Passes e Passos, para fora do mesmo compasso
Há
uma profunda incompreensão quando movimentos sociais, populares,
espontâneos, brotam contra governos que se rotulam como de esquerda...
E é engraçado que as reações são similares, para não dizer idênticas,
aos daqueles que são rotulados como de direita: deslegitimam, criam
maniqueísmos, baderna, vândalos, protestar pode mas isso aí é bagunça.
Não é fácil, não.
Porque compreender estes movimentos, mais do que uma tentativa
necessária, é pensar um pouco sobre nós mesmos, sobre nossos equívocos,
sobre nossas traições.
Em 2011, sim, em 2011, durante o governo
Kassab, eram vereadores do PT que se diziam solidários ao Movimento do
Passe Livre. A crítica era contra a abusiva majoração da tarifa, a
rudeza e a truculência da polícia e cousa e lousa. Os embates entre os
vereadores e a polícia foram capas de periódicos e as falas eram de que o
movimento estava corretíssimo em suas reivindicações e ações. O próprio
site do PT tecia comentários de apoio, solidariedade e compreensão: http://transportesptsp.blogspot.com.br/2011/02/repressao-do-kassab-lembra-os-tempos-da.html
Não se pode exigir o "monopólio" das reivindicações justas. Este é o
problema central. O governo municipal está perdido, sim. Está perdido
porque levou a questão da tarifa do transporte público para um debate
meramente "técnico", aquele papo de contrato, reajuste abaixo da
inflação e um protocolo de boas intenções, do bilhete mensal à
construção de novos corredores. E aí, atônitos: "Poxa, mas tudo que é
correto nós estamos fazendo e prometendo que vamos fazer. O que esses
meninos e meninas querem é absurdo."
Não é. Porque o debate é
político. O reajuste de vinte centavos tem impacto brutal no bolso de
quem usa o transporte público diariamente. É a diferença entre o cinema e
o ficar em casa assistindo ao "Zorra Total". Entre a cerveja e o
cachimbo. Entre o passo e laço.
Dizem que há um problema neste
Movimento do Passe Livre, que eles não tem uma liderança reconhecida
que possa "negociar". Que eles são jovens de classe média, que não usam
diariamente o transporte público. Que eles vestem toucas, cobrindo
rostos... Cuidado, porque mais que incompreensão podemos correr o risco
de reproduzir conceitos que até ontem condenávamos.
A questão
da liderança e da "negociação" nos remete a um dilema sério e cruel. Em
que medida as negociações com lideranças dos movimentos de esquerda não
desaguaram numa retumbante diminuição de direitos ou em pequenas
traições (uso "pequenas" porque eu também cultivo dúvidas...): dos
movimentos de moradia que nunca tem suas desapropriações por interesse
social atendidas, da reforma agrária que nunca sai, dos créditos para os
pequenos agricultores sempre em segundo plano em relação aos
financiamentos para os agronegócios, nos Afifs, da reforma da
previdência. Nesses últimos dez anos aprendemos que a governabilidade
custa sonhos, que o carpete amortece, que é melhor negociar para perder.
Sobre as toucas e os rostos, será que os trabalhadores de
Belo Monte, que foram presos pelo exército inclusive, não ensinam que
mesmo na "democracia" podem ocorrer perseguições, prisões e sei lá mais?
Ou será que vamos fingir que trabalhadores não foram presos por lá,
porque é muito distante e que Belo Monte é uma questão estratégica para o
desenvolvimento do brasil potência.
São jovens. Podem ser de
classe média. Ora, pelotas, quem foi para a rua contra a ditadura não
tem o direito de dizer quem pode ou não se manifestar quando se
reivindica direitos.
São estas pequenas contradições de
discurso e prática que vão minando os espaços institucionais, incluindo
os partidos políticos. Podemos até ficar perplexos, só não podemos
deixar de olhar para o próprio rabo.
E, por fim, sincera e
honestamente, não é de Paris que se manda recados. Se está por lá é
porque o que se está fazendo por lá foi considerado prioritário - sem
juízo de valor algum nesta constatação. Os arruaceiros já tinham dito
que a terça feira ia parar SP. Pelo jeito, a quinta também. Eu voltaria
no próximo avião, se fosse para tratar desta questão como prioridade.
Um comentário:
se não voltaram no primeiro avião é pq são medrosos !! os 2 !!
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