quinta-feira, 6 de março de 2014

Pode ser que as insônias latam...


Sempre que volto de um feriado longo assim, desses que a gente some de nós mesmos, voltar é sempre impreciso. Porque muita coisa ali, durante a folga, o hiato, o intervalo, o recreio, faz muito mais sentido do que o habitual, o corriqueiro, o demasiado, o buscar, o ter... o ser: verbo e sustantivo.


Ainda que tenhamos a improvável certeza de que precisamos destes cotidianos para obtermos algumas horas de distância, de entorpecer, de lua, de fazer nada, nada é mais desgastante do que se perceber atado a uma roda. E que em parte do círculo se está infeliz, desgastado, subtraído.


Ok... são as digressões de sempre, nada de novo. Só a antiga comiseração. Não me comovo mais com isso e creio, até, que já vesti a fantasia para o resto do ano. Pagando no cartão de crédito, obviamente. Parece que o menino que cresceu ainda está fora de lugar e podemos ter aí mais dois, do imaturo ao resignado. Quem dirá que sim ou que não...


Nunca tive cachorro. Mas deve ser bom alguém a te entender e só. E alguém que nem é você: nem seu terapeuta, nem psiquiatra, nem pai nem mãe, nem pai nem mão de santo, nem padre, nem pastor ou professor ou síndico, chefe e patrão. Só querer em troca um cafuné em troca desta doce sabedoria.


As vezes é difícil dormir. Porque é complicado acordar. Somos sempre alguns. Principalmente, a noite. Todos lá: ansiedades, vontades, desejos, cansaços, irritações, dúvidas, incertezas, medos, acertos, desacertos, desatinos, coração, olhos abertos, olhos fechados, relógio, despertador, que droga ter que acordar cedo, que eu vou fazer, como resolver, “pai, tô com sede”, olho aberto de novo, ruído, bocejo, suor. As madrugadas assim: duas e vinte. três e sete. quatro e quinze.


De longe, mas já no sonho, e mais perto, um latido insistente. E mais. Há eco. Repetição. E talvez uma daquelas conclusões que só podemos ter ao sermos acordados repentinamente, por alguma razão: “Nas madrugadas, todo latido encerra alguma crueldade.”

2014. março, 08.