Cócegas como sanção
O papel do legislador
Exercendo o papel de magistrado...
Bom... jogavam pebolim na sala... um "totó" daqueles pequenos, sem mesa, para jogar no chão.
Pela primeira vez em zilhares de anos o Pequeno aplicava uma sonora
goleada no Grande. Óbvio, utilizava de escaramuças diversas e
aproveitava a aparente boa vontade do irmão mais velho... "Pênalti!!!" E
colocava a pelota na frente do atacante e mandava ver... ainda reclamando com o outro: "Ó... não vale mexer nenhuma peça! É cobrança de pênalti!"
O Grande levava na esportiva, embora fosse só um disfarce da alma.
Lá pelas tantas, o Pequeno sai pela sala comemorando a vitória maiúscula.
Quando olha para trás, o Grande tinha mexido no placar e fazia um tento
de empate, quase colocando a bola dentro do gol. Pronto...
O
Pequeno rugiu em fúria. Ficou vermelho, raivoso, emputecido. "Você está
roubando!!! Isso NÃO vale!!!" E partiu para o confronto.
O outro, ria. Mas percebeu-se em apuros.
Tive que intervir: "Chega! Vamos acabar com esse jogo. Quem não sabe brincar, também não joga!"
....
Minutos depois, mudaram de brincadeira. Com uma figurinha do
D'Alessandro do Internacional de Porto Alegre ("Pai... olha... é uma
figurinha Do Alessandro, do Náutico!") começaram uma renhida batalha de
bafo.
O Grande anda a aprender mumunhas do jogo. "Olha, isso
não vale, quinô." (Nota da redação: quinô é quando a figurinha ao virar
fica apoiada em alguma coisa, não completando totalmente a "virada", o
popular "deu quina nalgum lugar"). E o Pequeno, ia aceitando, sem muita
certeza de que a regra estava correta.
Bem.. a toada seguia.
"Opa! Assim não vale... deu colinha!". "Sim, desse jeito pode... é
"canoa" e a gente pode assoprar!" (Nota da redação: "canoa", desde
antanho, é quando a figurinha fica em formato de barco e podemos fazer
vento com as mãos para ela virar). Evidente, o humor do Pequeno foi se
alterando, para pior.
Percebi. E, rápido, ligeiro, antes do
caos, estabeleci regras. Sentado ao lado deles, no chão, mandei: "Olha,
se o Pequeno ficar bravo eu pego e faço cócegas" - E pequei o menino e
desatei a fazer cócegas. Os dois riram, amenizaram a disputa. "E se o
Grande provocar.... também faço cócega." E dei um susto no mais velho,
fazendo-o contorcer. "Eu sou o juíz!".
Enfim, lá pelas tantas,
depois de cócegas aqui e alhures, o Pequeno pegou as manhas e começou a
vencer... E, óbvio, começou a sacanear o outro. Que ficou contrariado,
quase que visivelmente. Antes da cousa descambar, soltei:
"Olha, Pequeno... não é porque você pode provocar que você pode
exagerar... você está extrapolando seus direitos... vou fazer cócega
também!!!" O outro abriu o sorriso.
"E você... se ficar bravinho... também...".
Depois de algum silêncio (e depois de perguntarem "o que é
extrapolar?")... os dois pulam em cima do pai.
"Paiê.... faz cócega!!!".
Um comentário:
Ter irmão é também ter alguém pra azucrinar pro resto da vida...
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