Comiserações de Uma Mente Aparvalhada
Dias e noites e noites e dias. A velha e boa amiga, não tão boa, é verdade, insônia reverberava nas idéias confusas e complexas. Havia um cansaço físico, um esgotamento muscular, um sono petrificante consumindo as outras horas do dia. A vontade era de abrir a primeira caixa de remédios e uma dose cavalar para trazer o sono. Uma idéia idiota, reconhecia a razão. O problema era outro.
Afinal, já não conseguia esconder para o próprio consciente o que o inconsciente já havia reconhecido, talvez em algum ano perdido da década anterior. Era chato repisar a infelicidade crônica, da qual ele não mais conseguia fugir. Tentou algum entorpecer. E ao acordar a dor foi maior. E mais aguda. Pontiaguda.
Naquela noite decidiu que era preciso se reinventar. Recriar. Renascer. Percebeu, em lenta ruína, e entre impropérios desferidos pela acidez estomacal, que este era um discurso tolo, ingênuo, tosco e frágil. Tão frágil quanto a louça despedaçada no café da manhã. Sentiu piedade e logo em seguida, ódio. Era a constatação febril e irremediável do beco sem saída.
Caminhava exausto pela casa, sabedor da companhia indelicada do sono difícil e do transpirar em excessos. Sentia, agora, o mundo inteiro. Neste processo de flagelação quase despercebida, de depressão aterrada e de teimosia infantil resolveu mais uma vez que era hora de reagir.
E naquela noite não ligou a televisão, não abriu o pacote de batata frita, não devorou o pote de sorvete e não dormitou ouvindo os salmos de salvação e alguma benção ou as fofocas de ocasião que preenchem as programações noturnas infernais do aparelho de tevê. Foi escovar os dentes. Um pijama. E pensou em andar de bicicleta no parque. Não era nada, sabia. E não era o fim, tinha certeza.
07. setembro.
5 comentários:
O fim só existe num caso. É a única certeza que temos na vida.
Pra todo o resto, existe sempre um recomeço, um reinventar, uma saída, uma luz.
A reação é fundamental para a vida.
Vivamos!
Puxa! Mais um que inspirou. Vamos lá...
Noites insones. Idéias e pensamentos desconexos que insistem em chicotear a mente sem deixá-la descansar. A proeminente certeza dos mesmos erros cometidos. O azedume do travesseiro causado pelo suor em excesso. Os mais nobres sentimentos provocadamente diluídos. E a negligência justificada por uma amargura assumida e instalada, que ganhou casa, comida e roupa lavada.
Setembro. Independência e início da Primavera. Tempo de florir, e desabrochar. Ânsia de viver. Tudo. O que ficou pra trás e o que está por vir. Ao mesmo tempo. Sem nada deixar passar. Intensamente. Impulsivamente. Incansadamente. Emoções. E dúvidas.
Tardes de sono. Resquícios. Cansaço fora de hora. Companheiro da mesmice e inacabada insatisfação. Descontentamento. Falta de discernimento. Confusão. E preguiça.
Cumplicidade exacerbada. Objetos espalhados por toda a casa que carregam as marcas de um tempo impressas. Espaço delatado. Permissividade. Saudade? Repulsa e compaixão. Incoerências. E contradições.
Manhãs de sol. Andar de bicicleta ainda parece a melhor opção. A brisa na cara. Disposição. Transpiração. Limpeza. Leveza. E o sorriso reacende.
É por aí...
...Música me alimenta, portanto tudo me lembra alguma música, ou alguma música sempre me lembra tudo.
...Lembrei-me de uma moda de viola, perdõe-me se me engano, mas acredito que é do Renato Teixeira que diz assim:
"Amanhecer é uma lição do Universo, que nos ensina que é preciso renascer...
...O novo, amanhece..."
Abçs.
Lilica.
os melhores textos são feitos em momentos de insônia.
É angustiante quando percebemos que há mais de nós nos outros do que em nós. Aquelas lembranças, pedacinhos de momentos, levados por uma decepção ou qualquer outro motivo que venha a ferir. De repente, procuramos onde estamos e não achamos a razão para encontrar.
E o que resta? Caminhar no parque, de pijamas ou sem.
Abraços.
Postar um comentário