segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sem mais silêncios...

A escalada do absurdo no Rio de Janeiro, e em SP - Hideki e Rafael continuam presos -, precisa de uma intervenção direta do governo federal e das instituições do judiciário, dos órgãos de classe e de representação.

Há um entendimento disseminado entre muita gente de que os protestos de junho e os protestos contra a copa perderam a mão. Se perderam e na violência encontraram o inevitável desacordo que esvazia multidões, pelo medo e pelo distanciamento.

Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, bem diferente. Ao dar de ombros para a violência de estado, em primeiro das forças policiais e agora das estruturas do poder judiciário, boa parte dessa gente que ficou ressentida, magoada, perplexa ou apenas discordou do rumo que uma parte das manifestações e dos ativistas tomou, estamos criando um cenário muito ruim, de autoritarismo como única resposta possível a qualquer tipo de dissenso.

Cobro do governo federal uma postura mais firme e incisiva porque a questão é, antes de tudo, política. Foi não condenar a violência do estado um dos motivos para que este descalabro acontecesse. Porque a mentalidade policialesca é binária - ora, se precisam da gente para segurar a turba não podem condenar nossos métodos. Não é assim, não pode ser assim.

Cobro do governo federal porque foi este governo, na verdade começou com o antecessor, do mesmo partido e com as mesmas orientações políticas gerais, que mandou o exército "garantir" a paz em Belo Monte e Jirau. Foi este governo que optou por demonstrações de força ao invés do diálogo. Sim, é verdade, o diálogo cansa, faz as obras patinarem, rompe cronogramas. Mas a história colocava os petistas num outro front, que não o da criminalização de lutas e reivindicações. Os presos em Belo Monte são o primeiro sinal de que algo desandaria. Desandou, desandou bem.

Cobro do governo federal porque o Ministro de Estado da Justiça tem um histórico importante de militante político pelos direitos humanos e na defesa de procedimentos com base nos princípios da ampla defesa e do devido processo legal, que não podem ser encarados por nenhum jurista, advogado, estudante, estagiário, juiz ou promotor como mera filigrana, como entrave ao desenvolvimento, como obstáculo. O silêncio de José Eduardo, até porque eu militei com ele em SP, é assustadoramente conveniente e covarde e me decepciona, muito, mais uma vez.

Cobro do governo federal porque não enxergo nem em Alckmin em SP, nem em Cabral e seu sucessor no Rio nenhuma capacidade de interlocução e ação diferentes. Esses governos fomentam o estado policialesco e são cúmplices desta perversão. Ademais, a fraqueza, a tibieza e a postura nariz empinada do PSDB de SP deixou que estruturas paralelas de poder se redrudescerem: a polícia e o crime organizado, simbolizado paradigmaticamente no PCC, essencialmente, são dois estados paralelos.

As instituições como a OAB - que já se manifestou, mas muito timidamente - o Conselho do Ministério Público, o CNJ também devem se posicionar. Sim, algum tipo de movimentação do governo federal fortaleceria este tipo de iniciativa. É necessário.

Não se pode silenciar porque o pleito eleitoral está logo ali, batendo na porta. Esta mesquinharia eleitoral com efeito deletério pode até lograr êxito na urna, no votinho. Mas nos inviabiliza como sociedade. Como no poema de Brecht, pode ser tarde o dia em que tivermos que gritar:

"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei.
Agora estão me levando.
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.”

É isso. Não é a copa. Nunca foi.

Um comentário:

ex-amnésico disse...

Foram soltos.

Nossas autoridades não sabem a diferença entre detergente e napalm...


Bom voltar aqui. Tomara que dure...

Abraços mnemônicos.