Este texto é para os meus meninos, Marco Antônio e Leonel.
Outro dia mesmo, numa festa de aniversário, coloquei uma fita no pulso deles, fita dessas que fecham as "lembrancinhas". Dei três nós e disse: "Façam três pedidos, um para cada nó."
O Grande sorriu farto, naquele jeito zen dele. E o Pequeno emendou: "Pai, mas como é que eu vou fazer para saber se os pedidos vão se realizar?"
Respondi que não tem como saber, mas que agora que o desejo foi feito a gente tem que tentar ajudar a tal fita e torcer. Os dois riram, desconfiando da tramela do pai.
As fitinhas ainda estão nos pulsos dos dois. Que tenhamos sorte.
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Senhor do Bonfim
“Sabia, filho, que
toda noite, para a primeira estrela que a gente vê a gente faz um
pedido?” O menino arregalou os olhos e ficou imaginando aquelas
possibilidades. O pai apertou bem forte a mão do menino, fechou os
olhos e deve ter feito um bom pedido. Sorriu. O menino emendou: “Pai,
mas porque a primeira estrela?” E o pai explicou que tinha sido o
pai, o avô no caso dele, que tinha ensinado este truque. E que tinha
que ser a primeira estrela porque ela era a primeira a brilhar depois
do Sol, que todos sabiam era a grande estrela da constelação. E que
as estrelas são sempre atentas a responder com as realizações dos
desejos esta pequena canja que o Solzão lhes dá. O menino sorriu
também. Intuiu que o pai contava uma dessas lorotas de encantamento,
mas ficou feliz da vida. E compartilhou com o pai um desejo: “Pai,
quero que o São Paulo seja campeão.”
Foi uma doce
gargalhada. Acompanhada de abraço, cumplicidade. Mas o pai advertiu:
“Eita, que tem que ser segredo, senão a estrela não atende! E
filho, não se pode fazer pedidos assim. Porque as outras pessoas
também pedem para as estrelas e se todas elas pedirem para que o
time seja campeão vai acabar tudo empatado e no fundo não vai
vencer ninguém. Faz um pedido só para você. Do tipo um beijo, um
brigadeiro ou uma figurinha difícil.” E deu um beijão no menino.
De fato, todos
sabemos que esses desejos nem sempre são atendidos... O problema é
determinar a “primeira estrela”. É um problema técnico dos mais
graves. Na primeira desilusão amorosa do guri, afinal a menina
resolvera voltar para a escola com o menino da quinta série, pois a
culpa na tal estrela. E foi ter com o pai. Percebendo a severidade do
momento a explicação foi técnica e bastante convincente: “Ah....
sempre temos que cuidar das estrelas. Sabe que Vênus, que é um
planeta, como a Terra, e não uma estrela, como o Sol, brilha tanto
que a gente confunde tudo? Sabe aquela música de carnaval, a da
“Estrela Dalva que no céu desponta”? Então, esta estrela aí
não é nada de estrela. É Vênus. Que brilha tal qual a Lua.” E
quase rapaz não gosta muito de beijo de pai, então foi um bom
abraço, daqueles demorados de rachar costela. Mas sorriu, tal qual o
primeiro desejo.
Numa noite de céu
todo manchado de luzes, cometas, cadências e que tais, o rapaz foi
direto ao pai e numa troça replicou: “Pai, eu sempre peço para
ganhar na loteria.” Mas teve que ouvir outra: “É por isso que
nunca dá certo. Este pedido é tão besta que todo mundo deve fazer
o mesmo. É o tipo de coisa bem boba de pedir. Um desperdício.”
Mas ainda teve debate: “Xi, pai, a lista de coisas que não pode é
muito grande. Acho que não vou pedir é mais nada.”. “Deixa que
eu peço por você.”
No fundo o menino, o
guri, o rapaz, todos eles sempre souberam que o pai sabia que as
estrelas não tem como atender pedido nenhum. Ainda que uns vários
beijos, umas questões de provas, um gol no fim do jogo do campeonato
da classe ou um ingresso para aquele filme proibido teimassem em dar
razão ao improvável.
12. maio, 15.
Um comentário:
Lindo que só! E delicado.
João tem uma dessas fitinhas no braço. Colocamos a fitainha em Salvador. Ainda não caiu.
E já me deparei com a pergunta: - Mãe, quando vai cair? Eu vou ganhar o brinquedo mesmo?
Delícia mesmo é exercer este papel tão importante pra nós, talvez até mais do que pra eles: ser pai e/ou mãe.
Beijo.
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