Próxima Parada...
Seria tolice não esperar por ela. Seria uma burrice homérica, daquelas sem par. Ainda que o último ônibus partisse dali a cinco minutos. Ainda que depois do último, só na madrugada alta com quase sol. De outro dia. Mas ele tinha a estranha e irremediável convicção que esperar por ela seria a única opção racional. A opção para ser feliz.
Conheceram-se e combinaram o encontro daqueles jeitos improváveis. Ela estava comprando bolachas doces numa dessas lojas de confeitos que se espalham pelo centro da cidade. Ele escorregou, de forma patética, na porta do estabelecimento. As causas risíveis aproximam as pessoas.
Ela o ajudou. Pagou o café. E durante o café uma vontade louca de lascar um beijo naquela boca ressecada pelo frio. Fez. E dali para os corpos se atracarem foi um passo. Doze, na verdade. À distância para o motelzinho barato e com estrados barulhentos. Fizeram muito barulho. E fizeram tudo. Mesmo. Só de relembrar, ruborizou.
E combinaram, apressados, indo embora do “randevu”, se encontrarem na rodoviária. Descobriram a estranha coincidência de não terem destino certo, além da intensa vontade de serem felizes. E ele tinha um bilhete para longe, entrevista e emprego certo, para finalmente ganhar independência. E ela, a intensidade exata. Daria tempo de conversar, se conhecer, trocar experiências, beijos, carícias e os lençóis. Parecia a única coisa correta a se fazer. A única. E a certeza dele se firmava em todas as lembranças dos lábios e dos arranhões que ainda doíam nas costas. E a certeza da alma, devorada e apaixonada.
O último chamado. O bilhete na mão. Motorista na espera. Rostos ansiosos e com sono dentro do coletivo, suplicando para seguir viagem. O último. Os minutos eternos. A rodoviária quase vazia. Quase sem luz. Escura. Olhou o bilhete pela última vez. O entregou ao diligente motorista. Acordaria, às seis da manhã, quase chegando ao destino incerto.
2008, maio.
7 comentários:
...Snif.
Ela tinha de vir.
Tudo bem que ela vindo tudo seria só mais uma história, e ele não teria mais a lembrança fervorósa da brevidade do encontro e sim a rotina que massacra quase tudo...
...Mas, nesta tarde nublada, com a alma nublada...ela não veio e trouxe mais uma nuvem pra dentro de mim.
Como sempre, seus textos mais que falar, transmitem sentimentos...
Abração.
Lilica.
Ah, quanta expectativa, heehe ..
É história, mas engraçado que a gente se envolve lendo, essa sensação da despedida foi marcante !!
Fernando, tô promovendo uma Blogagem Coletiva Contra o Tabagismo, caso tenha interesse em participar, tem o selo e as informações na coluna do meu blog .. Se não puder, sem problemas, mas desde já agradeço, abração !!
como sempre lindas palavras
vc gosta de pintura, telas
postei uma arte q fiz. gostaria q vc conhecesse... enfim...
passa no MUNDO A FORA
bjoka
>.<
Ahhhhhhhhhhhhh, adoro essas histórias de aventuras. Muito bom!
Vc escreve muito bem...atenção que não se desvia um minuto até terminar de ler tuas linhas.
Sim, encontro breve, porém, para sempre lembrado! Histórias de um só lado. Perenes, perfeitas, leves e eternas!
Sensacional!
"o motelzinho barato e com estrados barulhentos. Fizeram muito barulho. E fizeram tudo. Mesmo. Só de relembrar, ruborizou".
E chovia lá fora. Muito.
O mundo caia. E eles ali...
Fernando,
Prosa Poética Excelente. Deliciosa.
De resto, olhos hipnotizados pelo texto, sorriso de Monalisa e emoções (re)mexendo o peito.
Vanessa
Postar um comentário