Outro texto publicado nos Bolonistas...
http://osbolonistas.zip.net/arch2008-04-01_2008-04-30.html#2008_04-04_18_05_02-2402205-25
Mais um daquela série de pequenas histórias de futebol.
Gosto destes textos.
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Mistérios da Mente Humana
Bolonistas gratos e os outros...
Ela torce para o Pelotas, a ingrata. A desculpa esfarrapada, e a ingrata não sabe o que é uma bola de futebol, é que o pai, os irmãos, os tios e os primos todos são torcedores daquele time de lá. Aquela coisa. A ingrata não sabe o que é um impedimento, desconhece a regra três, não sabe o que é linha de fundo, mas é Pelotas. Bem feito, a ingrata está na segunda divisão.
Fui eu que a levei, pela primeira vez, para ver Fellini. Ela chorou tanto ao fim de Amarcord que eu nem pude disfarçar o desconforto. “É uma obra de arte”, lacrimejava. A ingrata depois disso foi estudar roteiro, fotografia, história da arte e acabou se formando em cinema, Nova Iorque. E está com a corda toda nessas revistas especializadas.
E nossa viagem para Montevidéu? A ingrata esqueceu que fui eu que a levei ao tango, ao vinho chileno, ao alfajor argentino. E ainda fomos curtir as férias na Praia Mole. Ingrata, esqueceu Cuzco, as Cordilheiras, Arequipa e Lisboa. Se ao menos fosse Farroupilha, vá lá. Pelotas. Pelotas, minha mãe!
A cidade tem três times. Três. O xavante, o querido e heróico Brasil, o nome de nossa paixão. O Farroupilha, e aquele caneco de 35. E aquela outra coisa, amarela. Ela tinha que escolher justo a opção do juízo final? Ingrata. E eu que sempre me perguntava quais as razões dela nunca vestir aquele tubinho preto com laçarotes vermelhos... Era por causa do Brasil. Ingrata. Mil vezes.
A ingratidão crassa. Campeia. Dilacera. Ingrata é o que ela é.
“Cubillas!!! Cubillas!!!!”
Tenho que ir. Ela me chama. Temos que pegar os dois na escola. Mas acho que vou convidá-la, pela última vez, para ver o Xavante e Internacional, lá no Bento de Freitas. É a última vez, juro. De pé junto. Ela fica linda com esse vestido azul...
08. abril, 04.
3 comentários:
Fernando, por onde você anda? Estou sentindo falta de teus textos. Espero que esteja tudo bem.
Que saudade daqui! Bom voltar!
O amor é ingrato mesmo e mais ingratidão ainda é um Xavante se apaixonar e casar justo com uma áureo-cerúlea... Ninguém merece!
Lindo texto, não conhecia.
Beijo!
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