quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Circular para o Centro





"Até quando?" A voz de Raimundo parecia ecoar no sertão. Seu filho de oito anos, Washington, acabara de morrer de inanição. A ração que sua mãe houvera conseguido junto aos Ferreira fora insuficiente. "Até quando?"

Agildo era um típico coronel, dono de um mundão, como ele mesmo dizia, de hectares de terra, na Paraíba e em Pernambuco. "Até quando esses malditos vão continuar molestando minhas terras?" A voz do coronel repetia uma pergunta antiga. O padre Saulo não se intimidara com os acontecimentos. "Eu em que avisei!"

Padre Saulo, moço idealista. Diziam pelo sertão e pelo agreste que ele era comunista. A comunidade de São Francisco das Graças o tinha como protetor, um homem que lutava contra as agonias da seca e a desgraça da fome. "Até quando, Senhor?" A trêmula voz do padre parecia uma sina. Padre Saulo está se despedindo da aldeia, o bispo o nomeou para uma paróquia do sul do país. "Tenham fé!"

"O bispo representa um papel importante nessa relação que sustenta a estrutura social e política nordestina. Se por um lado, a influência, até carismática, de alguns padres contribuía para o questionamento da realidade da seca, a Igreja sempre auxiliou na manutenção de um esquema de poder no país." A aula de história do professor Carlos era assistida sob os olhinhos excitados de Paulo e Fernanda. Carlos falava com entusiasmo, mas falava de um Brasil não tão conhecido pelos alunos da classe média paulistana, matriculados naquela escola. "É preciso botar alguma coisa na cabecinha desses meninos, que os façam refletir sobre a realidade na qual nós vivemos."

Paulo chegou em casa e comenta na mesa do jantar que o professor Carlos fora demitido, seu pai dá de ombros, não gostava muito dos métodos do professor.

"Eu desconfiava que isso ia acontecer".

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