Porque chuva, grave,
risco, inunda transborda, alaga, mata, destrói, desabriga. Mas seca,
imunda, polúida, olhos vermelhos, respiração difícil, boca seca,
mata, destrói, desabriga. Catarros.
Tudo o que queria
era uma chuva. Podia ser fina, garoa, como o apelido. Mas aí tomam
as ruas com possantes de aço e suas buzinas, todas, ao mesmo tempo.
E se tem passarinhos, cantam de madrugada que é para alguém ouvir.
Que dia bate estaca, furadeira, empilhadeira, martelo, escavadora,
basculante, decibéis e buzinas.
Não são excessos.
São só restos. Desejos de ter sido algo que não foi, a
cosmopolita, a metrópole, a capital, a locomotiva, a praia. Não foi
porque feita de restos, de ideologias de bunda, de sobrenomes, de
heranças, de pouca sorte. Dizem que trabalho é virtude. É, mas
quando sim. Do contrário é mera exploração, apropriação,
aporrinhação, metrô cheio, ônibus cheio, rua cheia, horário
cheio. E um vazio. E que maldito cheiro é este?
Não existe amor,
talvez. Ou existe: falso, como mercadoria de rede de fast food “amo
tudo isso”. Pouca luz porque ou custa caro ou não tem como atender
à demanda. Ou existe: clandestino.
As vezes tenho o
enorme receio de morrer minha cidade. Dizem que é o Tejo. Mas aí, a
lágrima toda é outro rio.
13. setembro, 17.