segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Banca de flores

Conversa de Botequim

A cidade é bela quando anoitece. Ao menos o Largo do Arouche. Quando me disseram que ele viria, logo que desconfiei. Afinal de contas ele quase nunca vinha a estas bandas. Seria algum tipo de relacionamento passional ou algo como uma dívida de cartão de crédito? As perguntas pairavam no ar. Cheiro de flores. Arouche, centro de São Paulo.


Não muito longe dali Pedro e Rui estavam no tradicional circuito da Praça da República, hotel Amazonas. Local fértil de histórias. Algumas simples, outras singelas. Amizade, rancor, beleza. Violência, paixão, sexo e complexos. Como será que ele enfrentaria estas realidades? Todos nós éramos moleques descalços, futebol. E agora tudo difere. Fazia algum tempo que eu não conversava com Pedro. Medo? Indignação? Rui, eu sempre falava um oi. Perto dali um café, uma pausa. Jaziam-se amizades.


As flores me entorpeciam. Lúcia. Foi com aquela moça que o clima mudou. Mudou para pior. Sinto um pouco de frio. Ele nunca chegou na hora marcada. Desde a escola era assim. Tal horário e nada. Nada que fizesse esquecer daquela moça linda que nós dois conhecemos, acho que na estação Santa Cruz do metrô, num dia de chuva. Chuva que hoje não viria. Quem sabe ao certo se ele irá aparecer? Sempre atrasado.


Não me restava alguma dúvida. Nem ao menos estas de ocasião, de pensar sem razão nem lugar. Ele não viria. Comprarei umas flores para Lúcia e irei embora. Talvez as entregue para ela, talvez as coloque num recanto da memória, na minha casa. Será que este menino não tem troco para uma nota de cinqüenta? Rosas, muito óbvias. Flores brancas, destas que o perfume passa despercebido. Sobrou algum rancor? Ele certamente não virá.


Chamarei um táxi. A noite. As ruas e o largo. O troco e a chuva fina. Talvez encontre o Pedro ou o Rui no caminho do metrô, creio que falarei dele. Creio que faltará assunto. E da porta do cinema ali adiante, aquele sorriso largo, aquele jeitão de desculpas pelo atraso. Um forte abraço.
“- “Mêuu!! Tava com uma saudade lascada.“ Automático, entrego-lhe as flores.


Se a gente corresse talvez desse tempo de assistir ao jogo, naquele boteco de sempre.

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