A crise e a música cubana
É difícil imaginar situação mais estranha do que aquela. Escrevia loucamente mais um parágrafo de textos insanos sobre a crise mundial. A cada minuto e a cada segundo queria escrever mais. Queria que alguém soubesse que o que ele acha da crise, o que ele acha desta rotina sufocante dos que buscam o sucesso, da usura, dos bancos, da governabilidade, do caos.
Escrevia com uma compulsão que fazia os botões do teclado do computador pularem de raiva. E diversos impropérios lhe tomaram de assalto e teve ganas de colocar no texto xingamentos a todos aqueles que fizeram do seu sonho mero desencanto. Escrevia com toques rápidos e as letras se misturavam numa algazarra que mais demonstrava o seu estado de ânimo do que as idéias que tinha naquele momento. Não eram idéias, definitivamente. Eram desafogo, descarrego e aflição.
Emputecia-se, e com palavrão definia com exatidão o sentimento atroz que lhe consumia o fígado, com as justificativas fáceis para matar as velhas canções das praças e os antigos quereres de vermelho. E jorravam letras e mais letras que teciam as mais virulentas críticas para a excomunhão de alguns lúcidos. Era uma febre e as palavras saltavam para a tela do computador com uma velocidade de alívio. Transpirava ofegante e sentia uma espécie de entorpecer. Que ninguém fosse ler, mas desopilava tudo. Como um vômito feroz. Como uma vertigem alucinante.
Já não tinha mais certeza de quantas horas passara ali na frente daquele computador, destilando toda aquela toxina que corroia as vísceras.
Respirou, enfim, aliviado, se levantou e foi ao baile dançar com ela. Tocava um bolero, os passos são mais fáceis para os iniciantes.
09.março.
2 comentários:
Mais uma dose, por favor.
Besosss
O bolero deveria bastar para desopilar (os passos mais difíceis, para iniciados, têm esse condão!), mas por ele e por ela eu acho bom que antes tenha havido o atropelar de palavras. Tem hora pra tudo.
Por falar nisso, que horas é hora de chopp, hein?!
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