinhentos. Na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, terra onde nunca se instalam CPIs para fiscalizar os governos do PSDB, há um único deputado do PSOL que faz um baita barulho. No Senado, também, unzinho. Ivan Valente, Chico Alencar, Jean Wyllis, Carlos Gianazi, Randolfe Rodrigues podem ser considerados tudo: chatos, radicais, esquerdistas, moralistas. Mas ninguém duvida da seriedade com estes parlamentares exercem seus mandatos. Ninguém pode desconsiderar que nas votações polêmicas, concordando ou não com a opinião destes parlamentares, do Código Florestal à cassação do mandato do Demóstenes Torres, os parlamentares do PSOL sempre são ouvidos, ponderam, se posicionam, não fogem. Marcelo Freixo, esta raridade da política nacional, é deputado estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro.

Eu vou votar no Gilberto Maringoni . O número dele é 50.550. A página na internet é WWW.maringonivereador.com.br

Conheço o Maringoni desde os tempos em que trabalhei com a Tereza Lajolo, na Câmara Municipal, na última década do final do século passado. Às vezes, nas discussões partidárias, ainda no PT, tivemos posições antagônicas, às vezes concordamos. Mas ele sempre foi correto nas relações políticas, coerente e sempre, sempre, se posicionou. Não tem medo de não agradar, o que um enorme passo para convencer acerca da qualidade deste voto. Cartunista, faz rir com críticas ácidas e que nos fazem pensar, refletir, dialogar. Historiador. Político. Sim, precisamos de mais políticos na Câmara e menos de párocos interessados nas relações mesquinhas de poder e de manutenção de espaços e mandatos. É isso. Quem quiser falar mais de política, perguntar, debater, criticar, me procure por aqui, por email, no blogue, no boteco. Quem sabe a gente não vai numa reunião do Maringoni, juntos?

É isso aí.

12. agosto.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"O tal julgamento do século"


Bom.... tem um monte de conto começado... alguns poemas largados...

Mas a cabeça as vezes precisa ajudar o fígado...

Então, escrevo neste boteco sobre um tema que me deixa emputecido. Mas enfrentar fantasmas é um bom mecanismo para derrotá-los.

Segue lá...

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A partir de amanhã voltaremos aos monocórdios...

O julgamento do tal crime do século, o "mensalão", tomará conta do noticiário. Será a luta do bem contra o mal, o trololó do "só acontece no Brasil" e cousas do gênero.

Odeio o "mensalão". Por inúmeras razões o considero um dos mais execráveis exemplos de como estamos perdendo nossa capacidade de crítica e de reflexão em nome de uma estúpida – repito, estúpida - guerra de torcidas.

O episódio é, sim, um divisor de águas importante. Uma parcela do PT ruiu com o episódio. Entretanto, não foi a ocorrência ou não do valerioduto a responsável pela saída, pelo distanciamento, pela ojeriza. Houve um processo de degeneração em que o mensalão pode ser considerado a cereja do bolo, o broche que puiu o vestido. É este processo que deveria ser enfrentado por todos, com coragem, que fizeram e fazem parte do PT e que fizeram e fazem parte da esquerda no país.

O "mensalão" como mesada para parlamentares no Congresso Nacional parece que não existiu. Não há provas da mesada. Não há ligações das votações no congresso e os recebimentos de numerários por parlamentares. Ademais, muitos parlamentares agraciados eram do partido do governo o que dá a tese da mesada um status de carochinha. Bom, mas, porém, contudo, entretanto, é tão evidente quanto à luz do sol que o episódio não se restringiu a um "mero" caixa dois de campanha, de "financiamento ilegal de campanhas políticas". Este é o maior equívoco do PT: tapar a luz do sol. Circularam recursos provenientes de diversas fontes para abastecer cofres de partidos e de políticos e houve, sim, enriquecimento de alguns. Ora, o enriquecimento se prova pela alteração de "status" social, pela mudança de hábitos, pelo aumento do "consumo". E houve, sim, a utilização desses recursos como forma de pressionar e criar uma "maioria" parlamentar - do tipo, "olha lá como vota porque do contrário àquela sua dívida de campanha não será quitada..." - e uma folgada maioria partidária, interna - do tipo “olha lá como vota porque do contrário àquela sua dívida de campanha não será quitada”.

Mas o mais nojento do episódio é a demonstração da "nossa indignação seletiva". O movimento de combate à corrupção passa a ser na grande mídia (paremos com esta bazófia de PIG, esta bobagem inventada para justificar o injustificável) um movimento de desgaste do PT e do Lula, somente. Não se fazem matérias sobre a compra de votos no processo que alterou a Constituição da República para conferir à FHC a possibilidade da reeleição. Não repercutiram as denúncias sobre as falcatruas generalizadas, amplas e irrestritas dos processos de privatização. Não se fala da Alstom e das obras do metropolitano em São Paulo. Nunca mais se falou da inspeção veicular na cidade de São Paulo.

Agora chegou a hora do julgamento no STF. O que é outra excrescência, em razão do julgamento só ocorrer na Corte Constitucional em razão da insensatez do "foro privilegiado". Mas, na regra do jogo, que o julgamento seja o que deve ser. Que dentro do que está comprovado nos autos, seja a mesada, seja a cooptação, seja o caixa dois, seja o diacho a quatro, punidos e com o rigor que a lei exige. Que nos casos onde a prova foi impossível, que a regra do direito valha acima das regras de conveniências da "opinião pública".

Mas, sobretudo, que tenhamos coragem de sair deste episódio com menos cinismo. Que comecemos a exigir o financiamento público de campanha e mandar para o ostracismo aqueles que convenientemente deixam este debate ao relento, tanto nos partidos como no Congresso Nacional. Que comecemos a entender que as regras do processo eleitoral devem ser rígidas, mas devem ser de fácil interpretação, que não dependam de interpretações de gente iluminada. Que comecemos a enfrentar, de fato, a questão da democratização dos meios de comunicação, com o intuito de estimular a pluralidade de opiniões e diminuir espaços para calúnias, difamações, falatórios, fofocas nos meios de informação e formação de opinião. Que discutamos as razões da publicidade oficial, afinal o "valerioduto" - o tucano de Minas e o petista - nasceram da utilização de uma "agência de publicidade" como "intermediária" das operações, ser tão custosa, tão cara e tão desregulamentada (o princípio da impessoalidade é ofendido em grassa maioria das propagandas chamadas institucionais).

E que o PT saia da letargia, deixe de colocar a culpa em outrem, e entenda que não dá para fugir deste debate em nome de uma "pseudo" superioridade programática. Há que se reconhecer que no mínimo houve um grotesco, um gigante, um monumental erro político. Que este erro custou muito caro ao partido. E, porque não, custou muito caro à nossa história.

Por fim, o texto é repleto de ironias. Ter que explicar ironia mostra que o texto está é malfeito. Neste caso, este palpiteiro pede perdão. É o fígado que escreve. Odeio o “mensalão”.

agosto, 01. 2012.