segunda-feira, 5 de maio de 2008

De casórios e de casamentos



Originalmente, nos Bolonistas.

http://osbolonistas.zip.net/arch2007-04-01_2007-04-30.html#2007_04-28_01_20_59-2402205-25

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Bolonistas dos Campeonatos Regionais em fases decisivas...


Quem não se emociona com Altemar Dutra não é pessoa confiável. Simples, assim. Esta era a opinião central de Cróif sobre o mundo dos homens. Não, não errei. Cróif nasceu em 1974, sagitariano, batizado assim em homenagem ao maior jogador de futebol da história da Holanda. Aliás, um dos maiores futebolistas do globo, um assombro. Evidentemente que houve erro na grafia, no cartório. Mas este fato é de pouco relevo.


Cróif nasceu e em pouco tempo revelou sua natureza dócil. Era, desde menino, um cara legal. Supimpa. Boa gente. E galante. Com cinco anos já roubara flores para presentear a vizinha, de sete. Da vitrola do pai conheceu clássicos do repertório romântico. E foi e cresceu desse jeito. As suas paixões eram três, além da música: Filme do 007, mulatas e a Associação Desportiva Confiança. Esta última lhe tirava o sono.


Me contaram um dia, nesses dias de boteco, que Cróif era daqueles lunáticos, sabedores dos dezesseis títulos da Confiança no Campeonato Sergipano de Futebol, das melhores campanhas do time no Nacional e que somente vestia azul ou branco. Era febril. Mas a febre não o impedia de ser um cara normal, exceto no futebol.


Pois bem, o fato curioso foi que em um dezembro qualquer Cróif chegou cabisbaixo, macambúzio e ranheta e sentou-se na mesma mesa cinco do nosso bar predileto, seja ele qual for: "Vocês não sabem o que eu descobri...". Confesso, temi. Só podia ser por causa dela...


"Ela vai se casar." Senti a primeira pancada. No estômago. "Ela vai se casar e vai ter festa." Aquilo roeu minhas vísceras. O cara ia desmontar e ia ser aquela cena no boteco. "Ela vai se casar, vai ter festa e porra... eu vou ser o padrinho!!!". Senti náusea. Vertigem daquelas. E, batata, o cara desandou a chorar, daqueles choros que contaminam, que enlouquecem, que arrebentam.


Impossível deixar de divagar. Bar é local de história triste? Sacanagem. Juro, vou me regenerar e parar de beber. E nesse pensamento fortuito vocês nem desconfiam, nem sequer imaginam o que aconteceu. E posso dizer, testemunhei. Lá pelas tantas, umas quinze tulipas, duas doses de "steiéguener" e muita choradeira, música de corno e impropérios múltiplos sobre os nubentes, entra uma mulata escultural, anormalmente bela e ébria, vestida dos pés a cabeça com o segundo uniforme da Confiança, um branco sublime, bestial e estonteante:

"Eu não acredito, você vai deixar eu me casar com ele, seu tapado!!!!".

2007. abril. 28.

Um comentário:

ana marconato disse...

adorei essa história! me fez lembrar um texto do eduardo galeano, "crônica da cidade de havana". você conhece?