Texto escrito há exatos cinco anos...
Um puta dia feliz do caramba. Como hoje.
Parabéns, Pequeno.
Original, aqui ó: http://osbolonistas.zip.net/arch2005-12-01_2005-12-31.html#2005_12-10_20_49_16-2402205-25
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Time quase completo... falta pouco!
Bolonistas, domingo é dia de clássico
Esses poucos minutos que antecedem uma grande partida são só meus. Me tranco no vestiário, qualquer um, nem que por minuto ou minutos, sozinho e tento pensar. Em que? Não sei. Mas tento.
Acho que foi em Boleiros, o filme do Giorgeti, que ouvi a frase que reputo ter sido dita por José Macia, o Pepe, 405 goles com a camisa do Santos, o maior artilheiro do Peixe, pois o outro não vale. A frase era algo como "depois de tantos anos como treinador, quase o dobro que a minha carreira de jogador, quando durmo, sonho que estou jogando." Jogar, dentro do gramado, é a lembrança maior. E vejam, Pepe era o treinador do São Paulo campeão brasileiro de 1986, com aquele time do Careca, valha-me!
Daqui do vestiário, são onze e qualquer coisa da noite, penso na fase em que era jogador. E gosto e desgosto de coisas e coisas. Meu título de 82, na quarta série, vestindo uma camisa do Vasco da Gama. A vitória nas eleições do XI de Agosto. Jogos inesquecíveis passam pelas minhas memórias. Lembro dos treinadores e me dá um nó quando lembro de Vó Teresa, grande técnica. Seria bom tê-la neste vestiário. Engraçado, quando sonhamos, volta e meia, é no campo que estamos. Mas hoje sou treinador. Nós somos. Somos acometidos por aquela mania de jogador de futebol de falar na primeira pessoa do plural. Somos, fomos, fizemos. É que, neste caso, somos dois mesmo, eu e a Dani. Fizemos excelentes jogos nestes 2004 e 2005. Nosso time engatinhando num longo campeonato deu passos importantes. Daqui deste vestiário é possível notar a imensa quantidade de quinquilharias que inexistiam antes deste campeonato. São carrinhos, ferramentas de plástico, bolas e sei lá mais quantas coisas espalhadas pelo chão. Nossa, o tempo voa. Nem parece. Não parece que outro dia, neste mesmo vestiário, me peguei preocupado, perguntando se daria certo, se teríamos saúde, paciência, inteligência. É um campeonato difícil de se imaginar antes do começo e é dificílimo, depois de iniciada a peleja, de fazer quaisquer previsões. Mas jogamos bonito. O time tem jogado o fino. Escrever e lembrar desses jogos iniciais é tarefa quase impraticável. Dá uma vontade louca de chorar. Chorar igual menino jogador. E parar de escrever para abraçar.
Na sexta feira, a preparadora física, psicóloga e médica do time deu a notícia: "Leonel está pronto para a estréia." Dra Luciana, é o nome da preparadora, deu um outro aviso: " Olha, acho que temos que fazer estréia no sábado ou no domingo." Foi um baque, confesso. Esperava colocar o avante na outra rodada, noutro final de semana. Queria preparar melhor o nosso clássico armador, Marco Antônio, que ele teria uma companhia para o time. Fomos surpreendidos. Mas fizemos tantos planos para o time que é uma sensação delirante poder sonhar com a nova escalação, com o novo padrão tático, com as novas situações que o time pode gerar a partir de agora.
Do vestiário começo a ouvir o zunir da multidão de apoiantes, que é como os portugueses de Felipão chamam os torcedores. Os cânticos são ouvidos e quase vejo os rostos ansiosos de avós, avôs, bisavó, Edu, Paula, tios, tias, amigas, amigos, colegas da pracinha, bolonistas. Meia noite. Dou uma revisada no texto escrito. Não é uma tarefa fácil. Ansiedade. Para nós, quando fechamos os olhos e sonhamos, sonhamos com o tempo que éramos jogadores, mas sonhamos, sobretudo com os nossos jogadores. Daqui a pouco apago a luz, ponho o despertador. Temos hora marcada para a estréia. Vou conseguir dormir? Não. Certamente que não. Tenho cá comigo ser ateu. Mas daqui do meu vestiário, lembro de São Francisco, por razões óbvias e pela música do Vinícius que abria a Arca de Noé. Daqui a pouco entraremos todos em campo. Mais um jogo do campeonato. Desligo o computador. Já estou no túnel.
Filho, seja benvindo.
10.12.2005