quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"Você não me ama..."



Mais duas... que contam a mesma saga...

Do Pequeno e do Grande...

Ó lá, vó...

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Original, aqui: http://www.facebook.com/Quodores/posts/161888833944463


A verdade oculta na frase: "Ai... como seus filhos são fofos."

6:45: "Meninos.... vamos acordar, vamos..."

6:55: "Ei... posso acender a luz? Vamos levantar, vai!"

7:05: "Já são sete horas... vamos..."

7:15: "Bom dia, filhão. Tudo bem, alguma novidade?". "Bom dia, pai. Sim... não tenho novidade." (e ri da minha cara). "Cadê seu irmão?"...

7:20: "Filho, levanta... já são sete e vinte..."

7:30: "Filho, toma o remédio. E vai escovar os dentes, anda.".

7:35: "FILHO... Acorda, vai... são sete e meia! Vai chegar atrasado."... "Pai, você me obriga a tomar café da manhã, eu não quero...". "FILHO, LEVANTA E TOMA O CAFÉ."

7:40: "Pai... tô pronto." E se encaminha ao quarto e diz: "Se você não levantar, eu vou pegar o seu gibi, láralálarála.".... "Filho, deixa o seu irmão em paz... e FILHO, LEVANTA."

7:41: "Pai, você não deixa eu viver. Só quer que eu tome café da manhã!"

7:45: "Filho, nós estamos muito atrasados. Levanta logo e toma este café."

7:46: "Pai, eu não te amo."

7:50: "Renata Ferreira, você pode levar o Grande para a escola."

7:51: "Pai... porque na casa da minha mãe..."..... "Eita, nem vem com este papo! Toma este café.".

7:52: Com lágrimas nos olhos: "Pai, você é um monstro."

7:53: "Tchau, filho. Tchau, Rê. Obrigado. Bom dia. Bom trabalho."........ "Tchau, pai."...... "Filho! Deixa o gibi do seu irmão aqui, por favor, né?"....

7:54: "Tchau, Rerê. Beijo. Mas paaai, não quero o pão."

....

7:58: "Vamos... vamos... seu irmão já foi e você está muito, mas muito, mas muito atrasado."..... "Pai, o São Paulo ganhou ontem?"... "Ganhou, golaço do Lucas.... mas....PARA DE ENROLAR!"

7:59: "Pai, não quero tomar o iogurte." "Ok... vai escovar os dentes e vamos embora."

....

8:10: "Chama o elevador, filho."
....

8:25: Na porta da escola: "Tchau, pai. Um beijo.".

8:26: "Tchau, filhão, mas... anda... anda...anda... cê tá atrasado."

E saiu rindo janela. E eu também. Puta sono.



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E a outra...



Original, aqui: http://www.facebook.com/Quodores/posts/165813973551949
Mais uma da série "Os cafés da manhã"

"Pai... você prefere que eu morra ao invés de não comer a fruta..."

"Filho! Que bobagem. Não fale uma coisa dessas, nem brincando."

Olhei para ele, com aquela cara de passado, mas com um baita sorriso no rosto, sabendo que tirava onda com a minha cara... e, então, complementei:

"Mas... come a banana, vai."

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Um guia perolar de viagem




Aqui na Quitanda também tem guia de viagem...

Como estou de saída para o Guarujá, sede de recreio da mercearia, recuperei uma missiva para dois grandes amigos, o Doutor Marcello Fraga e a Enfermeira Chefe e Única Responsável Renata Bortoleto.

Fiz umas adaptções no texto original...

Mas o "guia" segue aí. 

Espero que possa um dia ser útil...


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Desejo, com o coração pleno, que façam boa estada na “Pérola do Atlântico”, alcunha simpática da Ilha de Santo Amaro, popularmente conhecida por seu nome oficial: Guarujá.


Parte I – Localização e Dicas Específicas sobre como chegar.

Como chegar: Ao fim da rodovia Piaçaguera (nome oficial Rodovia Cônego Domenico Rangoni) chega-se a um semáforo. Entrem a esquerda (Av. Santos Dumont) Nesta avenida sigam reto, em direção a Praia das Pitangueiras (Centro). Passarão por debaixo de um viaduto (e a Avenida passa-se a se chamar Puglisi). Sigam em frente. Passando uma enorme agência do banco laranjão, a direita, atenção. Entrem a direita na Avenida Leomil (como referência, na esquina da Leomil com a Puglisi há uma “Maria Fumaça”, um velho trem enclausurado para exposição). Na Leomil, em frente toda a vida. Esta avenida tem um canal que separa as pistas. Sigam até o fim da Avenida e avistarão a praia das Pitangueiras, uma das mais belas praias urbanas deste território guarani. Ao fim da Leomil, entrem a direita, sentido Praia das Astúrias.

Neste trecho subam o morro (notem ao lado esquerdo, na pista contrária, o Edifício “Sobre as Ondas”, marco da arquitetura modernista). Seguindo reto e contornando o morro vocês vão cair na Avenida General Rondon (logo no começo dela, ao lado direito encontrarão um colégio Objetivo). Esta avenida tem o restaurante “La Plage”, que vende desde feijoada de frutos do mar até pizzas, passando por filés a cavalo e banana flambada, o que denota que quem sabe tudo pouco sabe – com exceção do Doutor Marcelo, óbvio.).

Nesta avenida sigam em frente, sentido Praia do Tombo. Passarão pela padaria “La Plage” (Sim, a La Plage domina tudo ali – o café lá é razoável e o pão francês só sobrevive cinco minutos depois de sair do forno, depois vira borracha). 

...

Chegando... 


Parte II – Notas sobre o Bangalô e dicas de utilização


O lar dos Amaral fica na praia das Astúrias. Uma sala ampla - com ventilador de teto e uma mesa para refeições de respeito, um banheiro amplo – com espaço para as mais diversas práticas esportivas, uma cozinha simpática e equipada, área de serviço e um quarto bem amplo equipado com maravilhoso ventilador de teto e um possante ventilador velho de guerra. São estas as acomodações do pequeno chatô.

Evidentemente, por ser um enclave do território Amaraleano, há muitos gibis do “Fantasma” para leitura. Mas o equipamento de som não é lá essas coisas, só dá para ouvir os jogos de futebol e as estações locais de rádio. A televisão é pequena e a imagem, uma bosta. Mas férias não são destinadas para assistirmos novelas, correto?

Na cozinha, infelizmente, uma porta despencou no armário que guarda pratos, copos e outras cousitas e ainda não foi feito o devido reparo. Mas no mais tudo funciona a contento, inclusive o micro-ondas (não sei se esta grafia está correta seguindo as novas orientações do vernáculo pátrio). O fogão é a gás e se o gás faltar, o nobre e elegante zelador do Edifício dispõe de reserva ou do telefone do serviço de entregas a domicílio deste importante item.

Não se assustem se na cozinha encontrarem a especiaria conhecida como “cravo da índia” espalhada pelos cantos. Segundo a crença da matriarca da família Amaral, o cravo afasta as formigas. Notem que não encontrarão formigas no recinto, o que deve ser uma prova quase científica de que Dona Maria Helena tem algum conhecimento na área de prevenção.

Na área de serviço há uma pequena, mas resistente e com serviços prestados que merecem láureas diversas, máquina de lavar roupa. Na emergência, mandem ver. Há cadeiras e guarda-sol, também.

As tomadas 220V estão assinaladas pela casa. Se minha memória não estiver equivocada somente duas tomadas tem esta voltagem: a da cozinha, sobre a pia, e a tomada alta localizada no quarto. Os aparelhos eletrônicos destinados a afastar os insetos podem ser utilizados nas duas voltagens. Não me lembro se há refis disponíveis, entretanto, para os mesmos (os aparelhos, se não entenderem a frase mal escrita).

A cama de casal tem um irritante colchão ortopédico, que matriarca e patriarca consideravam o ideal para as férias. É duro para caralho (como um caralho, se preferirem esta expressão). Não se acanhem, portanto, em utilizar os colchões para amenizar o impacto. Ou enfrentem o descanso na tábua, que mal não fará.


Parte III – Dicas sobre a Pérola do Atlântico

A cidade tem boa estrutura.

As praias mais próximas, a pé, são as Astúrias e a do Tombo.

A das Astúrias, que vocês chegam pelo calçadão que fica em frente a padaria La Plage, tem mais prédios e tem boa estrutura. É fácil encontrar barracas que emprestam cadeiras e guarda sol para os banhistas. Gosto de ficar na barraca do “Negão”. Mas outras também tem o mesmo serviço. A caipirinha é de limão, não inventem moda, por favor. E tem pastel, que pouca fritura não leva ninguém ao céu.

A do Tombo é mais bonita. Apesar do mar mais brabo e de ser uma praia de tombo (levem as pranchas, a praia é muito freqüentada por surfistas e pelas namoradas e namorados dos surfistas), a praia é muito simpática. Há bons quiosques por lá. E há um bistrô irregular no prédio de um hotel – irregular porque as vezes acerta bem e as vezes erra... – que vale a visita.

Para frente da Praia do Tombo, indo de carro, há a praia do Guaiúba. É bonita e tem ótimos quiosques (peixes bem feitos e bem servidos, cervejas estúpidas de gelada). É uma praia “fechada” – o carro vocês estacionam na avenida que dá acesso a praia. Vale conhecer, mesmo.

A praia das Pitangueiras é a praia central. Dá para ir a pé das Astúrias, inclusive indo pela areia, sem subir o “morro”. É bonita e tem ótima estrutura, tanto de barracas como de restaurantes a beira mar.

Para frente, seguindo das Pitangueiras, tem a famosa praia da Enseada (praia grande, com casarões. Tem bons quiosques.

Depois, tudo de carro, há as praias de Pernambuco (para muitos a mais bonita da Pérola, com casarões diversos (astros de "Caras" incluídos), Iporanga e outras. Se tiverem tempo e disposição, são praias “elegantes”.

O Guarujá não tem “choperias” como a mítica “Heinz” de Santos. Há, sim, bons restaurantes.

Entretanto, um dos chopes mais bem tirados do planeta Terra, gelado e impecavelmente colarinhado, é no Chope Halle (na avenida da Praia de Pitangueiras – Av. Marechal Deodoro da Fonseca 1520). Tem bons pratos alemães!!! Dá para ser feliz, sem receios.

Um puta restaurante, de babar, é o Joca´s. Fica na estrada para Bertioga, km 12. (que se chega indo pela praia da Enseada, Pernambuco, Perequê (nesta praia, de pescador, tem bons restaurantes para frutos do mar e pescados em geral). O Restaurante do Joca é de phoder a biela. A porção de marisco “lambe-lambe”, para começar, e cerveja gelada. Há vinhos no cardápio. O problema? É caro. E relativamente distante. E não dá para não ir de carro... o táxi é salgado... alguém vai ter que não beber... enfim... dramas.

No centro, há no final da Rua Rio de Janeiro, diversos restaurantes. Nenhum de arrebentar, mas todos razoáveis. Também no centro o “Limontino” que fica numa rua que sai da avenida da praia, próxima do Rilocenter Pitangueiras (lojinhas) pode ser boa opção para “romance” – tem música ao vivo a partir de quarta ou quinta feira). Na rua do Limontino há uma padaria bem melhor que a La Plage...

Havia uma filial do Dalmo (de Bertioga) na rua da praia da Enseada. Quando fui, século passado, era muito bom.

Como sei que o casal gosta da arte do cozinhar bem, algumas indicações: Nas proximidades do prédio, indo para o Tombo, há um mercadinho que tem produtos melhores do que os vendidos na padaria La Plage. Nada de excepcional, mas para encontrar horti fruti, frutas, temperos, pode ser uma opção.


No centro há um super mercado, no último trecho da Av. Puglisi antes da praia, que costuma ter produtos frescos e de boa qualidade.

Há um hiper mercado que tem boa variedade de produtos, embora caótico, (fica na Av. Dom Pedro – aliás, na Avenida Dom Pedro tem o “Alcide´s”, um baita restaurante de pescados – O Javali Ussit adora.)

Na Praia das Astúrias, no sentido contrário ao da Praia das Pitangueiras, onde há barquinhos de pescador ancorados, vocês estarão no caminho de uma boa peixaria: Saindo da praia – perguntem por lá, não vou conseguir explicar direito – no sentido do morro que separa Astúrias do Tombo. Sempre saíram de lá boas espécimes marinhas para o consumo na história dos Amaral.

Se tiverem de saco cheio do Guarujá, não se afobem. Na avenidona do canal, próxima do prédio, descendo no sentido contrário ao da Praia das Astúrias, vocês vão chegar numa outra avenidona (estrada qualquer coisa). Entrando a direita e sempre reto – bom trecho - vocês vão chegar na avenida que dá acesso ao “ferry boat” (a famosa balsa) que funciona 24 hs. Se paga na volta de Santos... E durante a semana não são comuns as filas nem para ir, nem para voltar.

O endereço do Heinz, mítico, templo, salvação da alma, é Rua Lincon Feliciano 104, Boqueirão (as melhores referências são os canais 4 e 5 e a avenida Washinton Luís). Se tiverem de saco cheio de dirigir, combinem com um táxi – preço fechado – ... já fiz isso (em tempos de antanho) e valeu a pena. A porção de canapé de alicce é de arrebentar corações.

Bom passeio, meus queridos.

Que quando voltarem, voltem renovados de espírito e com amor no coração e demais partes do corpo.

Beijos,

Amaral.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Miudezas e Quinquilharias



Escrevo bastante lá pelos cantos do feicebuqui e do tuíter. Uma das cousas que gosto de escrever por lá são as cotidianas dos meninos, o Grande e o Pequeno.

Os dois, na narrativa do pai. Histórias do dia a dia que ganham interpretações e escritas que me motivam ainda mais a escrever, abraçar, carinho, dengo e cafuné nas crias.

E a Vó Lena não se entusiasma pelas tais "redes sociais", mas é leitora do blogue...

Então, manhê, aos poucos, vou reproduzindo as histórias cá na quitanda.

Começo com duas, que são complementares.

Espero que gostem.

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Publicada no dia 03/09/2012...



A brincadeira era aquele jogralzinho... "se você não me disser o nome de alguma cousa vai haver revolução". O alguma cousa da vez era "coisas que tem na cozinha".

Os meninos, eu e a Rerrê, pizzaria, numa sexta feira, noite, já depois das dez...


Começa a brincadeira e o Pequeno solta um "talheres". Eu, muito esperto, pensei com meus botões: "Bom, para adiantar a brincadeira e a gente não ficar po

r aqui por horas e horas antes disso terminar, vou restringir as opções". E mandei: "Opa! Então, com isso, não vale mais falar garfo, colher, faca. Isso tudo é talher."

Houve protestos. Mas a brincadeira seguiu....


Prato, panela, saleiro, toalha de mesa, guardanapo, toalha de papel, frigideira, liquidificador, mixer, fogão, geladeira, micro-ondas e por aí vai. Intermináveis cousas tem numa cozinha...


Eu desisti. E passei a ser o "julgador" do que valia e do que não valia.


O Grande: "Vaso de flor."


"Filho... não é toda cozinha que tem vaso. Esta não vale."


"Pai... na nossa cozinha tem. Então, vale."


Valeu.


O Pequeno: "Chão."


"Mas, filho..."


"Nem vem pai, toda cozinha tem chão. Toda."


Valeu. E valeu janela, porta, maçaneta, teto, parede...


Depois de muitas rodadas, intermináveis, já com a conta do restaurante pedida e eteceteras e tals e cousa, lousa e mariposa... o Grande: "FORMIGA!"


"Não vale!"


"Pai... não tem uma cozinha que não tenha pelo menos uma formiga. Daquelas que gostam do açucar..."


A brincadeira continuou no trajeto para casa, com o Pequeno sonado e desistindo também.


Confesso que o Grande ainda falou "cimento", o que foi aceito, embora com muitos protestos da
Renata.

Em casa, já convencido que tinha sido uma péssima idéia tolher os talheres, o Grande vence o trem, literalmente pelo cansaço.


"Filho... agora vamos dormir, né?"


"Não posso, pai. Minha religião não permite."
 
 
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Depois de um jogralzinho, a brincadeira consiste em falar o nome de alguma coisa, do contrário vai haver "revolução".

"Meninos, mas o que é revolução?"

"Ah, pai, sei lá." -

"Mas vocẽs acham que é ruim ou que é bom?"

"Que é médio, pai."

Depois de uma sonora gargalhada, após as duas agudas intervenções do Grande, tentei explicar que revolução era algo que mudava, transformava, alterava uma coisa: política, cultura, valores, economia. Que existiam revoluções que poderiam ter conflitos, guerras e etc. Que revolução pode ser boa e pode ser necessária. Mas que tem gente que usa a palavra "revolução" para manter tudo como está...

"Não disse que era médio, pai?" Finalizou-se a discussão.

E continuaram a brincadeira. Depois da parlenda o desafio era indicar "o nome de alguém famoso"...

O Grande se saiu com "Einsten" (#paibalão1)

O Pequeno, rápido do gatilho: "Paul McCartney" (#paibalão2)

"Shakespeare" (#paisuperbalãoquerendoflutuar)

"Melão".

"Melão, filho? Quem é esse?" E o Grande emendou: "Meeelão?"

"Meeeelão, sim. Aquele que canta "Ela disse me assim"."

Já estava quase voando neste momento. "Jamelão!!!!"

O irmão: "É o Jamelão!"

Todos riram. E o Pequeno: "Isso, Jameeeeelão." (com voz engrossada).

Se alguém me encontrar por aí, de devolvam a âncora.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Paula Amaral



Este texto é de 2007. E foi publicado lá nos "OsBolonistas"... Foi feito num dia 21 de agosto, para minha irmã, a Paula. 

Na verdade, o texto era para a Pi porque é uma homenagem ao Raul Seixas, que ela gosta e muito.

Raul morreu em 21 de agosto de 1989. E por essas coincidências estapafúrdias, ele morreu em seu apartamento, cujo prédio, no térreo e nos subsolos, instalava o cursinho em que eu estudava...  E eu sempre achava que aquele cara branquelo, magro, que tomava cerveja no boteco da esquina fosse um sósia...

É... #TocaRaul.

Mas também pode ser uma lembrança doutros tempos, de tempos do cursinho, de gente querida. De tempos queridos.

"Eu que não fico num trono de apartamento... Esperando a morte chegar...". É sempre bom rememorar que valhe a pena não ficar muito tempo no trono, por mais que a "taxa seja alta" vez em quando.


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Bolonistas: Tentem Outra Vez


E já passou tanto janeiro... O São Paulo já era dirigido pelo Telê Santana. Raí já era o camisa dez, mas ainda não era Raí. Perderíamos do Vasco a final do Brasileiro, em pleno Morumbi. O Palmeiras estava na fila, ainda. O Mário Tilico tinha feito goles espíritas pelo Paulistão. O Ronaldo estava no gol do Timão. E recomece a andar.

Ouro de tolo. Era fim de tarde, cursinho. Frei Caneca. Da sala de aula começamos a ouvir violões. Uma cantoria. Músicas de um homem só. Morreu. Só podia ser isso. Aquele magrela que tomava cerveja no bar da esquina, camiseta branca, não era um sósia. Era o próprio. Era ele. Só percebemos depois das músicas. Gente sentada na rua. Muita gente. As camisetas das sociedades alternativas denunciavam. Alguns rostos choravam. A imensa maioria cantava. Fez-se uma roda na frente do prédio. Pessoas sentadas. Cantoria.

Eu prefiro ser. A metamorfose. Ambulantes. Era 21 de agosto. Era 1989. Tinha eleição naquele ano. A primeira eleição para presidente. Era outro Lula, que adorava cantar músicas dele em comícios. Eram outros sonhos. O imbecil do Gorbatchov ainda não fazia propaganda de loja de bolsa. Era o auge do fim. Da “perestroika”. Derrubaram o muro nefasto e levantaram outro, que divide o mundo entre os “modernos” e os arcaicos. Ser moderninho é legal. Tem cheiro de refrigerante sem açúcar. A velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é amor. Sobre o que eu nem sei quem sou. Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor. Era época de vestibular. Era o primeiro voto. Era a nossa estrela.

Jesus, deixa o seu pai de lado. Já se falava de Jesus como mercadoria. Mas ainda era possível encontrar outros caminhos. Jesus, vai morrer tranqüilo. Já sabem do seus problemas no Imposto de Renda. Ói... ói o trem. Vem chegando de trás das montanhas azuis do Novo Aeon. Sim, éramos todos um pouco dele. Em todas as homéricas bebedeiras do mundo há sempre alguém a cantarolar que está queimando o fumo com Zezinho no fundo do quintal da escola.

Esperando a morte chegar. Dentro de um apartamento. Collor já era o caçador de marajás. A revista “Veja” já tinha lado, emporcalhado. O João Dória Júnior, do “Cansei”, já era cansado e desfilava com camisetas colloridas e “pseudo-beldades”, de plástico. Pra lua a taxa é alta, pro sol identidade. É preciso o carimbo. Alguém sabe onde está o disco voador? Quereria ir. A mosca da sopa.

Já sabem do seu plano para controlar o Estado. Qual plano? Não pense que a cabeça agüenta se você parar. Já estamos parados, há muito. Ainda comove aquele teu chaveiro escrito “love”.

Às vezes você me pergunta por que sou tão calado. Raul, sei lá onde você está. Fica bem, meu nêgo. Hoje o silêncio é para você.

21.08.2007

sábado, 11 de agosto de 2012

Não deixe o trem correr sozinho...

A quitanda reconhece que os contos, poemas, croniquetas e fusquetas estão no forno... mas estão demorando.

Entretanto, é ano de eleição. E os meus poucos leitores sabem que na quitanda também tem política e pastel de feira.

É como boteco.

E num papo de boteco, resolvo aqui expressar considerações sobre as eleições municipais de São Paulo, cidade onde moro.

E indicar um voto para vereador

O texto é longo. Mas fica o convite.

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Sobre as eleições municipais: A Câmara Municipal não pode ficar como está.


Talvez o mais importante de uma eleição municipal seja o voto que a gente pode dar para eleger alguém para a Câmara Municipal. O tal vereador.

Sempre brinco quand
o vejo aqueles espigões, prédios enormes que rompem a harmonia do bairro sem delicadeza alguma e até com alguma desfaçatez, com uma frase: “Esse empreendimento aí tem uns dois vereadores.” É brincadeira, antes que algum nobre edil se sinta ofendido, ofendidíssimo, caluniado. Mas diz muito: Nos processos de fiscalização das ações e das políticas municipais e nos processos legislativos, é a Câmara Municipal que desempenha papel crucial para a cidade: a leniência, a conivência, a condescendência são sempre muito cruéis para com a cidade. Basta lembrar-se dos escândalos das regionais do Pitta e do Maluf. Basta olhar para a gestão Kassab e sua lista intermináveis de descasos, de proibições e de festas do setor imobiliário – A Câmara foi cúmplice em tudo. E a oposição, no caso de Kassab, por sua atuação tíbia, tímida ou inconfessável parceira, foi também responsável pela farra e pelo desgoverno.

Todo mundo gosta de esquecer a Câmara. A bem da verdade, se dá de ombros para a questão, deixando a decisão do voto e a fiscalização do exercício do mandato para terceiros e chafurdando no lugar comum de que “todos são iguais, tudo ladrão, tudo chupim.”. E a Câmara acaba se tornando uma secretaria da paróquia, apta a resolver conveniências aqui e acolá: “Tem uma árvore para podar... acho que vou pedir para o vereador fulano de tal mandar lá um ofício para a regional”. Enfim, uma lástima.

Nestas eleições, até pela característica de disputa entre tucanos e petistas - naquele papinho mole de que eles são os demônios e nós os iluminados, e vice versa – as vagas na Câmara precisam ser preenchidas com mais cuidado, zelo e precaução. A oposição que se fez ao Kassab, de uma tibieza de dar dó, dó da cidade, mostra que é absolutamente necessário garantir o contraditório, a voz destoante, a crítica, o chato e a chata, no parlamento municipal.

Assim, faço meu primeiro texto sobre as eleições de 2012 sobre as eleições para o Parlamento municipal e opino: É fundamental encontrar no voto esta capacidade de inconformismo. Um chato – ou uma chata – faz toda a diferença. Uma voz crítica eleva o debate, pode ajudar a desnudar as hipocrisias. Um voto contrário pode jogar luz numa ação obscura. Alguém que não tenha sido eleito com financiamento de bancos, imobiliárias, empreiteiras pode acordar a cidade. Basta de administrar para atender à lógica de quem financia a eleição.

Feitas estas reflexões, quero expressar minha opinião: No legislativo não dá para não votar e não recomendar o voto no PSOL. Sim, naquele partido que os jornalões chamam, pejorativamente, de nanico. O nanico que com três deputados federais consegue fazer um barulho enorme no Congresso Nacional. Três entre mais de quinhentos. Na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, terra onde nunca se instalam CPIs para fiscalizar os governos do PSDB, há um único deputado do PSOL que faz um baita barulho. No Senado, também, unzinho. Ivan Valente, Chico Alencar, Jean Wyllis, Carlos Gianazi, Randolfe Rodrigues podem ser considerados tudo: chatos, radicais, esquerdistas, moralistas. Mas ninguém duvida da seriedade com estes parlamentares exercem seus mandatos. Ninguém pode desconsiderar que nas votações polêmicas, concordando ou não com a opinião destes parlamentares, do Código Florestal à cassação do mandato do Demóstenes Torres, os parlamentares do PSOL sempre são ouvidos, ponderam, se posicionam, não fogem. Marcelo Freixo, esta raridade da política nacional, é deputado estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro.

Eu vou votar no Gilberto Maringoni . O número dele é 50.550. A página na internet é WWW.maringonivereador.com.br

Conheço o Maringoni desde os tempos em que trabalhei com a Tereza Lajolo, na Câmara Municipal, na última década do final do século passado. Às vezes, nas discussões partidárias, ainda no PT, tivemos posições antagônicas, às vezes concordamos. Mas ele sempre foi correto nas relações políticas, coerente e sempre, sempre, se posicionou. Não tem medo de não agradar, o que um enorme passo para convencer acerca da qualidade deste voto. Cartunista, faz rir com críticas ácidas e que nos fazem pensar, refletir, dialogar. Historiador. Político. Sim, precisamos de mais políticos na Câmara e menos de párocos interessados nas relações mesquinhas de poder e de manutenção de espaços e mandatos. É isso. Quem quiser falar mais de política, perguntar, debater, criticar, me procure por aqui, por email, no blogue, no boteco. Quem sabe a gente não vai numa reunião do Maringoni, juntos?

É isso aí.

12. agosto.