Opa!
Esse texto aí saiu do forno como encomenda para festa.
E é, também, um quitute feito para alguns amigos.
Ao Celão, com quem dividi arquibancada comendo um sanduba de mortadela, o que hoje, infelizmente, é impensável. E ao Érico e o Seu Francisco, que fazem a cada jogo do Tricolor uma imensa mesa redonda, repleta de cousas que estão no texto.
Ao Ademar, meu camarada das antigas e parceiro de estádios deste antanho.
Ao Deco, ao Ogro, ao Yuri, ao Boldarini, ao Jubas, ao Rubens, a Alê, a Eva, ao Jorge, ao Bonilha: com eles faço uma imensa mesa redonda virtual sempre que posso durante os jogos do Tricolor.
Ao Marco e ao Leonel, sempre.
Ao meu pai, Seu Nilton, por aquele São Paulo e Juventus...
E a minha mãe, Dona Maria Helena, que se "sãopaulina" não era, ficou.
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Há tempos - e
escrevendo, principalmente - descobri que as memórias não são
meras anotações exatas, fotografias de cousas acontecidas na
exatidão de uma linha reta. Há curvas. As memórias são antes de
tudo narrações ficcionais com base em “acontecimentos
acontecidos”, filmes que ao contar histórias reais reinventam o
enredo, criam novas teias, afeto, sentimentos. As memórias são
quase sempre retratos daquilo que ocorreu, com nuâncias do querer ou
do não querer. O primeiro azedo não é só o sumo do limão. Nem o
doce, que é sempre um pudim de leite furadinho nas memórias.
Esse intróito,
breve licença, explica um pouco o que narro nestas linhas. Ontem, 23
de janeiro de 2013, memorável. Não tem sido um ano fácil... nem
bem começou e um monte de cousa tem que ser resolvida, revolvida,
reparada, restaurada, recomeçada. Muita preguiça, cansaço e até
desânimo frente ao novo, que na verdade pode ser tanto o velho com
uma roupinha contemporânea como pode, e aí incluímos desejo – e
por isso a refrega com o ânimo é tão fundamental - ser uma pisada
na Lua, uma viagem ao infinito, um gol de placa. Entre preocupações,
diletantes ou não, surge a ideia: Libertadores da América.
Todos sabem que este
é o único torneio de futebol de todo o universo que realmente
importa, depois daqueles do Estrelão. Até mesmo os pássaros. E o
São Paulo quer voltar ao trem, que descarrilhou duns tempos remotos
para cá. E era jogo, quarta-feira, ainda férias dos meninos.
Naquele horário belzebu das dez da noite. Comprei três ingressos: O
pai, o Grande e o Pequeno.
“O que vocês
acham de irmos ao jogo do São Paulo?”. A pergunta desencadeou
comentários. “Pai, é a Libertadores, não é?”. “Pai, quero.
É amanhã cedo?”. E por aí foram. Desde a Sulamericana que eles
me pediam para ir ao jogo da “Libertadores”, porque apesar de ter
prometido e de ter comprado ingressos para eles naquela ocasião uma
sinusite monstruosa, agregada a febres e a recomendação expressa da
pediatra, o que ocorreu foi que não ocorreu.
Na final da Sula foi
uma muvuca do cão a entrada no estádio. Naquela confusão
injustificável para entrar no Cícero até que me resignei em não
ter levado os meninos. Foi um caos. E por isso, nesta empreitada
nova, fiz planos de chegar bem cedo. Eram sete e quarenta da noite,
ainda Sol, quando chegamos. O jogo? Só as dez...
Daqui há alguns
anos estas cousas que escrevo, algumas, irão se perder. Outras não.
Algumas eles, o Grande e o Pequeno, vão ler. Ah... meninos... foi
uma noite belíssima. Sim, o jogo foi cinco a zero para o São Paulo.
Jogamos bem, embora o outro time fosse fraco. E teve gol do capitão,
o goleiro mais espetacular que já colocou os pés neste Planeta,
chamado São Paulo Futebol Clube. Sim, meninos, a coincidência de
termos ido a vários jogos no estádio, e no mundo de vocês estes
vários não chegam a cinco, contra times que vestem azul e de nunca
termos perdido estes jogos. Mas o que ficará na película das
memórias do pai serão outras cousas...
O futebol é, antes
de tudo, afeto. Quem não torce para algum time não sabe o que é
isso e assim como desconhecer o amor, a manga que meleca a mão, o
andar descalço na areia da praia, o torresmo, o sorriso, isso faz
que a vida da gente seja um tantim menos. No meu caso seria um
tantão, mas cada caso, já diriam os teóricos do Direito, é um
caso. É antes de tudo a conversa de boteco, a azia quando o time
perde, a tiração de sarro, a comédia, as simpatias, os abraços.
São os comentários, a mesa redonda, os palavrões, a tristeza de um
gol perdido e a certeza que somos o melhor time, independente de
posição na tabela, porque ele é nosso.
“Pai, o time
precisa de mais jogo aéreo”, frase do Grande quando o jogo estava
dois a zero, dita com seriedade. E o Pequeno, que sem pestanejar,
depois do gol, saiu a abraçar desconhecidos, gritando, eufórico,
pulmão pleno. “Pai, vou ficar é rouco e é legal.”.
Na volta, mais de
meia noite, três Amaral andando pela Jorge João Saad, mãos dadas,
tagarelando cousas desconexas como os gols em profusão e o
nervosismo do Luís Fabiano, o Lúcio que parecia um cavalo de tanto
correr, o Rogério, as gentes, os cantos: O campeão, voltou.
13. janeiro, 24.