Este texto é de 2007. E foi publicado lá nos "OsBolonistas"... Foi feito num dia 21 de agosto, para minha irmã, a Paula.
Na verdade, o texto era para a Pi porque é uma homenagem ao Raul Seixas, que ela gosta e muito.
Raul morreu em 21 de agosto de 1989. E por essas coincidências estapafúrdias, ele morreu em seu apartamento, cujo prédio, no térreo e nos subsolos, instalava o cursinho em que eu estudava... E eu sempre achava que aquele cara branquelo, magro, que tomava cerveja no boteco da esquina fosse um sósia...
É... #TocaRaul.
Mas também pode ser uma lembrança doutros tempos, de tempos do cursinho, de gente querida. De tempos queridos.
"Eu que não fico num trono de apartamento... Esperando a morte chegar...". É sempre bom rememorar que valhe a pena não ficar muito tempo no trono, por mais que a "taxa seja alta" vez em quando.
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Bolonistas: Tentem Outra Vez
E
já passou tanto janeiro... O São Paulo já era dirigido pelo Telê
Santana. Raí já era o camisa dez, mas ainda não era Raí. Perderíamos do
Vasco a final do Brasileiro, em pleno Morumbi. O
Palmeiras estava na fila, ainda. O Mário Tilico tinha feito goles
espíritas pelo Paulistão. O Ronaldo estava no gol do Timão. E recomece a
andar.
Ouro
de tolo. Era fim de tarde, cursinho. Frei Caneca. Da sala de aula
começamos a ouvir violões. Uma cantoria. Músicas de um homem só. Morreu.
Só podia ser isso. Aquele magrela que tomava cerveja no bar da esquina,
camiseta branca, não era um sósia. Era o próprio. Era ele. Só
percebemos depois das músicas. Gente sentada na rua. Muita gente. As
camisetas das sociedades alternativas denunciavam. Alguns rostos
choravam. A imensa maioria cantava. Fez-se uma roda na frente do prédio.
Pessoas sentadas. Cantoria.
Eu
prefiro ser. A metamorfose. Ambulantes. Era 21 de agosto. Era 1989.
Tinha eleição naquele ano. A primeira eleição para presidente. Era outro
Lula, que adorava cantar músicas dele em comícios. Eram
outros sonhos. O imbecil do Gorbatchov ainda não fazia propaganda de
loja de bolsa. Era o auge do fim. Da “perestroika”. Derrubaram o muro
nefasto e levantaram outro, que divide o mundo entre os “modernos” e os
arcaicos. Ser moderninho é legal. Tem cheiro de refrigerante sem açúcar.
A velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é amor. Sobre o que eu
nem sei quem sou. Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor. Era época
de vestibular. Era o primeiro voto. Era a nossa estrela.
Jesus,
deixa o seu pai de lado. Já se falava de Jesus como mercadoria. Mas
ainda era possível encontrar outros caminhos. Jesus, vai morrer
tranqüilo. Já sabem do seus problemas no Imposto de Renda. Ói... ói o
trem. Vem chegando de trás das montanhas azuis do Novo Aeon. Sim, éramos
todos um pouco dele. Em todas as homéricas bebedeiras do mundo há
sempre alguém a cantarolar que está queimando o fumo com Zezinho no
fundo do quintal da escola.
Esperando
a morte chegar. Dentro de um apartamento. Collor já era o caçador de
marajás. A revista “Veja” já tinha lado, emporcalhado. O João Dória
Júnior, do “Cansei”, já era cansado e desfilava com camisetas colloridas
e “pseudo-beldades”, de plástico. Pra lua a taxa é alta, pro sol
identidade. É preciso o carimbo. Alguém sabe onde está o disco voador?
Quereria ir. A mosca da sopa.
Já
sabem do seu plano para controlar o Estado. Qual plano? Não pense que a
cabeça agüenta se você parar. Já estamos parados, há muito. Ainda
comove aquele teu chaveiro escrito “love”.
Às vezes você me pergunta por que sou tão calado. Raul, sei lá onde você está. Fica bem, meu nêgo. Hoje o silêncio é para você.
21.08.2007