Segundo o Houaiss, Quodore é uma pequena porção de vinho, uma pequena porção de alimento. Também é uma bebida ordinária, um café ralo, algo para o desjejum. Aqui, são fragmentos, ideias, pensamentos tolos, outros tipos de pensamento. Enfim, um cadinho de alimento...
terça-feira, 17 de junho de 2008
Eclipses Lunares
Inferno Astral
Sabia perfeitamente quando o humor saía mais cedo, apressado. Reconhecia, logo ao jornal, que ler o horóscopo era o presságio de um dia absolutamente perdido. Este autoconhecimento lhe dava náuseas, não importasse o horário da constatação. E esta constatação era repentina. E certeira. E era o horóscopo.
O daquele dia discorria algo sobre vibrações lunares. No que ele logo desconfiou que fosse chover. E que, evidente, o guarda chuva ficaria no carro. Ou no escritório. Ou pior, em casa. Na mesa de centro. Esperando pelo nada.
Estas certezas absurdas, decorrentes naturais do processo de flagelação do ânimo, se tornavam materiais, não vultos, nem sombras. Eram a grandiosidade da enxaqueca, a moleza da gripe, a ânsia dos males estomacais e os pruridos da pele seca.
Tivera imensa e recorrente vontade de se prostrar na cama a espera do humor. Pelo breve retorno daquele bom estado de espírito. Jurava cancelar a assinatura do jornal, para nunca mais ter com o horóscopo. Formulou a teoria metafísica do caos da alma, em quase segundos, no trajeto rápido entre o chuveiro, a toalha e o quarto de dormir e vestir, que consistia em anotações sumárias e a tese de que um homem de bom humor não recorre ao horóscopo. E as vibrações lunares serviriam apenas para as grávidas e para os cortes de cabelo.
Sentia um frio terrível de bater os dentes. Vestiu o primeiro casaco que descobriu vazado por traças. Não encontrou as meias limpas nem a camiseta branca para colocar por baixo da camisa de trabalho. Os punhos puídos da derradeira camisa azul, a única passada e lavada disponível, lhe tiraram as últimas gotas de estima.
Neste dia desceu as escadas a pé. Para evitar qualquer vizinho, má sorte, fofoca ou bom dia. Rompeu o tendão e caiu estatelado no lixo mal fechado do quinto andar. No jornal amarrotado a página astral: “Não vocifere com o destino.”. Riu. O ridículo trouxe o humor, trotando belo cavalo e trajando armadura. E pelo menos o zelador pode ouvir anedotas...
2008. junho.
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5 comentários:
Então, você também é da alcatéia de feras lunares que rondam pela noite? Eu o saúdo, companheiro!
Não vocifere com o destino! Poderia ser mais a propósito do que eu acabei de escrever?!
São 03:39 ; bela hora para o humor chegar!
Grande abraço insone (e está, você também, finalmente 'linkado')!
Vc sempre se supera neste misto de humores...muito bem descritos aqui...
Abraços.
boa noite! passando para fazer uma visita e saber as novidades
bjoka tudo de bom
(risos)
Vejo as linhas do horóscopo como algo mais psicológico do que previsível.
Por isso, não gosto de programar meu mau-humor.
Abraços.
Adorei!
Faz todo o sentido você ter lido meu texto e se lembrado do seu. Parece que narrou um dos meus dias. rsrs
Obrigada pela visita no blog.
Fiquei muito feliz! ^^
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