quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Armarinhos - Material Elétrico

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Depois de muito tempo, textos.

E como um deles é uma saca muito pesada, publico três.

De uma só vez. O boteco andava em reforma.

Ainda tem parede para reformar. Mas tá ficando bão.

E um pouco de leveza faz bem.


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As vezes fica tão escuro que não importam o sol e o céu claro, do lado de fora. A escuridão é um estado de alma. Densa. Uma ausência de luz que se constrói da inquietude, da desesperança, da inapetência, do ceticismo e do mórbido sentimento de comiseração. E, depois, este querer piedade acaba por alimentar ainda mais a escuridão, numa macabra engenharia da desilução.

Não é que não se possa ver o sol. A claridade ainda cega os olhos, queima o corpo. Em excesso pode até intoxicar o organismo. É que o sol não alcança as entranhas, não acalenta, não acolhe. Os passos se tornam miúdos, medrosos, tesos. E já não se pode mais acordar, porque deixamos de sonhar, de dormir.


É a inércia, o estacionar, o estagnar. Por outro lado, como se fosse possível, numa penumbra ainda mais escura, quase fugindo, é vagar, perambular, dormitar.

As vezes fica tão escuro que não se percebe sequer a noite. E assim não se reconhece a Lua, a misteriosa dama que nos encanta. Não há encanto. E sem encantamento, convenhamos, até um copo de água tem gosto de fracasso.

E nesses dias não há deuses, não há milagres, não há fortuna.

E antes da lápide, o interruptor está ali, bem ali. Basta um mísero e único toque. E a percepção de que o começo também é escuro feito o ventre, feito buraco negro, feito os derradeiros segundos anteriores ao primeiro "bum".

09. setembro, 08.

Um comentário:

Eliana Klas disse...

"...o sol não alcança as entranhas"

...pois é...é ai que faz frio dentro da gente...

Muito bom ver movimento por aqui de novo.
Que seja no escuro, mas que acha movimento.

Beijo.