quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"O tal julgamento do século"


Bom.... tem um monte de conto começado... alguns poemas largados...

Mas a cabeça as vezes precisa ajudar o fígado...

Então, escrevo neste boteco sobre um tema que me deixa emputecido. Mas enfrentar fantasmas é um bom mecanismo para derrotá-los.

Segue lá...

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A partir de amanhã voltaremos aos monocórdios...

O julgamento do tal crime do século, o "mensalão", tomará conta do noticiário. Será a luta do bem contra o mal, o trololó do "só acontece no Brasil" e cousas do gênero.

Odeio o "mensalão". Por inúmeras razões o considero um dos mais execráveis exemplos de como estamos perdendo nossa capacidade de crítica e de reflexão em nome de uma estúpida – repito, estúpida - guerra de torcidas.

O episódio é, sim, um divisor de águas importante. Uma parcela do PT ruiu com o episódio. Entretanto, não foi a ocorrência ou não do valerioduto a responsável pela saída, pelo distanciamento, pela ojeriza. Houve um processo de degeneração em que o mensalão pode ser considerado a cereja do bolo, o broche que puiu o vestido. É este processo que deveria ser enfrentado por todos, com coragem, que fizeram e fazem parte do PT e que fizeram e fazem parte da esquerda no país.

O "mensalão" como mesada para parlamentares no Congresso Nacional parece que não existiu. Não há provas da mesada. Não há ligações das votações no congresso e os recebimentos de numerários por parlamentares. Ademais, muitos parlamentares agraciados eram do partido do governo o que dá a tese da mesada um status de carochinha. Bom, mas, porém, contudo, entretanto, é tão evidente quanto à luz do sol que o episódio não se restringiu a um "mero" caixa dois de campanha, de "financiamento ilegal de campanhas políticas". Este é o maior equívoco do PT: tapar a luz do sol. Circularam recursos provenientes de diversas fontes para abastecer cofres de partidos e de políticos e houve, sim, enriquecimento de alguns. Ora, o enriquecimento se prova pela alteração de "status" social, pela mudança de hábitos, pelo aumento do "consumo". E houve, sim, a utilização desses recursos como forma de pressionar e criar uma "maioria" parlamentar - do tipo, "olha lá como vota porque do contrário àquela sua dívida de campanha não será quitada..." - e uma folgada maioria partidária, interna - do tipo “olha lá como vota porque do contrário àquela sua dívida de campanha não será quitada”.

Mas o mais nojento do episódio é a demonstração da "nossa indignação seletiva". O movimento de combate à corrupção passa a ser na grande mídia (paremos com esta bazófia de PIG, esta bobagem inventada para justificar o injustificável) um movimento de desgaste do PT e do Lula, somente. Não se fazem matérias sobre a compra de votos no processo que alterou a Constituição da República para conferir à FHC a possibilidade da reeleição. Não repercutiram as denúncias sobre as falcatruas generalizadas, amplas e irrestritas dos processos de privatização. Não se fala da Alstom e das obras do metropolitano em São Paulo. Nunca mais se falou da inspeção veicular na cidade de São Paulo.

Agora chegou a hora do julgamento no STF. O que é outra excrescência, em razão do julgamento só ocorrer na Corte Constitucional em razão da insensatez do "foro privilegiado". Mas, na regra do jogo, que o julgamento seja o que deve ser. Que dentro do que está comprovado nos autos, seja a mesada, seja a cooptação, seja o caixa dois, seja o diacho a quatro, punidos e com o rigor que a lei exige. Que nos casos onde a prova foi impossível, que a regra do direito valha acima das regras de conveniências da "opinião pública".

Mas, sobretudo, que tenhamos coragem de sair deste episódio com menos cinismo. Que comecemos a exigir o financiamento público de campanha e mandar para o ostracismo aqueles que convenientemente deixam este debate ao relento, tanto nos partidos como no Congresso Nacional. Que comecemos a entender que as regras do processo eleitoral devem ser rígidas, mas devem ser de fácil interpretação, que não dependam de interpretações de gente iluminada. Que comecemos a enfrentar, de fato, a questão da democratização dos meios de comunicação, com o intuito de estimular a pluralidade de opiniões e diminuir espaços para calúnias, difamações, falatórios, fofocas nos meios de informação e formação de opinião. Que discutamos as razões da publicidade oficial, afinal o "valerioduto" - o tucano de Minas e o petista - nasceram da utilização de uma "agência de publicidade" como "intermediária" das operações, ser tão custosa, tão cara e tão desregulamentada (o princípio da impessoalidade é ofendido em grassa maioria das propagandas chamadas institucionais).

E que o PT saia da letargia, deixe de colocar a culpa em outrem, e entenda que não dá para fugir deste debate em nome de uma "pseudo" superioridade programática. Há que se reconhecer que no mínimo houve um grotesco, um gigante, um monumental erro político. Que este erro custou muito caro ao partido. E, porque não, custou muito caro à nossa história.

Por fim, o texto é repleto de ironias. Ter que explicar ironia mostra que o texto está é malfeito. Neste caso, este palpiteiro pede perdão. É o fígado que escreve. Odeio o “mensalão”.

agosto, 01. 2012.

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