terça-feira, 1 de abril de 2008

Dias quentes de verão




Confissões VIII – Olfato....



As pequenas descobertas são as melhores. Ainda mais se percebemos que as pequenas são sempre grandes descobertas. Percebemos nas pequenas a imensidão de possibilidades destinadas aos grandes eventos.


Na correria da paternidade descobrimos pequenas, e deliciosas, coisas. Meus primeiros dias foram muito agitados. Uma agitação eufórica. A mãe precisa de muitos cuidados nos primeiros dias. Precisa de carinhos e de afagos. O pequeno vai descobrindo na mãe pequenas coisas importantes para a vida dele. E o pai vai descobrindo, com a mãe, que há muitas tarefas no dia a dia de uma casa.


Cheguei em casa depois de uma dessas correrias. O pequeno chorava e era evidente que precisava de colo. E que coisa é este pequeno.....
No colo ele começa a grunhir. Vira o rosto para um lado e para o outro. E faz cara feia. E cerra os olhos. E grunhi... e vira o rosto novamente. E remexe o corpo, evidentemente, um estranhamento. Seria o pai um ser absolutamente estranho? Seria o colo do pai, que momentos antes servira de cama, um colo absurdo? Meu cérebro quase entra em pane. “Meu filho não me quer mais!!!!”


O fato é que o moço não parava quieto e desandou a chorar. O que estava acontecendo?


Agora, imaginemos o calor de fevereiro. Imaginemos, também, este calor e um supermercado. Imaginemos os esforços para carregar pacotes, carregar pilhas de coisas compradas e imaginemos os esforços empreendidos em tal jornada. O calor, as coisas, o esforço físico. Suor. Transpiração. E uma camiseta inexoravelmente fadada ao mau odor. Ou um odor esquisito. Eureca!!!!


Deixei o prantear do menino com a mãe, que estava atônita, sai correndo pelos cômodos do apartamento e coloquei uma camisa nova. Supimpa... vestimenta nova e o colo do pai voltou a ser um bom local, um porto seguro. E o menino dormiu, gostosamente, no colo paterno. Para a tranqüilidade da mãe e felicidade total do pai.


Mas o pai escondeu a historieta toda, escondeu as conclusões quanto ao odor e escondeu as reflexões que levaram a tais conclusões, temendo uma reprimenda materna: “Mas você não trocou de roupa????”


Alguns dias depois, muitas camisetas depois.... uma noitada de choro. Altos volumes e o menino incapaz de dizer o que estava sentindo. Era fome, pelo menos era o horário da fome. Madrugada. Mas a mãe não conseguia fazer o menino acalmar e, muito menos, amamentar. Retorcendo o corpo, vermelho como uma pequena bola de fogo, o pequeno resmungava e chorava.


Imaginemos um casal em uma grande cidade brasileira, numa madrugada quente de fevereiro. Imaginemos um casal novato em sua prole. Imaginemos, agora, que, até aquela madrugada, todas as vezes que fora instado a amamentar o nenê desse verdadeiras e vorazes demonstrações de apetite. A madrugada, a novidade e o chorar. Ainda mais fevereiro e o calor intenso. Calor, as coisas, o esforço físico. Eureca.....


“Mãe, porquê você não deixa ele aqui comigo e vai tomar um banhinho para acalmar....?”


Sugeri, um pouco assustado, tal medida, observando que a face da mãe estava assustada.


Batata! No retorno da mãe, banho tomado, o pequeno sugou, sugou e até cansou. Parou de chorar, dormiu e voltamos ao lar das maravilhas. Incrédula, a mãe me pergunta: “O que te deu na cabeça para pedir pra que eu tomasse banho?”. “O calor, mãe. O calor.... esse menino é muito exigente.”


Pequenas descobertas, grandes possibilidades.

2004.

2 comentários:

Vivi disse...

Uma hora a gente volta, né? rs
Finalmente voltei ao mundo da comunicação virtual. Não esqueci que lhe devo um parágrafo.

Rivas disse...

cara, muito bom a descrição... problemas simples e prazerosos de descobrir a solução...
abs!!