quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Cartão de Ano Novo - Que venha 2013!


Já que o mundo...

É que uns vão viajar, outros vão sumir das internets, outros sei lá o que. 

Então, para quem visita a quitanda:

Saiu do forno a ceia de ano novo!!!


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Notas sobre o fim do mundo e desejos dum mundo novo!



Outro dia ouvi que o mundo ia mesmo se acabar. Desconfio que um dia irá, mesmo. Ainda que seja o fechar de olhos. Sou dos ateus que acreditam em deuses e deusas, sobretudo estas, mas sempre no plural. Faço oferendas aos santos católicos, principalmente Francisco e Benedito. Gosto da igreja perto da minha casa na infãncia, por causa da luz, luz mesmo, do sol, quando entra pelos vitrais. Gosto daquela igreja ali na Liberdade, pequenina, numa travessa, tem cara de milagres. Faço questão de acender incensos em casa para acalentar aqueles que me visitam, e são muitos, embora de espiritismo tenha só as histórias da família por parte da minha mãe, principalmente da Vó Teresa, e da minha saudosa madrinha, Jane, tia do meu pai. Afago Iemanjá quando vou ao mar, pensando nela e torcendo – pedindo – para que ela leve as coisas ruins com as ondas do mar. Ponho os pés numa bacia de sal grosso e tem gente que eu não gosto de ficar muito junto, porque saio pesando uns dezoito quilos a mais.


Sempre acreditei muito nos homens e nas mulheres e ando a aprender que há homens-mulheres, mulheres-homens e acreditar muito neles. Por isso tenho os deuses e as deusas nas minhas preces, que são conversas comigo mesmo, meus infinitos. Mas ando com uma descrença que beira o desânimo. Porque cada vez mais somos “arenas” com almofadas do que estádios com bandeiras, somos cada vez mais só cerveja importada, carro do ano, televisão de plasma, mais prédio de escola do que espaço que educa, mais governabilidade e menos tesão, mais posto de gasolina e menos sapataria, mais grife que alfaiate, mais falo viril varonil do que pinto.

Sincera, e honestamente, o mundo não acaba no dia do calendário maia. E não é porque eu não acredite nessas bobeiras, que de bobeiras tem só o erro na data e as catarses injustificadas justificadas só para ganhar uns trocos. É este maldito desânimo que insiste em ser enfrentado pelos meus botões, pelo “bola pra frente”, “me faz um carinho, neguinho”, “cafuné, dengo, mamulengo, saudade, chocolate”, “pai, me dá cá um abraço”, “eu te amo”, os vestidos floridos, os girassóis, os tubinhos pretos básicos, bola de futebol, torresmo e cousinhas assim, aqui, ali, alhures e acolá. E com o sorriso de quem me lê.

E que apesar do fim do mundo, há muitas linhas que ainda não escrevemos.


Feliz Ano Novo!!!



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Os maias só queriam eram vestidos floridos

 






Acordou totalmente empapado, suor. É verdade que lá fora fazia um calor de matar guarda, mas era verão, ou quase, e o calor da cidade já era mais comum do que nota de dois reais naquela época do ano. E que a janela estava tão escancarada que a luz do sol, lá pela hora do relógio, deu bom dia, boa tarde e quase antecipou o boa noite. Mas aquele suor todo era novidade.



Naquele levantar trôpego caminhou lentamente para o banheiro. Pensando na vida, desde cedo. Na conta do cartão de crédito, no crédito imobiliário, na chance de pegar um coletivo menos cheio. Mas aquela camisa molhada lembrava era da noite, do sono, trazia perguntas outras. Quem diria que esse calor ia fazer suar tanto?



No fim, escovado os dentes, água na cara, ainda deu tempo de voltar ao quarto e tentar esticar um pouco mais o sono. Aqueles cinco ou dez minutinhos que fazem toda a diferença, que noticia como será o dia: de fastio ou de intuição. Deitou...



Ela era linda, naqueles olhos que dialogavam com a boca, no sorriso que perfumava o busto, nos seios que alegravam o mundo, no doce meneio. Nem sequer se lembrava de conhecê-la direito, de nenhuma tarde de praia, de pouca conversa. Mas se gostavam, empatia e aquela coisa que faz querer bem um outro. Nada de flerte, rosa, poesia, pé de ouvido, no máximo um “Ebony Eyes” nalgum bailinho de colégio, na adolescência. E, sim, teve aquele dia em que se encontraram sem querer no meio da rua, tomaram um café e cambiaram  confidências, daquelas confidências de folhetim: pouco mais que uma conversa de elevador, mas bem menos que novela. Neste dia, lembra, pensou com os botões em convidá-la para um chope.




Toda vez que um vestido aparece, qualquer vestido, há sempre uma chance real do mundo virar um lugar realmente fantástico. De uns tempos para cá, inclusive, até pensou em encontrar um sarongue ou mesmo um desses escoceses. Porque se nas mulheres é aquela lindeza toda, quem sabe... Mas os floridos, ah... os floridos. Qualquer encantamento, arrebatamento, apartamento, só para fazer rima. E ela, num florido, notou. E o despertador.




Correria. Aqueles dez minutos viraram quinze, viraram até sonho. E a pressa, que nunca é virtude, toma conta do ânimo. A velha história do exagero: o soninho de dez minutos, restaura. O de quinze, fustiga. Fustigado, foi ao banho, tomou café em pé, correu para o ponto e teve certeza que teria um dia complexo. No ponto, ao lado da banca, o jornal dava conta das notícias de sempre. É notável como os jornais se aprimoraram, com o passar do tempo, a dar as mesmas notícias todos os santos dias...




No ônibus cheio se lembrou do sonho... dela... do vestido... E teve uma vontade varrida de doida de descer correndo no primeiro ponto, procurar se tinha o telefone dela na memória do celular e mandar um oi. Achou que o tal sonho era algum pressentimento, loteria, morte, vestibular ou saia rodada: sabe-se lá os meandros da mente e da alma humanas....




Na mesa do escritório, o calendário: 20 de dezembro. “Puta que o pariu!!!! O mundo acaba amanhã!!!” Riu, farto. Aquela história de calendário maia, de fim de mundo e cousa então. Ao menos valia a brincadeira, valia assoviar Assis Valente no “E o mundo não se acabou”... “beijei na boca de quem não devia”... “peguei na mão de quem não conhecia...”. Outro café.




E ainda sorrindo com o fim do mundo foi dando aquela agonia, aquela dor inexplicável entre o ânimo e o queixo, aquela vontade súbita de gritar algum palavrão escabroso. Aquela apatia de querer logo que a profecia estivesse corretíssima e que fosse antecipadíssima.




“É isso!!!!” E saiu correndo só parando na primeira florista que encontrou. No girassol mais bonito que encontrou mandou bilhete: “Dizem que o mundo acaba amanhã.”



12. novembro, 05.

Obs.: para ler e depois ouvir Assis Valente, na versão mais famosa, na voz da Carmem Miranda: http://www.youtube.com/watch?v=abVNWgeonOY