segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Onde erramos?




Ok... mais um texto de política. Na banca de jornal. Os tempos estão difíceis... mui.

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Foi um soco no estômago. Num desses papos de uátizapi ou feiçobuco recebi a primeira “opinião”, logo após a morte de Eduardo Campos, que ligava o governo federal e o partido do governo ao causo. Em linha simples, a intervenção fazia crer que não foi acidente, foi crime. Confesso que azedei. Porque, sinceramente, por mais que divergências políticas aqui e ali existam – e devam existir – um pensamento destes não sai do nada, não cria asas repentinamente. Transpira um ódio, um desejo mórbido de que a “luta” política seja mesmo uma refrega sem lei e ordem, uma terra inóspita, onde o adversário é uma espécime de anticristo, conjurado.  Demorou para cair a ficha... sim, uso a expressão demodê para me recordar de um outro tempo, muito mais ameno, mas onde as discussões e divergências tendiam a ser muito mais profundas, mas sem essa leviandade. O comentário, logo após o acidente, era isso mesmo: leviano.

Me assustei, porque noutro dia a tralha continuou. Sob o manto de que nenhuma das hipóteses pode ser afastada, voltou a maledicência de que podia ter ocorrido uma ação criminosa, pensada, planejada e que, obviamente, o único interessado nesta perversão seriam os petistas. Onde foi que erramos, para levar o debate político para este lodaçal sem fim, esse esgoto, esta lama de argumentação? Por que tanta raiva embutida numa disputa política? Mas antes que pudesse me solidarizar com os petistas, pronto: o lodo é pântano, mesmo. Porque muitos simplesmente começam a cantilena de defesa por simplesmente atacar o Aécio, sabe se lá por qual razão. E o importante tema das pistas de pouso passa a ser tratado como argumento de descarga, de latrina, como se uma cousa – o acidente aéreo – se vinculasse a outra.

O que mais me deixa perplexo, e este gosto acre de tudo, é que ninguém em nenhum dos dois lados acenda um cachimbo da paz, faça um gesto real de solidariedade, coloque as cousas nos eixos, freie a turba e os argumentos absolutamente ensandecidos. E que todos os graúdos simplesmente finjam ignorar que nós, os peixes pequeninos do lodo, estamos a barbarizar a lógica, o senso, a convivência possível, a inteligência, em nome da “disputa” política.

Não há ética, dirão alguns. Sei lá... não há é a leitura desta perigosa combustão que estamos a fomentar. Um caldo de intolerância, de preconceito, de irritabilidade, de pólvora inútil. E ontem, quando a emoção e o luto começavam a dar tratos a bola, trazendo um pouco esta bruxa, a razão, pronto: Vaiam a presidente, a chamam de culpada pela morte, clamam justiça. E o silêncio oportunista de quem observa o fato com olhos de pesquisa. E o contra-ataque, logo na sequência, naquelas rasteiras inimagináveis até para o mais troglodita dos beques de fazenda, começa a fazer uma crítica de “sommelier” de velório, passando uma descompostura na candidata Marina porque ela “sorriu”... 

E segue o argumento. Enquanto uma sorria, o ex presidente... chorava. E fazem a mistura abominável do transe com o desejo, e cobram a suposta alegria de uma em contraste com a tristeza de bem do outro. Num fora de propósito, num desconexo, num golpe baixo. O sorriso, evidentemente tinha um contexto - deixemos de lado esse purismo do sofrer, onde quem vela tem a obrigação moral do choro.  E a tristeza do ex  presidente foi real, sim, legítima: Perdeu alguém com quem convivia, com quem trocava ideias, com quem frequentava casas.

Ora, ora, ora... basta deste jogo hipócrita de querer transformar gentes em santidades ou demônios. Nem ela, Marina. Nem ele, Lula. Nem Dilma. Nem ninguém.

Aliás, a foto em que o presidente Lula tem nos braços o filho mais novo de Campos, ao lado de Renata Campos, a viúva, tem ao fundo José Serra. Sim, Serra, o adversário predileto dos petistas. E a foto transpira a consternação real dos dois políticos. Mostra que existem situações em que a disputa política fica num segundo plano. Evidencia que existem ali seres humanos, que erram, que choram, que acertam, que planejam, que fazem conspirações, que dão sorrisos, que andam, que bebem e, notem só, que espanto, respiram. A foto revela, sim, que pode existir uma ética, respeito e menos chutes no pescoço.

No fundo, eu é que estou anacrônico mesmo. Devo acreditar numa leveza que não cabe mais nestes tempos instantâneos, nessas redes sociais. Afinal, não há interlocutores, que podem ter suas opiniões, sua história, suas ideias, seus afetos. O que há é a necessidade da minha opinião ser gritada mais alto e alto, amplificada em likes múltiplos. Convenço pelo grito, este maldito, quando fora da canção.

É... num tem mais canção.