quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Na Quitanda também tem Política


Aos que frequentam este boteco, uma pausa para política.

Tema mais que importante e frequente em toda boa conversa...


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Monocórdio só é bom para quem quer dormir em berço esplêndido


Decidi. Votarei em Plínio de Arruda Sampaio para Presidente.


Antes, algumas considerações que reputo importantes. Nesta eleição temos, entre todos os candidatos, um que não pode ser eleito, se quisermos ter um outro tipo de Brasil. Um candidato que concentra a quase unanimidade das forças do preconceito: de classe, de cor, de sexo e de credo. Este candidato atende pelo nome de José Serra. É uma lástima que alguém com a biografia de Serra se preste a este serviço. Mas ele quer assim, porque deseja com gula feroz ser presidente do país. A opção pela direita reacionária é de José Serra, é pessoal e intransferível, não foi uma questão “conjuntural”. Sim, é verdade que abutres de diversas espécimes apóiam aqui e ali outros candidatos. Mas a questão central está nos fundamentos do discurso de Serra: conservador, moralista e hipócrita.


A tática da “diferenciação”, do “moderno”, do “planejador”, do “ético” não se sustenta com os fatos. A irritante constância de que Serra é o paladino contra a malta corrupta que desorganiza o país é um discurso velho, desgastado, udenista. Serra teria que explicar, ao enveredar por este caminho velho, por exemplo, a relação do PSDB com a Alstom e porque a base governista da Assembléia Legislativa de São Paulo não aprova nenhuma CPI para investigar esta trama. Serra precisaria explicar porque nomeou políticos de outros estados e partidos como conselheiros das empresas públicas de São Paulo, ganhando “subsídios” para freqüentar reuniões mensais e dizer que estas bondades são diferentes do “aparelhamento do Estado” promovido pelos outros partidos, os “não éticos”. Enfim, o discurso da “grama do outro é que é mal cuidada” enoja, ainda mais quando o quintal sabemos sujo, como os demais.


Mas a síntese do que é José Serra e sua concepção de governo podem ser as “políticas públicas” das “modernas” gestões da cidade e do Estado de São Paulo. A relação truculenta com os movimentos sociais, quando todas, simplesmente todas, manifestações acabaram em pancadaria com a polícia. A terceirização amalucada de vários serviços do Estado, num desmonte que nunca resultou em ampliação ao acesso e melhor qualidade do serviço público. E o caricato e esquecível Conde Matarazzo, ex super secretário das gestões José Serra e Gilberto Kassab na Administração Pública de SP, talvez seja o retrato mais fiel destas políticas. O conde, quando foi Subprefeito da Sé e Super Secretário Municipal, fechou albergues e mandou limpar as ruas do centro com esguichões noturnos para impedir o sono dos moradores de rua. Tudo para deixar a cidade mais limpa. O retrato da política, a síntese, o centro. Esta é a lógica que defende, hoje, José Serra. Simples assim.


Feita esta consideração preliminar, que revela em quem eu não recomendaria meu voto, é importante afirmar que a eleição não pode se encerrar nesta negação. Deve ir além. E nesta observação anoto o nome do meu voto: Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL.

Não sem antes apontar uma divergência de fundo com o partido de Plínio, e com o próprio candidato: Não, Lula não é igual aos tucanos. Não há comparações possíveis que deixem no mesmo lado da história, na minha modesta avaliação, os governos FHC e Lula. A vitória de um representante da era FHC será um retrocesso brutal na história do país, um desastre. E é por isso que Dilma e Serra não representam a “mesma coisa”. Não são.


Entretanto, não há, também, como deixar de crer que outras lutas sejam urgentes, possíveis, necessárias e imprescindíveis. Não há como aceitar a tese de que o Governo Lula simboliza o “bem” e quem for contra está “traindo” o povo, a esquerda, a história. Ora, em questões fundamentais para a construção de um novo país Lula pouco ou nada avançou.


Como a Reforma Agrária, por exemplo. Não houve uma política efetiva de assentamentos e de desapropriações de terras improdutivas e de terras de “pseudo proprietários”, que foram na verdade tomadas, griladas, “conquistadas”, usurpadas. Um governo de transformação deve ter como centro de suas ações a defesa intransigente da “função social da propriedade”. A propriedade não é um direito divino, sacro, imaculado. Há requisitos para o exercício deste direito.


Outro exemplo de tibieza foi a ausência de implementação de políticas que resultassem na democratização dos meios de comunicação. Exemplos? Proibição das propriedades cruzadas, ou seja quem for dono de jornal impresso não pode ser dono de rádio, num exemplo bem grosseiro para o entendimento imediato da proposta. Mudança radical no emprego das verbas publicitárias do Governo, na perspectiva que propaganda institucional informa e não “vende” produtos, com a destinação de recursos para veículos diversos, de preferência para os pequenos jornais, rádios e estações de tv locais em detrimento aos “comerciais” em rede nacional nos “grandes” veículos de comunicação em massa. Restrição ao direito de entidades religiosas serem proprietárias de meios de comunicação, com a garantia ao estado laico. Fomento a criação de rádios e tvs comunitárias, de alcance local. A implementação efetiva, sim, do Plano Nacional de Banda Larga, com a atuação, sim, do Estado nesta área.


Enfim, há muito o que fazer e o que sonhar. Para além do Governo Lula, sem ignorar que não podemos voltar ao tempo anterior.


Lula é um mito. Sou daqueles que admiram e que não me arrependo de ter votado neste homem, com imensas virtudes e imensos defeitos. Mas Lula, o mito, não pode ser o ponto final. Para mim, é triste ver que o PT se transformou no partido do Lula, e ponto final. É triste observar que a candidata do PT, apesar da bela história de vida e de luta, não representa o partido, representa o mito. É triste ver que ao PT coube o papel de apêndice. É triste ver o PT distante dos debates como reforma agrária, democratização dos meios de comunicação, meio ambiente, restrição às margens de lucro e taxação de grandes riquezas. É triste ver o PT enclausurado na lógica do “possível” e do “melhorismo”.


Mas a opção por Plínio não é fruto só de certa impaciência com a descaracterização do PT como partido político. Na verdade, há candidatas e candidatos preocupados em ganhar eleições, o que pode até ser a “política real”, que moldam discursos, tergiversam, vestem vários modelitos conforme a ocasião. Mas há outros candidatos que querem, nas eleições também, mudar o mundo. Uma opção legítima, mas vital, essencial, imprescindível. Pedagógica.


Plínio está onde eu gostaria de estar: Nos acampamentos dos Sem Terra, nas Marchas contra a Homofobia, nas Manifestações contra a recente decisão do STF sobre a aplicação da Lei de Anistia, nas lutas contra a implementação da Usina de Belo Monte, na batalha pela auditoria da dívida pública brasileira. Plínio não tem medo de dizer que um modelo de desenvolvimento não pode conciliar interesses inconciliáveis: Não dá para moldar a economia do país com base na indústria automotiva e querer que o meio ambiente das grandes cidades seja “respirável”.


Plínio tem sido, nas esferas de debate onde ele pode ser ouvido, porque a grande mídia o afasta propositalmente do debate, o militante político que sempre foi: Opina, mesmo que a opinião possa ser “desfavorável” ao senso comum da “opinião pública”.


Recomendo que acompanhem o “tuíter” de Plínio de Arruda Sampaio, www.twitter.com/pliniodearruda ou, para quem tem página no tal “tuíter”, @pliniodearruda. O menino de oitenta anos é o candidato que melhor entendeu este novo modo de comunicar-se.


Acompanhe e compare com os outros candidatos, que mais parecem estar num desfile de “miss” preocupados em não desagradar os jurados.


Sim, vamos dizer um rotundo e solene “NÃO” ao passado, ao candidato deste passado, que hoje é simbolizado por José Serra. Mas não podemos perder a oportunidade de sonhar, de lutar, de querer os irresignados. Por estas razões é que não podemos ignorar a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio.


Este ano, meu voto é 50.


agosto de 2010.

E podem reproduzir, política pode encher o saco, mas é absolutamente necessária.

4 comentários:

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Excelente post! Se me permite compartilhar um que fiz para o Amálgama, dando minhas razões para votar no Plínio....

http://www.amalgama.blog.br/08/2010/por-que-votarei-em-plinio-sampaio/

abraços!

Andréa Motta - Conversa de Português disse...

Gostei dessa pausa para política (Pausa? Somos políticos em tempo integral, bem ao gosto de Bertold Bretch). Ainda não sei em quem votarei, mas sei que não darei meu voto ao Serra e a razão é simples: seu partido não deixou um bom currículo quando esteve na presidência. PSDB não foi bom pra educação nem para a saúde. As pessoas perderam a memória disto para ter como falar mal do governo Lula (que teve, sim, muitos defeitos e muitas qualidades). Um aluno questionou-me por que não votaria em Serra, já que o pai dele o acha um candidato ótimo. Perguntei se o pai era professor da rede federal de ensino e lembrei-lhe de que durante o governo PSDB ficamos todos com serviços públicos sucateados por 8 anos, pois era política do partido não autorizar concursos em vários setores.

Vim tomar um gole do quodores, bebi demais e me embriaguei com seu ótimo texto! Tomei um "porre" político e falei demais! rsrs
Boa sexta!

Eliana Klas disse...

...Conversei, ou melhor, teclei contigo há uns dias sobre esta questão do voto para presidência e sobre filiação partidária.

A sensação de que o PT se tornou um partido de um homem só me incomoda...
Meu analfabetismo político, por opção, também começa a me incomodar.

Embora eu saiba que eu e muito mais pessoas, pagam um preço alto por esta ignorância coletiva , percebo que tenho optado por ela, pois a consciência política tem um ônus que eu não sei ainda se estou disposta a pagar.

...ler estes textos nos levam a refletir e a pensar em algo novo.

Enfim, grata por seu posicionamento e por alimentar em pessoas como eu a necessidade de despertar.

Forte abraço!

Ana Carolina disse...

ótimo texto!! você falou tudo que deveria ser falado... às vezes caio nessas de afirmar que Dilma e Serra dão na mesma, mas você tem razão: a candidatura do Serra é absolutamente mais assustadora... obrigada pela delicadeza, eu te admiro!