terça-feira, 24 de novembro de 2009

Contos de Torcedor

Gosto muito, como já disse noutras vezes, de um série de textos que escrevi no "Bolonistas", o nosso sítio de futebol, que conta causos sobre torcedores e sua paixão pelo futebol.


Aqui vai mais um. Espero que gostem.


O link para o original cá está: http://osbolonistas.zip.net/arch2008-04-01_2008-04-30.html#2008_04-08_19_15_27-2402205-25.

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Zizinha, uma homenagem do pai ao cracaço que até Pelé admirava, era alegre e brincalhona. Não perdia piadas e não entrava em berlinda desnecessária. Um dia me disse que era a mulher mais sortuda do mundo, pois era Botafogo e no tricolor jogaram Sócrates e Raí, coisa que outro time nenhum do mundo ousou sonhar.


É sempre difícil contar o início de uma inimizade. Qual calo foi pisado, quem pisou antes, o pecado original e o azedo. Das agruras deste tipo todos sofremos. Alguns são pessoas normais, tranqüilas, pacatas. Mas quando há a faísca, inevitável a ressaca.


A primeira contenda entre os dois, que me lembre, data de tempos imemoriais. Disputaram, voto a voto, a presidência do Grêmio Estudantil da Escola Estadual do Clássico e do Científico Jornalista Libero Badaró, lá de minha cidade. E um ódio de vísceras nasceu entre os dois. Ela ganhou, mas foi ele que foi eleito o mais popular da escola, na votação do baile no final do ano.


Saldanha era elegante. De uma cortesia arrebatadora. Um coração do tamanho do Palma Travassos, o estádio do querido Comercial, sua paixão maior depois do chope do Pingüim.


Na faculdade, discussões no corredor eram mais usuais do que pasta de dente. Recordo com exatidão de avó a vez que um deles defendeu no pátio o presidente João Goulart. A outra, na seqüência, acabou dinamitando o plano de metas, cada espinha. Ambos foram presos, entretanto, e tiveram que sair do país. O Golpe era torpe e conseguia unir Montecchios e Capuletos no mesmo barco.


E se odiaram por cartas, manuscritos e por conversa alheia. Figadais. Nos panfletos da clandestinidade, ele defendia a estratégia da resistência, até a luta armada. Ela queria ingressar no MDB. Um dos nossos conta com exatidão matemática que se encontraram em Paris. Brigaram e quase chegaram aos tapas em razão do couvert. Ela não queria o pãozinho.


Com a Anistia ambos voltaram para nossa cidade. Quem conhece a história sabe que foi uma festa. Os dois eram figuram carimbadas nos encontros dos centros acadêmicos, nas palestras da Universidade, nos saraus, colóquios e nos botecos da cidade. Ele ajudou a fundar o PT. Ela ajudou a construir o Diretório do PMDB. Ingressaram na vida acadêmica e a trágica futrica ganhou ares de pelada: No concurso para livre docência, ambos concorreram na mesma vaga. Ele ficou com a vaga. Ela, porém, virou catedrática dois anos antes.


A rixa entre ambos faz parte do anedotário da Universidade. E virou página de jornal, fofoca de quitanda, matéria prima para rádio novela. E há partidários aqui e ali, de um e de outro. Fiori, o simpático garçom do Taberna, sempre coloca um no lado oposto ao outro, para que se evitem inclusive os olhares de esguelha.

Outro dia, pelo Correio, recebi em casa um convite delicioso, inesperado. E desejado. “Querido Amigo, temos a honra e o prazer de convidá-lo para o lançamento do nosso livro “Come-Fogo, patrimônio cultural da cidade de Ribeirão Preto”, na Choperia Pingüim, às dezenove horas do dia oito de abril. Contamos com sua presença.”. Olhei o relógio. Dá tempo de tomar uns dois antes da festa...



08. abril, 08.

Um comentário:

ex-amnésico disse...

E eu que nunca lembro (com o perdão do trocadilho involuntário!) de visitar os Bolonistas!

Obra prima!

:)