quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Conversas sobre o clima...

Opa.... depois de um bom tempo em que as histórias ficavam na estante sem ir para o papel, ou para a tela, saiu esta aqui...

Gostei.


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“Nossa, tá quente hoje, né?”



Depois de inúmeras recomendações, resolveu enfrentar aquele velho preconceito cosmético: comprar um hidratante de pele para enfrentar a secura do tempo na cidade louca.


Comprou qualquer um, de marca. Nem tão caro, nem tão barato. E também não se preocupou em comprar algo específico para o “sexo masculino”. Já que ia romper o preconceito, que fosse um rompante sem medidas. Na hora de pagar quase se arrependeu. Mas foi em frente.


Usar hidratante depois do banho foi uma das maiores revoluções estética e cultural promovida ao longo de mais de trinta anos de existência. Comparável, talvez, ao uso de alpercatas na adolescência para irritar o pai. Era uma dessas ações que diferenciam o discurso da prática. Tascou o hidratante no corpo, principalmente naquelas áreas atingidas pela magnífica coceira da pele seca. Reparou que nunca antes tinha tratado sua panturrilha com tanto esmero. Riu, de si mesmo. Farto, em ambos os sentidos.


Ficou aquele cheiro do hidratante na mão. No começo se irritou. O cheiro não saía. Mesmo lavando a mão com o velho sabonete da pia, líquido. Aliás, o sabonete líquido já tinha sido considerado por alguns anos a maior concessão de sua vida.


Mas o perfume do creme ficou no ar. Como tatuagem. Sem querer lembrou que conhecia aquele aroma, aquele cheiro, quase um gosto. Caraminholas pela cabeça, tentou encontrar a lembrança, captar, prender para se libertar daquele pensamento, que se tornava lentamente em obsessão. “De onde vem este cheiro?”.


Passou o dia com aquela indagação. Não curou. Piorou. Pirou, procurando o creme antes de dormir. Sonhou com o cheiro. “Quem é ela?”. Aquela constatação definitiva o fez sair da razão, se é que esta existe em algum lugar. O cheiro era uma mulher. Mas qual?


No meio da madrugada procurou fotos. Deitou sobre a agenda de telefone de colégio, tentando encontrar alguma lembrança da infância ou da adolescência que justificasse aquela... aquela... paixão. Sim, era paixão. Devorante, insinuante, monotemática. Precisava encontrá-la, desesperadamente.


Tudo, entretanto, era fragmento. Conseguia sentir a pele macia, o odor da pele. Via a cor, a textura, sonhava. Delirava, era ela. Mas quem era ela? O engraçado era que sabia tudo sobre ela: o prato predileto, o filme, a música, o parque. Pegou no sono, ridiculamente abraçado ao frasco do hidratante.


Dia seguinte, vida que segue. Todos os apaixonados ficam eufóricos para entrar na mais profunda desilusão no segundo seguinte. Uma ciclotimia maluca, ora inebriante ora enauseante. Não arriscou passar novamente no próprio corpo o tal do creme, como se fosse possível esquecê-la. Os apaixonados, por vezes, insistem nos esforços inúteis.


Vida que seguia. Rotina, mesurada, calculada. Relógio. Ônibus nem cheio nem vazio, o de sempre. Atrasado para o trabalho. Tempo seco. A coceira. “Devia ter passado, saco!”. Os mesmos rostos. “Oi, bom dia.”. Era a mesma moça que todos os dias descia no último ponto antes da Avenida Paulista...


10. setembro, 16.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dessas pelejas que não se pode escapar...

Aos leitores desta mercearia, essencialmente de contos, crônicas e poemas, um pouco mais de paciência. É que é preciso zelar por outras cousas...

Sim, é outro texto sobre política. É outra face deste balcão.

Sempre papeamos causos, histórias e.... opiniões.



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Em Brasília, dezenove horas...


Vou aqui panfletar mais um voto nestas eleições de 2010. E este pedido decorre da tarefa que considero mais importante neste processo eleitoral, talvez a mais difícil, mas essencialmente necessária: Eleger Ivan Valente, deputado federal por São Paulo.


Sim, é verdade. Por vezes, política torra o saco. Também é verdade, talvez uma grande verdade, que política não se esgota nos processos eleitorais. Aliás, as eleições tem sido cada vez mais despolitizadas, descaracterizadas e “cosmetizadas”. Mas é inegável que no processo eleitoral todos de alguma forma param para pensar um pouco sobre política. Sou daqueles que considera que devemos aproveitar esta possibilidade, com carinho.


Nossas ações são políticas. A opção pelo “bom dia” ao primeiro vizinho é uma decisão política. Compreender esta face cotidiana da política nos ajuda a compreender a importância do momento eleitoral. Contribui para que não nos esqueçamos do essencial. Daquilo que realmente deveria valer a luta.


Nestas eleições creio que há uma tarefa que não podemos fugir. Num processo tão marcado pela ausência do debate sobre a política, onde o raso é o mais fundo que se pode chegar, precisamos reconhecer que no Parlamento necessitamos de gente comprometida em discutir espinhos, em tratar da discordância, em lembrar do “bom dia”.


O Parlamento é o local onde as diversas idéias da sociedade são expostas. É o espaço de conflito onde o dissidente é fundamental. Alguém que tenha a dura missão de apontar feridas e que lute por aquilo que considera justo ou correto.


Dependerá de nosso voto, e sobretudo de nossa ação política, não deixar que o próximo Parlamento seja mais conservador que este que passou. Numa lógica onde o que prevalece é a “governabilidade”, mais do que nunca temos que levar ao Congresso Nacional vozes que cantem o dissenso e que não se acomodem com o discurso do possível. O Parlamento é antes de tudo, debate.


Por estas razões, a tarefa de reeleger o deputado federal Ivan Valente é fundamental. Trata-se de um mandato necessário.


A atuação de Ivan Valente na Comissão que discutiu as alterações previstas para o Código Florestal, denunciando propostas de mudanças na legislação que somente atendem aos interesses do agronegócio e que relativizam o conceito de “desmatamento” para atender tais interesses, demonstra a importância de ter alguém que diga “NÃO” e que lute.


O mandato de Ivan Valente é abrigo para lutas muito caras para todos nós que ainda sonhamos. É a certeza de que temas como a reforma agrária, a democratização dos meios de comunicação, a dívida pública e os investimentos do setor público, a luta contra o preconceito de classe social, raça, credo e orientação sexual, a educação pública de qualidade para formar gente e não para formar peças de engrenagem e a saúde pública e universal não ficarão de fora da pauta de discussões do Parlamento.


Ivan Valente é candidato a deputado federal pelo PSOL. Para se eleger um deputado, o partido precisa atingir ao “coeficiente eleitoral” que deve ser de mais de trezentos mil votos, somados os votos nominais e os votos de legenda. É muito voto. É muita luta, portanto.


Mas esta luta vale a pena. Perder um mandato tão necessário é perder um pouco de nós mesmos. É deixar de dizer “bom dia” com o argumento de que ninguém mais nos escuta. Que nos ouçam, então.


Fernando Amaral.
10. setembro.
O Ivan, na interntet: http://www.ivanvalente.com.br
No tuíter: @dep_ivanvalente (http://www.twitter.com/dep_ivanvalente)