Sempre
que volto de um feriado longo assim, desses que a gente some de nós
mesmos, voltar é sempre impreciso. Porque muita coisa ali, durante a
folga, o hiato, o intervalo, o recreio, faz muito mais sentido do que
o habitual, o corriqueiro, o demasiado, o buscar, o ter... o ser:
verbo e sustantivo.
Ainda
que tenhamos a improvável certeza de que precisamos destes
cotidianos para obtermos algumas horas de distância, de entorpecer,
de lua, de fazer nada, nada é mais desgastante do que se perceber
atado a uma roda. E que em parte do círculo se está infeliz,
desgastado, subtraído.
Ok...
são as digressões de sempre, nada de novo. Só a antiga comiseração. Não me comovo mais com isso e creio,
até, que já vesti a fantasia para o resto do ano. Pagando no cartão
de crédito, obviamente. Parece que o menino que cresceu ainda está
fora de lugar e podemos ter aí mais dois, do imaturo ao resignado.
Quem dirá que sim ou que não...
Nunca
tive cachorro. Mas deve ser bom alguém a te entender e só. E alguém
que nem é você: nem seu terapeuta, nem psiquiatra, nem pai nem mãe,
nem pai nem mão de santo, nem padre, nem pastor ou professor ou
síndico, chefe e patrão. Só querer em troca um cafuné em troca
desta doce sabedoria.
As
vezes é difícil dormir. Porque é complicado acordar. Somos sempre
alguns. Principalmente, a noite. Todos lá: ansiedades, vontades,
desejos, cansaços, irritações, dúvidas, incertezas, medos,
acertos, desacertos, desatinos, coração, olhos abertos, olhos
fechados, relógio, despertador, que droga ter que acordar cedo, que
eu vou fazer, como resolver, “pai, tô com sede”, olho aberto de
novo, ruído, bocejo, suor. As madrugadas assim: duas e vinte. três
e sete. quatro e quinze.
De
longe, mas já no sonho, e mais perto, um latido insistente. E mais.
Há eco. Repetição. E talvez uma daquelas conclusões que só
podemos ter ao sermos acordados repentinamente, por alguma razão:
“Nas madrugadas, todo latido encerra alguma crueldade.”
2014. março, 08.