Segundo o Houaiss, Quodore é uma pequena porção de vinho, uma pequena porção de alimento. Também é uma bebida ordinária, um café ralo, algo para o desjejum. Aqui, são fragmentos, ideias, pensamentos tolos, outros tipos de pensamento. Enfim, um cadinho de alimento...
quarta-feira, 12 de junho de 2013
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Películas Protetoras, Amém.
Outro
dia comprou um revólver. Disse que se sentia muito inseguro, rua escura, gente
má e tudo mais que é isso mesmo que dá, que medo é assim, quando toma, contorna
a alma com filme preto. Outro dia, usou a arma.
Era
manhã e saindo cedo, e atrasado, suava desenganos diários: a hipoteca, a escola
das crianças, o carro, o carnê da televisão mega polegadas, o carnê da carne, o
desodorante, a fama que não veio, o chefe, o logro, a covardia, o atraso na
hora de acordar, o atraso e não tomou café, o atraso e a dívida com a esposa,
de carinho.
O
trânsito caótico. Já fechara uns dois outros apressados, já passara buzinando
por cima da faixa de pedestre, estava atrasado sempre pensava que nessas horas
também deve levar em conta relógio, condomínio e livro de ponto, xingou a moça
braço, xingou de velho, xingou de bicha, gritou. E evidente, dentro do carro
era assim. É como minha casa, porra, faço o que bem entender, caralho.
Engraçado
que o mesmo filme preto que encobre a alma, nos casos do medo, é aquele que
cobre os vidros do carro. Tenho medo de ser assaltado e o filme dificulta que
os ladrões me vejam, me notem, me invejem, cobiça, atiça, lixa. Mas é o mesmo
filme que protege a mãozaça na buzina porque aquele filhadaputa me fechou. E
também impede que se olhe no rosto daquela outra, que, pacientemente, deixou
vez no cruzamento, na rotatória, mesmo tendo a preferencial. Não se olha nem
para agradecer, é o filme que me protege. Bege, opaca, cinza, nula, óbvia,
ridícula.
Mas
foi o maldito que desceu do carro. Como imaginar que ele só queria conversar,
veio tão bravo, tão puto, tão armado de gritos. Bom, vou dar um susto nele,
abaixa, pega a arma, sai gritando: “e agora, palhaço, vai ficar manso?”. Tomou
um tapa na cara. Um tabefe, que ressoou avenidas, ruas, alamedas, a moça do
carro ao lado, o que vão pensar, o que vão pensar, o que vão pensar. Atirou.
Pelas costas.
O
mesmo filme preto, a arma, o corpo na hora morto, mote, anote: fim.
13. junho, 07.
lista para a despensa
breves cotidianas,
crônicas da cidade
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