sábado, 31 de dezembro de 2011

E que venham os próximos!

Sinceramente, não sei.


Que começa um ano novo, reconheço o calendário.


Mas esse papo de tudo de bom, novo, recomeço, nova chance, oportunidades e eteceteras, não sei.

Saúde, que é assim que devemos começar qualquer desejo de gostar.

Mas que a saúde também não nos seja tão cara, custosa, paga. Porque, afinal, cansamos de sermos idiotas.

Cansamos? É... não sei. Tenho cá dúvidas infindas. Algumas cruéis, sobre nossa idiotia.

Mas desejo, sim, saúde: E principalmente daquela que nos faz querer acordar de manhã.

O melhor dos desejos é este: querer acordar de manhã. E ter porquês.

Fé? Sim, fé que as pessoas possam ser realmente gente. Iluminadas, irresignadas, famintas por vida e não por sucesso, desejosas de paixão e não de conveniências, querentes por gostar e não por posses. E, sobretudo, fé que a luta vale cada dia. E sonho.


Sinceramente, é isso. E muito mais: Amor, paixão, sexo, saúde, vinho e um pouco de sorriso farto, lágrimas e pudim de leite.


Que o nosso time seja campeão. Que o abraço seja nossa moeda. Que as nossas crianças joguem bola descalços, no parque e, sobretudo, na nossa alma. Que cada sonho.... Bom, que cada sonho tenha seu tempo, gosto, sabor, aroma e cor. E que se forem para serem reais, que sejam.


Vou lá, então.


Sinceramente, não sei. Mas, então, que valha a pena.





quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Diálogos e um só

Outro da série "Cotovelos".



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Acorda. Já está tarde. O despertador já tocou. Não vai dar tempo de fazer a barba. Acorda. Levanta.


Sim, acabou. Ela não está. Provavelmente não haverá o café a te esperar na cozinha. Nem café nem nada: pia, louça, área de serviço, sala, quarto, banheiro, sabonete novo. Acorda, levanta, vai. Que ela não aguentava mais e se foi. Mas você tem que ir trabalhar, tem contas para pagar, tem que passar no supermercado e comprar água, ao menos, água. Não. Ela não ficou de fazer isso antes de ir. Ela esta absolutamente cansada, esgotada, moída e derrotada. Levanta, acorda, vai, sai da cama. Ninguém vai te ver chorar. Fique tranquilo, ela também não. Mas ela chorou. Chorou até não poder mais e se foi. Acorda, já está tarde, levanta, sai da cama, vai.... vai....



Não adianta não atender ao telefone. Deve ser alguém do trabalho. Afinal, você não está só atrasado. Você está aí, nesta cama, prostrado, cheirando azedo e com cara de quem brigou na rua. Deve ser alguém querendo saber o que aconteceu para você ter faltado. Pode, sim, ser o seu amigo do trabalho. Amigo, colega, sei lá. Acorda. Atende. O telefone irá tocar até você atender. Ou se não atender, vão ligar de novo. Se for ela? Evidentemente que se for ela ia ser patético você atender assim, com esta voz de caverna, a esta hora da manhã, sem almoço e pedindo pena, dó, piedade. Sim, eu também tenho nojo. Acorda, já está tarde, levanta, sai da cama, vai... vai... ao menos um banho. Um só... vai...



Sim. Não é errado. É que já é noite. E você ficou aí o dia todo. Infesta. Ela, meu caro, não tem mais a chave. Jogou na sua cara, ontem, depois daquela sua súplica ridícula de que queria tentar outra vez, ser igualzinho o cara por quem ela se apaixonou, cuidar dela, ter carinho, escovar os dentes, arrumar a casa, tratar da hipoteca, arrumar os sapatos e dizer te amo. Levanta, sai da cama, o dia já foi, tudo se foi. Se foi. Foi.


E, de fato, antes de ir ela lhe tinha aprumado um último cuidado, ou carinho, ou saudade ou a última das discussões: o sabonete, ainda na caixa.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Dos remédios amargos...


E seguem os textos da série "Cotovelos".

Este, evidentemente, coletado de impressões da rotina de finais de caso que acabam num escritório de advocacia (sim, além deste mercadinho, na vida lá fora sou "advogado"). Escrito como se fosse ela. Mas cabível, absolutamente cabível, se fosse ele.


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Te odeio por mexer nas tuas cousas e encontrar o telefone dela.


Te odeio por futucar teus papéis e encontrar os poemas que eram dela e não meus.


Te odeio com ódio de tudo por checar seu celular e encontrar o telefone dela, ali e mil ligações.


Te odeio, mesmo, por não dizer que era um engano, que era uma aventura, que era uma coisa a toa.


Te odeio por tudo isso. E por odiar este ódio todo, te odeio.


Mas te odeio ainda mais por ela ser especial para você.


E esse ódio vai aumentando a cada certeza que ela te faz feliz e que ela sorri para você.


E o ódio nas vísceras todas vai me dizimando ao perceber que ela não sabe que eu existo.


E te odeio por isso, nem isso, que nem isso eu tenho dela.


Me prometa uma única coisa: Diga para ela que eu existo e faça ela sentir ódio de mim.


E se ela dar de ombros... essas odiosas moças equilibradas, diga que eu te odeio em cada vírgula.


E se ainda assim eu te odiar ao ponto de te odiar mais um pouco, me tenha ódio. Ao menos isso.




quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Das mentiras que preciso ouvir

Como disse no texto anterior à este, espalhados em algumas anotações estão notas sobre "dores de cotovelo". Vou tentar, aos poucos, publicar.


O texto fica febril, arde. A paixão vira ódio, em segundos poucos. Escrever sobre as pequenas tragédias, os nossos "fim de mundo", costumam render boas cousas, creio. Mesmo que o cotovelo esteja são.

Aqui, então o "Cotovelos, II".


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Vim ensaiando discurso. Palavra por palavra, gestos, jeito de falar e todos os eteceteras e tais.


Mas, porra, cacete, putaquepariu. Hoje, não! Hoje eu não quero verdades. Deixe que o tempo desvele o que eu já sei. Não diga o dia, a hora, o minuto, o local, a gravata que eu vestia quando, de súbito, tudo acabou.
Não me diga sobre nosso sexo ter deixado de ser diversão, encantamento, descobrimento para ser rotina, jogo para cumprir tabela e cartão de ponto. Não me diga dos ciúmes, das reciprocidades magoadas, das incongruências de discurso, prática e das plantas que deixei, deixou, deixamos de regar. Aliás, odeio essa comparação entre regar plantas e regar sexos, ou paixões, sei lá.


Hoje não quero verdades. Não quero espetáculos, também. Se tens outro, não diga nem que sim e muito menos que não. Tente evitar comiserações mas não faça deste pé na bunda um retumbante “eu não gosto mais de você”. Se me amou, e desconfio que sim, não diga que desamou ou que “ainda ama, mas não dá mais”. Diga, apenas. Para que eu saiba e que, embora na dúvida, não fique embriagado de verdades. As verdades, estas que a gente pede sempre, são boas da boca pra fora, da boca pra dentro, da boca para a boca. Mas quando são assim, são só melancolias ríspidas e azedas, antecipações daquilo que o tempo, e só ele, pode reconhecer, reconduzir, refazer, rever e uma outra porção de verbos todos de fim e de começo.


Que a paixão acabou, até eu, que não quero verdades, sei. Não insista. Mas ao menos lembre que foi bom, foi do caralho, foi o que foi, fomos, fui, foste. Mas faça isso sem deixar esperanças. Estas devem morrer, antes das verdades.


Minta. Mas não se omita. Hoje eu não quero verdades. Só quero que acabe logo. Só isso.



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Cotovelos

Este é um dos primeiros textos de uma série: Cotovelos.

Tem alguns espalhados nos caderninhos de anotações, divagações, contas penduradas e afins. Aos poucos, os recupero.

Uma polida aqui e outra ali.

Devia ter uma canção ao fundo, que ainda não escolhi.

Mas cá está, já exposta no balcão desta mercearia.

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E ela?


Bom, ela se foi. Acordou, fez a mochila e se foi.


Tinha calcinha, sutiã, calça, camiseta e um vestidinho de alça, tão lindo.


E foi tudo, na mala.


Levou também meus possessivos todos: minha, nossa, teu.


E ela? Bom, ela se foi. E quando acordei, só o travesseiro.


E aquele perfume. E aquele pijama que eu lhe emprestei.


E ele?


Bom, ele está a olhar para o teto. Acordou, entendeu e está lá.


Olhar ao nada. Olhar ao lado vazio. Olhar para dentro. Olhar, de olhos fechados.


Tinha raiva, lembrança, saudade e umas memórias, algumas tão lindas...


Daquilo, tudo ficou. Só os possessivos ficaram indefinidos.


Aquele perfume? Não sabe.


Mas o pijama... outra usará.


sem data. no caderno, o azul.



domingo, 4 de dezembro de 2011

Ao Doutor


"Faço uma promessa: Se a emenda das Diretas passar, não vou para a Itália e fico jogando no Brasil."



Puta dia triste. No meu Estrelão, sempre um espaço para gastar nostalgias, saudades, tristezas, alegrias, memórias, criancices, narrar jogos sozinho, gritar euforias de time, ser torcida e arquibancada, um refletor desligou. E um baita refletor. Daqueles que só de lembrar, da luz, da cor, da felicidade, dói tudo nas entranhas. O melhor do futebol é aquilo que guardamos de criança. E é sempre ruim, muito ruim, quando um pedaço deste infante se vai. Já não existe Papai Noel, já não existe mundo colorido, já não há andar descalço... e agora acabou-se 1982, acabou a única copa do mundo de futebol que, de fato, existiu.


Sócrates era corintiano. Era brasileiro. Era uma sumidade. Mas era palpável, próximo, do caderno de anotações. Era incongruente como nós, falava de política com os mesmos desatinos, acertos, erros miseráveis, sonhos e a doce utopia, a única que nos faz realmente gente, de querer um mundo diferente, menos macambúzio, menos marquetinque, menos comércio, mais papo de bar, mesa de ferro, futebol de botão. Sócrates não se acomodava na política do possível e por isso Sócrates nunca engoliu 94. Porque 94 é vitória, conquista, maravilha. Mas é a política do possível, é o governo sem reforma agrária, a inexpugnável vitória da real politik, da arena multiuso, da arquibancada com cadeirinha de espuma para a bunda.


1982 acabou. Zoff não vai mais me acordar durante o pesadelo. A cabeçada de Oscar no final do jogo nunca mais vai passar a linha. José Silvério nunca mais gritará “é campeão”. Zico nunca mais terá a chance de cobrar a penalidade que Gentile fez, a camisa do galinho nunca mais será remendada. Serginho não dará uns safanões naqueles italianos de ternos armani. Paolo Rossi não será alvejado por uma bazuca quântica de oito mil polegadas. Mestre Telê nunca mais fará a coletiva ao lado da taça FIFA, talvez a taça que mais bonita ficasse na sua coleção. 1982 ficará naquele gol espetacular, mágico, inenarrável, estupidamente soberbo do Doutor contra o maldito Dino Zoff, onde a pelota foi entrar cantinho da meta, no único lugar do mundo que deus pode ajudar.


Que os Deuses, na peleja de hoje a tarde, coloquem o Sócrates no time dos sonhos. É dele a braçadeira. É nossa a saudade. Que o Corínthians de hoje jogue por ele, menos pelo título, menos pelo campeonato, que o time do povo, sem demagogia alguma, possa, ao menos hoje, ser o time do povo. Sem o possível. De coisas possíveis estamos todos com o saco repleto, absolutamente farto.


Sócrates, peço benção Doutor. Te cuida.

11. dezembro, 04.

Texto também publicado n'OsBolonistas:

http://osbolonistas.zip.net/arch2011-12-01_2011-12-31.html#2011_12-04_13_18_42-2402205-25