quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mediações de Interesses

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Há sempre um querer de paz. Mas em certos negócios, a paz não é necessariamente calmaria. E neste aparente paradoxo foram tocando os dias. E as noites. Sem assembléias, cumprimentavam-se mais por gestos do que com palavras. E o gestual incluía pequenas e perversas provocações. Os corpos é que comunicavam interesses, desejos, vontades e pudores. E era nos pudores que eles se concentravam ultimamente. Quem sabe nestas descobertas encontravam maçãs novas e saborosas. Com sorte, indecorosas.

Nesses quereres de paz compreenderam a importância das palavras. Mas sobretudo do silêncio. Era no silêncio que não os incomodava que residia a volúpia de outras traquinagens. Feitas a dois. Juntos. Um e outro. A paz também não é conservadora. Se exige um certo radicalismo: transformador, mutante, pungente.

Ele reparava cada dia mais no sorriso dela. E por isso fazia do humor uma flauta. Gostava do riso, do som do riso, da cor do riso e do gosto do riso. Ela, quando percebeu, usou charme, mas sempre acabava por se entregar em marotos movimentos da boca. Do sorriso ao manifestar desejo, um pulo. Acabavam, quase sempre, em brincadeiras, além dos beijos.

Para ela, era o entusiasmo dele. Sim, como levantadora de volibol ela alçava bolas doces e açucaradas para que viessem discursos inflamados, goles de coisas novas, convencimento: de convencer e de convencido. E quando ele sacava os propósitos dela gostava de apertar o corpo dela. Notadamente a bunda.

Há sempre um querer de paz. E se paz é tranquilidade deve ser alvoroço também. Nascem idéias, flores, mimos, agrados, taças, copos, jogos. Descobertas, desacertos, enredos. No fundo, bem lá no fundo, a paz não é paz não. É fogo sem ser fogueira.

09. outubro, 21.

Um comentário:

Eliana Klas disse...

...Brincar com as palavras, cheias de sentidos, cheias de entonações...
muito bom aquilo que se diz, sem dizer de fato...