sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Poemetos para Amores Pardieiros


Mais uma série de poemas e poemetos... encontrados por aí, em anotações, colhifos aqui e ali, entre uma escutadela e outra numa conversa alheia, de metropolitanos, bares, ônibus, filas...


São os "Amores Pardieiros".


Este é o primeiro que sai do forno.


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Deixou um bilhete...


"Beijo roubado.

Com gosto de saudade.

E se desse, ainda, uma chave de quarto de motel barato.

Porque desejo fica assim batucando.

Como o samba dum lábio rosado,

De língua, molhada.

E língua e molhada e libido, escancarada."


E se perguntou: Será que ainda alguém lê bilhetes?



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

E a lição de casa?


A oitava edição da Blogagem Coletiva #DesarquivandoBR.

E desta vez recuperamos a memória de um dos momentos mais funestos da história brasileira: O Ato Institucional número 5. O AI5, de 13 de dezembro de 1968.

A convocação da blogagem, aqui: http://desarquivandobr.wordpress.com/2013/12/05/convocacao-para-a-viii-blogagem-coletiva-desarquivandobr/

O Brasil precisa recontar sua história. Pedagogicamente. Insistir em recuperar dados memórias, histórias, fatos. E gentes.

A ditadura civil militar brasileira é das piores máculas. Mas ela ainda marca, cada um de nós. Nossa apatia, nosso conformismo, nossa crença de que não vale a pena. Nossa baixa estima. Nossa mania de acreditar que somos assim por alguma força divina, genética,  molecular. A impunidade dos agentes da ditadura, que torturaram e mataram, é a impunidade dos agentes de estado que torturam e matam. As covas de opositores do regime são as covas dos fora-da-lei, dos negros, dos pobres, dos indigentes. E  AI 5, funesto, são as prisões abarrotadas, os presos sem o devido processo legal - os presos pobres, os que são presos por portarem vinagre, por roubarem doce.

Não nos esqueçamos. Fingir que não existiu, menosprezar, relativizar, não é deixar de ter pesadelos. É só, e somente só, fugir: de nós mesmos.

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Levantou o braço, esperou. A classe naquela algazarra de fim de semestre, fim de ano, fim de provas, festa. Uma solene bagunça. A professora tentara, um pouco, ainda, cumprir o programa. Mas nada mais seria possível, desconfiava. Mas ali, no canto, um braço erguido. Também solene.


Como que aquelas cousas sempre ficam e marcam e restam, o braço erguido ali queria dizer algo. O barulho foi aquietando. Um e outro cutuco. Um  “olha lá”, “que será?”, “o que é?”. Alguma curiosidade. Alguma incredulidade.


Pois bem. Silêncio. A bola voltara misteriosamente para a professora. Que tinha a senha. Mas tinha lá seus receios... afinal... o ano já estava ao fim, acabando, findando, cansaço, adeus, até o ano próximo, boas festas.


“- Posso ajudar?”

“- Professora, o que foi o Ato Institucional nº 5?”.


A classe fez um muxoxo. Será que ainda teriam que mais um pouco de aula? Será que todos já não estavam com seus devidos sacos repletos de impaciência e incontinência? Ato institucional... E ainda por cima o cinco? E o um, o dois, o três e o quatro?


Mas antes de voltar o zunzunzum... 


“- Minha vó morreu por causa disso. Meu avô também, de desgosto. E meu pai até hoje dorme com a luz acesa no quarto. Explica, professora, por favor...”


Morte, desgosto, luz acesa  para dormir e a confissão explícita de alguma vergonha, medo. Eram tópicos que qualquer aluno saberia relevante, importante, preocupante.


“- E eu li que este AI-5 faz aniversário hoje, professora, 45 anos.”


A professora respirou fundo. Sabia que não escaparia: o silêncio na classe.


“Não foi só sua avó que morreu. Fomos todos nós, um pouco. Nem seu avô, fomos todos nós, mais um pouco. E a luz acesa, a única capaz de acalentar o pesadelo do seu pai, também é este silêncio aqui... porque tem muita gente que só consegue dormir porque desconhece a verdade. Porque muita gente não dorme mais, há tempos. E porque nós, nós todos, o país inteiro, ainda não tivemos coragem de responder a esta sua pergunta.”


E desatou a explicar. Não só o ato e aquele distante 13 de dezembro de 1968, mas também.

O silêncio da classe, as lágrimas de alguns. Sim, os risos e a indiferença de outros. Mas que agora não eram fruto de alguma ignorância ou desconhecimento.  


“-Obrigado, professora.”




quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Pequena Declaração de Contravenções Luxuriosas de Um Leitor Assíduo





A primeira vez que te li, confesso, quis te despir. Palavra por palavra, desvelando, jogando aos cantos os pedaços de frase, as ideias, as rimas, o colóquio, o devaneio, a firmeza, brinca, doçura, bronca. Esmiuçando. Nuas, todo e toda.


E arrumar uma desculpa furtiva para no meio da tarde, e as tardes são sempre as melhores praias para sonhos de paixão, crime de adultério, voyerismo e observações de corpos, corpo e textos, correr para te ler, em forma de poema, conto, tolice, crônica, paisagem, fofoca, opinião, carinho, delírio, olfato, tato e paladar.


Sim, tudo isso é pura platonice. Tem uma distância de fios, conexões, ondas, curtas, médias, longas. Sim, também é conspiração para sair da rotina, escapulir das linhas habituais, correr fogo das faturas, libelos, construções de cimento e só. Mas é assim mesmo, platonice. Há quem diga que a alma se alimenta assim. Não duvido.


Das coisas que ando a aprender, na minha intensa resistência ao pós, a pós, ao caos, é que tudo nestas modernidades tem lá seus lados de profunda destruição mas de intensa construção. Não é só a disputa, não é fim, nem meio, mas creio caminho. São noites de insônia, dias de calor, cobertores de orelha, são calabocas, calabouços, porões. E são doce de leite, jornal da manhã, bolacha com café, pé com pé, remédio para fígado, soco no estômago, máquina de escrever e fotografar. Mas não parem de escrever, aparecer, tocar. A primeira vez que te li, confesso, sem pudores, despudoradamente, quis te despir. Letra a letra, peça a peça, misturar frase com crase, arroz com feijão, nexo com rima.


Vão dizer que tais observações e declarações assim podem causar ciúmes, posses, dores, dissabores. Aos que dizem, é caso de pensar na tecla “delete”. Deleite, assim, tem que ser. Despir, assim, nunca pode ser pecado. 

Posso continuar tirando tuas roupas? 


2013. novembro, 14.




quinta-feira, 24 de outubro de 2013

E quando o palhaço não ri, nem chora...?





Alguém já observou alguém andando por aí com a alma despedaçada? Sim, alma. Não, não estou a falar de algo esotérico, sobrenatural, religioso, palco, confete, pudim de leite ou pão. É alma. Aquilo que nos dá, a todos, um cadinho de sustância. Que dá a vida um sentido próprio e não mero adjetivo.


As almas estão por aí, a preencher, a recuperar, a comer, a amar, enamorar, chorar, gritar, dor, prazer, gozo, choro, vexame, coragem, medo, raspa de açúcar, limão na pinga, gelo, verbo. Quem não as tem, vaga. Vazio. E os que as têm despedaçadas parecemos trôpegos, vacilantes, macambúzios, diminutos, vesgos nos trilhos.


Sabe-se lá por quais razões, a alma. E ela está nas gentes mas está nos discos, nos copos, nas mesas de boteco, nos brinquedos de criança. Sem ela tudo fica um pouco propaganda de lanchonete de fast food americana de palhaço: “amo muito tudo isso”, como que amor fosse algo prensado, insosso, mastigável somente, médio, meridiano, tombo e até o palhaço causa fobia.


Todos nós conhecemos estes fatos, estes devaneios. Podemos, cultos, impolutos, inteligentes, dar outros nomes... chamar psicólogos, terapeutas, linguistas, engenheiros, médicos e até os advogados para dar tratos à bola e definir esta verdade universal, talvez a única, de que há a alma, sustância, firmamento, essência, razão de.


Pois bem, o São Paulo havia perdido a sua. Sim, o time. Que o assunto todo desta prosódia é mesmo o futebol, o ludopédio, a pelota, a bola, a gorduchinha, ripa, chulipa, driblou, apontou, guardou, balançou a roseira, tá no placar, é rede, oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas. E até os azulejos do paço reconhecem que um time sem alma é um vagar eterno pelo purgatório, um velar de bicho, uma escuridão sem destino. Nalgum canto desses campeonatos por aí, bastidores, eleição, reforma de estatuto, arrogância, soberanos, que tais, queixumes, fomos esvaziando, tirando pedaços, esvaindo, consumindo. E o tricolor, o Clube da Fé, parecia um corcunda triste, mas que não chorava.


Isso tudo foi até a noite de ontem, senhouras, senhoures, confrades. Desde o primeiro gol chileno fomos enchendo de volta, como bico de bicicleta, recuperando. Aloísio, finta e gol. Em passe de Maicon. E Rogério, impossível: uma, duas, três vezes. E outro gol chileno e a calibração, o pulso, o coração. E Ganso, açúcar, Aloísio, dribla o goleiro e gol. E Rogéeeeerio, mais uma, duas, três vezes. Aloísio, bola para Ademílson, bola mansa, toquinho, gol. E outro gol chileno. Mas aí tínhamos outra vez nossa cidadela, nas mãos do goleiro infinito. Na garra de Aloísio. No toque sutil de Ganso. E a tabela Ganso, Maicon, Wellinton. E o olhar de Muricy, lá da botica, aviando receitas, conjurando demônios, santos, deuses e deusas.


O correto não seria o pleno pulmão gritar o estandarte do “campeão voltou” ou “time de guerreiro”. Ontem foi muito mais que isso. Simples, assim mesmo. 

13. outubro, 24. 

domingo, 13 de outubro de 2013

Domingueiras...



Era moleque. E aquela música de fim de domingo, fosse a vinheta dos "Trapalhões", do "Fantástico", do "Silvio Santos" ou o vt do jogo da tarde com o Peirão de Castro ou o Fernando Solera na TV Gazeta, me deixava macambúzio.

Talvez, mesmo, algo na transição entre o final de semana e a segunda me chateie.

Ou seja só inspiração para escrever cousas...

Tomara.

Saiu este aí abaixo...

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Queria, ontem.


Hoje, não sei. E não sei se é por causa do tempero, da minha aversão ao que foi, da minha maldita ansiedade. Só sei que não. Mas ontem... queria.


Tremas deveriam voltar, acho. Eram charmosas. E a gente sabia que tinha que mexer com a língua. Portuguesa. Mas a regra da trema, e a da crase, nunca soube completa. Mas a dica, no caso da crase, é sempre colocar no masculino: ao, craseia. Mas a regra, nunca soube.


O fato mais complexo deste mundo é o porque tantas coisas ao mesmo tempo. Se a gente não dá conta de uma. Talvez ler um livro e ouvir música. Mas só talvez. Porque trabalhar e pagar conta, essa conta quase nunca fecha. É aí que domingo.


Queria, muito ontem. Hoje já não sei. Talvez seja a fórmula que encontrei para desgostar das coisas. Algo para quem por culpa. Quando a responsabilidade fica muito pesada, na verdade, quando os fatos ficam muitíssimo previsíveis. Em sua chatice, amanhã tenho que acordar cedo.


Sempre me lembro de comprar aquele perfume de vaso sanitário tarde demais. Aquele cheiro de xixi é que me rememora. Poderia ser diferente, se levasse lista para o supermercado. Mas não levo, insisto. Nas gôndolas, nas guloseimas gordas. Nos preços que não leio. Na conta que não fecha. E mesmo assim reclamo de tudo, conta, salário, mês, acordar cedo, domingo, televisão aberta, triglicérides. Podia era beber menos, talvez.


Mas o fato incontroverso, a única verdade verdadeira, é que ontem... eu queria. Nem sei mais o quê, também é verdade. Incontroversa. Desta alma que não pára de negar o acordo ortográfico. Talvez devesse mesmo era queimar gravata em praça pública, andar descalço na praia, quebrar umas vitrines de banco, foder num juros altos. Mas ainda assim, pouco me recordo, mas lembro: Ontem, eu queria muito.

13. outubro.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Perdemos o rebolado...


Tenho uma amiga, não muito linda, mas muito camarada - as vezes. Ela me fala verdades, me diz que tem cousa errada nas cousas que faço, faz planos comigo. Mas me tira a plenitude das manhãs, a safada.

É a Insônia, esta amiga.

Pois bem, temos eu e ela o defeito de assistirmos as sessões do "Como era gostoso meu cinema", do Canal Brasil. As pornochanchadas nacionais, do último quarto do século passado...

Sou de uma geração que aguardava as sextas feiras, fazendo planos mirabolantes, torcendo para que mãe, pai, vó, vô, dessem uma bobeira e a gente pudesse cansar de ver a "Sala Especial" da TV Record, antes desta emissora de tv adoecer e virar virgem e missa...


Bom.... lembrei de um texto antigo que fiz para o blogue "Os Bolonistas", uma confraria da qual faço parte, que fala sobre futebois e nostalgias... Anda meio parado, é verdade, mas há textos que gosto muito. Velhas quinquilharias.

Este tem uma nostalgia, uma saudade, um gosto de descobertas e ironias sobre a grande mudança da vida da gente na "puberdade". E do desencanto... sempre ele - é a parte que minha amiga mais confabula nos colóquios da madrugada...


Trago ele para cá, então...


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Matilde, Adele, Aldine, Hansen e Brondi; Maria Lúcia, Vera e Maitê; Nicole, Helena e Zezé *.


Bolonistas na espreita da sessão proibida das noites de sexta feira...


Inevitável. A edição de aniversário da revista trazia na capa ela, sim, simplesmente ela. Xuxa Meneguel. A namorada do Pelé. E curvas absurdamente impróprias para menores. Era uma coqueluche, a menina. Brasileira toda. Cara, bunda, peito. Cheinha, rechonchuda. Na medida. Eram os dias mais felizes daqueles anos. Que começavam nos minutos antes de entrar na sala de aula, com um futebol descompromissado jogado com latinhas de refrigerante amassadas. Depois, ainda antes de entrar na classe, ainda que já dispostos nas carteiras escolares, um breve trocar de figurinhas do álbum da copa: “Troco o Pantelic pelo Rocheteau”.

As aulas eram boas. Eram sobre a crase, a revolução praieira, o cloreto de sódio, Pitágoras e talvez um pouco de solfejos, na aula de música. Flauta doce. E nesse ritual, o recreio. O lanche. As meninas. Sim, as meninas. E por causa delas era que alguns já não sabiam mais se era o Perivaldo ou o Edvaldo o lateral reserva do Leandro. Em outros tempos esta incerteza poderia carregar o incauto para a forca.

E das meninas, às mulheres. As peripécias para surrupiar a edição de luxo da revista da coelhinha. A sorte de ter a vizinha ingênua que deixava a janela aberta. O vestiário e aquela entrada secreta, que ninguém conhecia de fato, mas todos reconheciam os detalhes. Os mais sórdidos, para aquelas mentes de “prestobarba”. Para as mãos, evidentemente.

No fim, porém, o assunto corriqueiro voltava, triunfante. Eram Artur Nunes, Paulo Roberto, Antônio Oliveira, Roberto, Sérgio Bernardino, José Sérgio Presti, Sócrates Brasileiro. Era Telê. Era o falso ponta. O volante cabeção e o volante bom de jogo. Era a goleada no Morumbi, a sova na Vila, a desfeita no Mário Filho. O Grenal. A seleção da Itália e o esquema tático da Holanda. Era a seleção brasileira de futebol, orgulho, sonho, samba e razão de tudo. Ou quase tudo.

Sem contar um ou outro, que numa pausa ao monotema e às meninas, ainda achava um tempo para falar da Campanha das Diretas, da cor amarela na janela, na moratória da dívida externa pornográfica. Lembro de um defendendo uma tal auditoria nas contas, para ver onde de fato foi parar a dinheirama toda. Outro falava de greves. De votar para presidente. E todos, ao fim, gargalhavam solenemente: “Eu votaria na Xuxa”.

Ta aí. A nossa Deusa virou pó. Esquálida, sem sal, sem traços, sem abundâncias. Uma tez tão límpida quanto intocável. A seleção nacional virou seleção de nada ou de empresa de material esportivo. Já não queremos mais auditorias, moratórias e nem roupas amarelas vestimos mais. Nem vermelhas. Somos todos uns chatos e pragmáticos. Talvez, até, mesquinhos.

Assim, ainda nos restam as meninas. Todas elas. As que ainda queremos enamorar, paquerar, desfrutar, admirar. E todas elas que nossas namoradas, amantes, confidentes, amigas, todas bonitas na essência. As meninas. E este diário se recusa a delas esquecer. Porque é perder mais um pouco da gente, mais um pedaço. Talvez o mais caro, depois, é óbvio, da memória daquele gol do Pita na União Soviética, num amistoso no Morumbi.

21.08.2008

* Obs: Matilde Mastrangi, Adele Fátima, Aldine Muller, Kate Hansen e Lídia Brondi; Maria Lúcia Dahl, Vera Fisher e Maitê Proença, Nicoli Puzzi, Helena Ramos e Zezé Mota. Um belíssimo time, sem dúvida. Acrescentaria que a técnica era a Selma Egrei.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sabia que o sabiá podia assoviar?




Porque chuva, grave, risco, inunda transborda, alaga, mata, destrói, desabriga. Mas seca, imunda, polúida, olhos vermelhos, respiração difícil, boca seca, mata, destrói, desabriga. Catarros.

Tudo o que queria era uma chuva. Podia ser fina, garoa, como o apelido. Mas aí tomam as ruas com possantes de aço e suas buzinas, todas, ao mesmo tempo. E se tem passarinhos, cantam de madrugada que é para alguém ouvir. Que dia bate estaca, furadeira, empilhadeira, martelo, escavadora, basculante, decibéis e buzinas.

Não são excessos. São só restos. Desejos de ter sido algo que não foi, a cosmopolita, a metrópole, a capital, a locomotiva, a praia. Não foi porque feita de restos, de ideologias de bunda, de sobrenomes, de heranças, de pouca sorte. Dizem que trabalho é virtude. É, mas quando sim. Do contrário é mera exploração, apropriação, aporrinhação, metrô cheio, ônibus cheio, rua cheia, horário cheio. E um vazio. E que maldito cheiro é este?

Não existe amor, talvez. Ou existe: falso, como mercadoria de rede de fast food “amo tudo isso”. Pouca luz porque ou custa caro ou não tem como atender à demanda. Ou existe: clandestino.

As vezes tenho o enorme receio de morrer minha cidade. Dizem que é o Tejo. Mas aí, a lágrima toda é outro rio.


13. setembro, 17.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

É só um jogo....

 
 
"Pai, esse jogo tá muito esquisito. A gente chuta chuta chuta e nada." O Pequeno, visivelmente impaciente.

Mas o Grande, firme. Mas sonado, bocejo, lutando.

Intervalo.

Bocejos... esparramados pelo sofá.

"Molecada, cês tão com sono. Que tal ir para a cama?"

"Vou, pai. Mas só depois do São Paulo fazer o primeiro gol."

Dali a instantes, gol. Abraços, sorrisos e tais.

"Pai, posso gritar na janela?"

"Não... não é para tanto."

E foi dormir, o Pequeno, feliz.

Já o Grande continou na sala.

"Pai, quando eu falei que ia dormir saiu o gol... e se eu for dormir e a Ponte empatar?"

"Filho... você tá com sono..."

Ele levantou.... ficou em pé na sala... a Ponte atacando.... coçando os olhos... bocejos....

"Filhão... vem aqui."

Colocou a cabeça no meu colo e dormiu.

Fim de jogo, levanto do sofá e com o movimento ele acorda. Digo o resultado do jogo.

"Ainda bem que eu fiquei aqui, pai."

...

É... filho... você sequer desconfia o quanto de "ainda bem".
 
São Paulo 1x0 Ponte Preta. Volta de Muricy.
13. setembro, 12.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Copos para licores


No último dia 04 de agosto teve fim a primeira Mostra de Tuiteratura no Sesc Santo Amaro, em São Paulo.


Participei da mostra, e foi das cousas mais legais que já vivi.

Tento recuperar alguns tuítes perdidos, porque não fazia cópia...Enfim...

Mais alguns que coletei. Espero que curtam estes acepipes cá do boteco!

E para quem tem feicebuqui, uma filial por lá deste quinquilhiaródromo:  https://www.facebook.com/blogquodores

A gerência sempre agradece!



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Desde que descobrira nela os atributos ideiais passou a cobiçá-la, platonicamente. E ela, evidentemente, não percebeu. "Quem é você mesmo?".

2010. setembro, 09.


Tinham poucos sonhos de consumo. Uma casa, dois banheiros, dois carros, dois computadores. Enroscou quando ambos quiseram dois amores.

2010. setembro, 09.


Ela sabia que ele sabia que ela mentia. Um dia, cansada de saber, disse a verdade. Ele foi embora, antes emendou: ""Mas eu nunca quis saber."

2010. setembro, 09.


"Meu amor era Ana Rosa/ Ia do Paraíso à Consolação/ E descia nas Clínicas." poemeto de resposta para o @xicosa, numa brincadeira sobre as estações do metropolitano paulista, linha verde.

2010. setembro, 13.


A moça tinha um avatar de arrasar quarteirão. "Seu avatar, muito bonito". "Gostou? É do filme, "Bela da Tarde"". Morreu um pouco. 
2010. setembro, 21.


Descobriu que o telefone móvel o conectava às redes sociais, aos amigos. Estranhou, o velho garçom ligou: "Não aparece mais?" 

2010. setembro, 21.


Depois se descobriu que o tal qual era comparsa nas farras virtuais. Mas já tarde: a senha compartilhada tinha feito o estrago. 

2010. setembro, 21


Chegou mais cedo em casa, decidido. Descobriu ser verdade o que tanto temia: Ela não tinha um caso. Só não gostava mais dele. 

2010. setembro, 28.



A xingou: "Matreira, sorrateira, fingida". Mas o principal, que lhe fazia bem e feliz, esqueceu. Virou mera anotação de agenda... 

2010. setembro, 28.


A avó, na guerra, se enamorou por correspondência. Naquilo via graça, amor romântico. Até conhecer Pedro. Por tuíte, de Portugal. 

2010. setembro, 30.


Confidenciou ao amigo, solene: "Tenho uma mania terrível". E antes de contar o amigo foi ríspido: "Se é terrível, não me conte". 

2010. setembro, 30.


Orgulhava-se, tinha vaidade, daquela relação: verdadeira, fidelidade, cúmplices. Não sobreviveu aos desencantos do primeiro hd... 

2010. setembro, 30.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Passes e Passos, para fora do mesmo compasso

Há uma profunda incompreensão quando movimentos sociais, populares, espontâneos, brotam contra governos que se rotulam como de esquerda...

E é engraçado que as reações são similares, para não dizer idênticas, aos daqueles que são rotulados como de direita: deslegitimam, criam maniqueísmos, baderna, vândalos, protestar pode mas isso aí é bagunça.

Não é fácil, não.

Porque compreender estes movimentos, mais do que uma tentativa necessária, é pensar um pouco sobre nós mesmos, sobre nossos equívocos, sobre nossas traições.

Em 2011, sim, em 2011, durante o governo Kassab, eram vereadores do PT que se diziam solidários ao Movimento do Passe Livre. A crítica era contra a abusiva majoração da tarifa, a rudeza e a truculência da polícia e cousa e lousa. Os embates entre os vereadores e a polícia foram capas de periódicos e as falas eram de que o movimento estava corretíssimo em suas reivindicações e ações. O próprio site do PT tecia comentários de apoio, solidariedade e compreensão: http://transportesptsp.blogspot.com.br/2011/02/repressao-do-kassab-lembra-os-tempos-da.html

Não se pode exigir o "monopólio" das reivindicações justas. Este é o problema central. O governo municipal está perdido, sim. Está perdido porque levou a questão da tarifa do transporte público para um debate meramente "técnico", aquele papo de contrato, reajuste abaixo da inflação e um protocolo de boas intenções, do bilhete mensal à construção de novos corredores. E aí, atônitos: "Poxa, mas tudo que é correto nós estamos fazendo e prometendo que vamos fazer. O que esses meninos e meninas querem é absurdo."

Não é. Porque o debate é político. O reajuste de vinte centavos tem impacto brutal no bolso de quem usa o transporte público diariamente. É a diferença entre o cinema e o ficar em casa assistindo ao "Zorra Total". Entre a cerveja e o cachimbo. Entre o passo e laço.

Dizem que há um problema neste Movimento do Passe Livre, que eles não tem uma liderança reconhecida que possa "negociar". Que eles são jovens de classe média, que não usam diariamente o transporte público. Que eles vestem toucas, cobrindo rostos... Cuidado, porque mais que incompreensão podemos correr o risco de reproduzir conceitos que até ontem condenávamos.

A questão da liderança e da "negociação" nos remete a um dilema sério e cruel. Em que medida as negociações com lideranças dos movimentos de esquerda não desaguaram numa retumbante diminuição de direitos ou em pequenas traições (uso "pequenas" porque eu também cultivo dúvidas...): dos movimentos de moradia que nunca tem suas desapropriações por interesse social atendidas, da reforma agrária que nunca sai, dos créditos para os pequenos agricultores sempre em segundo plano em relação aos financiamentos para os agronegócios, nos Afifs, da reforma da previdência. Nesses últimos dez anos aprendemos que a governabilidade custa sonhos, que o carpete amortece, que é melhor negociar para perder.

Sobre as toucas e os rostos, será que os trabalhadores de Belo Monte, que foram presos pelo exército inclusive, não ensinam que mesmo na "democracia" podem ocorrer perseguições, prisões e sei lá mais? Ou será que vamos fingir que trabalhadores não foram presos por lá, porque é muito distante e que Belo Monte é uma questão estratégica para o desenvolvimento do brasil potência.

São jovens. Podem ser de classe média. Ora, pelotas, quem foi para a rua contra a ditadura não tem o direito de dizer quem pode ou não se manifestar quando se reivindica direitos.

São estas pequenas contradições de discurso e prática que vão minando os espaços institucionais, incluindo os partidos políticos. Podemos até ficar perplexos, só não podemos deixar de olhar para o próprio rabo.

E, por fim, sincera e honestamente, não é de Paris que se manda recados. Se está por lá é porque o que se está fazendo por lá foi considerado prioritário - sem juízo de valor algum nesta constatação. Os arruaceiros já tinham dito que a terça feira ia parar SP. Pelo jeito, a quinta também. Eu voltaria no próximo avião, se fosse para tratar desta questão como prioridade.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Películas Protetoras, Amém.






Outro dia comprou um revólver. Disse que se sentia muito inseguro, rua escura, gente má e tudo mais que é isso mesmo que dá, que medo é assim, quando toma, contorna a alma com filme preto. Outro dia, usou a arma.


Era manhã e saindo cedo, e atrasado, suava desenganos diários: a hipoteca, a escola das crianças, o carro, o carnê da televisão mega polegadas, o carnê da carne, o desodorante, a fama que não veio, o chefe, o logro, a covardia, o atraso na hora de acordar, o atraso e não tomou café, o atraso e a dívida com a esposa, de carinho.


O trânsito caótico. Já fechara uns dois outros apressados, já passara buzinando por cima da faixa de pedestre, estava atrasado sempre pensava que nessas horas também deve levar em conta relógio, condomínio e livro de ponto, xingou a moça braço, xingou de velho, xingou de bicha, gritou. E evidente, dentro do carro era assim. É como minha casa, porra, faço o que bem entender, caralho.


Engraçado que o mesmo filme preto que encobre a alma, nos casos do medo, é aquele que cobre os vidros do carro. Tenho medo de ser assaltado e o filme dificulta que os ladrões me vejam, me notem, me invejem, cobiça, atiça, lixa. Mas é o mesmo filme que protege a mãozaça na buzina porque aquele filhadaputa me fechou. E também impede que se olhe no rosto daquela outra, que, pacientemente, deixou vez no cruzamento, na rotatória, mesmo tendo a preferencial. Não se olha nem para agradecer, é o filme que me protege. Bege, opaca, cinza, nula, óbvia, ridícula.


Mas foi o maldito que desceu do carro. Como imaginar que ele só queria conversar, veio tão bravo, tão puto, tão armado de gritos. Bom, vou dar um susto nele, abaixa, pega a arma, sai gritando: “e agora, palhaço, vai ficar manso?”. Tomou um tapa na cara. Um tabefe, que ressoou avenidas, ruas, alamedas, a moça do carro ao lado, o que vão pensar, o que vão pensar, o que vão pensar. Atirou. Pelas costas.


O mesmo filme preto, a arma, o corpo na hora morto, mote, anote: fim.

13. junho, 07.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Loja de Miudezas




Desde o último domingo, 26 de maio, ocorre na unidade Santo Amaro, do Sesc, a exposição "Tuiteratura": Textos feitos em até cento e quarenta caracteres - a regra de concisão do tuíter.

Desde que entrei no tuíter, para brincar e para divulgar o que escrevia por aqui nesta mercearia numa outra ferramenta, comecei a brincar de "tentar" contar estórias e histórias no formato proposto. No começo, as cousas saem ingênuas e a tentação é tentar rimar. Rimas não são fáceis... porém.

Percebi que o grande e estupendo barato desses escritos, os tais #microcontos é a brincadeira com o texto... o de revelar, desvelar, só um pedaço das histórias, deixando para o leitor, no ar, na intuição, as possibilidades de enredo.

Diria, então, numa filosofada de botequim, que os tais #curtacontos são pequenos retratos... quem acaba, ao começo e ao fim, desenhando a história é o leitor.

E comecei a escrever bastante #microcontos. Alguns eu gosto muito.

Tive a honra de ter oito tuítos selecionados para a Mostra!!! Foi muito bom ver essas especiarias expostas por lá.

E como bom leonino, então, resolvi recuperar os outros tuítos... esparsos e espalhados por aí. Não é tarefa fácil, porque eu nunca tinha me preocupado em salvar esses trens em alguma gôndola especial...

Então fui lá e baixei tudo o que escrevi no passarinho e preencherei as prateleiras daqui com os tais #microcontos...

Os quitutes estarão expostos por aqui, portanto.

Antes, porém, um mega abraço e agradecimento para a Giselle Zamboni, uma sonhadora repleta, que se apaixonou pelos pequenos textos no tuíter, uma paixão tão arrebatadora que a fez criar esquinas literárias por lá, como a #Letras365. O resultado? Esta paixão moveu muitos tuitocontistas, poetas, narradores, brincantes. E uma parte deste movimento está sendo exposta na mostra de #Tuiteratura. Cousa boa, que aquece.

Elegante, sem dúvida.


Cá estão os primeiros! Espero que gostem.
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Teve ideia originalíssima de #microcontos: Tuitou versinho para a amada, esperou beijo de cinema. Sobrou um tuíte bem vagabundo. 
10. agosto, 16.



Era aluno de segundo grau. Tiveram muito medo dos disparos quando descobriram que ele era um tuiter serial.... #microcontos 
10. agosto, 16.


Demorou demais para entender que não se fazia bom omelete sem quebrar ovos e o que restou, enfim, foi só o enxofre do ovo podre.
10. agosto, 16



Não vendo sonhos, mas gostaria de partilhá-los. #versificados (uma outra hashtag, muito utilizada pelo @arautonho em seus deliciosos versos)
10. agosto, 21.




Tinha um gato no meio do caminho.Tinha um gato no telhado.Tinha um gato pendurado no telhado.Tinha um gato, caindo do telhado.E agora, José??
10. agosto, 24.



Boa noite, poeta, @AgneloRoneberg. Um tuitoconto: "O difícil em SP é respirar. Não só o ar, mas os ares. Por aqui, não é o fado: enfado." (@AgneloRoneberg é desses tuitocontistas geniais, parceiro de boemias, de cálices de porto em tuíto madrugadas, ele em Portugal.)
10. agosto, 24.


Tuitava causos, piadas, poemas. Não gostava era de política. Até que um dia proibiram o tuíte. Era tarde, desconfiou. E já estava sozinho.
10. agosto, 30.



Antes, gostava do trabalho. Depois, o trabalho virou ganha pão. Só depois, então, virou cefaleia, pressão alta e enfarte. Era segunda feira. 
10. agosto, 30.



Sabia como poucos o tal ponto fraco. E foi lá esmiuçar, cutucar. Virou prazer, virou brincadeira. Conseguiu o óbvio: nunca mais se falaram.
10. agosto, 30.



Desconfiava da traição pelos tuítes desbravados. Começou a seguir, ""trollar"", ofender. Ela foi embora. E ele foi bloqueado. #microcontos"
10. setembro, 21.